Estava a deitar contas à vida, a ver o que tinha para fazer nas próximas horas, e ao mesmo tempo a ouvir as notícias, quando me lembrei que também havia um post para fazer e publicar.
Cocei a cabeça, sinal que era muita areia para tratar ao mesmo tempo, quando ouvi o locutor de serviço dizer que nestas férias da Páscoa tinha havido muita procura, nas agências de viagem, para destinos fora e dentro de Portugal.
Não estando muito interessado em fazer grandes viagens pelo estrangeiro (e alguns narizes de cera também nunca me seduziram) lembrei-me de duas ou três situações que me aconteceram há uns meses, cá dentro.
Tendo de passar perto dumas caves “famosas” fiz um desvio e fui visitá-las, aproveitando para “reabastecimento”. Pertinho, fica uma aldeia com uma ponte famosa: a ponte fortaleza da Ucanha (sobre o rio Varoza), que dá o nome à aldeia. Fui até lá, atravessei “a pontapé” e como estava calor sentei-me logo ao sair da ponte, num pequeno café que tinha uma esplanada. Aí “conheci” a dona do café a quem pedi uma água e com quem fiquei na conversa. Era uma senhora já de certa idade, mas toda despachada. Palavra puxa palavra e contou-me a sua vida: nascera ali, viveu uns 40 anos em Lisboa, onde fora varina, criou 5 filhos e filhas, ficou viúva, explicou os truques que usava para “vender o seu peixe” e acabamos na brincadeira porque todos os filhos são donos de agências funerárias. Cinco filhos, cinco agências. Eu disse-lhe que era uma felizarda pois iria ter certamente um “bonito enterro” ela respondeu-me na mesma moeda e por ali ficamos uma meia hora na conversa. Na despedida ela obrigou-me a prometer que iria voltar e eu disse-lhe que sim, era só avisar do funeral. Enfim, uma antiga varina ainda em boa forma.
Nessa mesma noite, (estava hospedado num pequeno hotel que ficava numa pequena quinta, numa outra aldeia) depois do jantar e à saída do portão da quinta havia um grupo de umas 8 ou 9 pessoas que pareciam estar numa reunião. Parei um pouco a apreciar a ver se descobria algum motivo para a reunião, olharam para mim também com ar interrogativo e acabei por as cumprimentar e perguntar se tinha acontecido alguma coisa. Que não, estavam ali só a apanhar ar e a gozar o fresco da noite. Gracejei dizendo que tinha julgado que era alguma reunião da Assembleia de Freguesia e palavra daqui, palavra dali, daí a minutos estávamos todos numa grande confraternização. Eram dois homens já de certa idade e o resto mulheres que daí a pouco falavam pelos cotovelos, contaram-nos a vida da aldeia e delas e levaram-nos (éramos 4 pessoas) a visitar os cantos e recantos da pequena aldeia, que tinha uns 200 habitantes em agosto e 50 durante o resto do ano. Os 150 da diferença estavam todos na Alemanha. Como já era setembro já tinham ido quase todos embora. E assim durante 3 noites fomos “obrigados” a “comparecer à reunião” noturna, a dar os passeios guiados, a visitar as respetivas casas e a saber o que faziam e onde o faziam. E só não viemos carregados com “produtos da terra” porque nos opusemos, até porque ainda íamos bater a outras portas.
Se me perguntassem se preferia ir passar uma semana a um desses “sítios da moda” eu não os trocava nem pela “varina” da Ucanha nem pelas “alemãs” da outra aldeia.
E casos como estes, tenho vários.
Muito por “isto” é que prefiro viajar cá dentro.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.