A propósito do caso das telas do Miró, de que me havia de lembrar?
Pués… simplesmente dizer… ora mirem usteds estes meus “mirós”:
Perdão, não era isto que eu queria apresentar. (Ainda que não tenha mau aspeto, não senhor…)
Vou fazer nova tentativa:
Ora cá está. Chama-se “Desconstrução 1ª” e até tem direito a uma guita para o pendurar. À parte, é fornecido o prego (carne do lombo, com pão cozido em forno de lenha).
Baseado no facto de a Terra ser redonda e de o Voltaren fazer muito bem às dores nos ossos. É uma leitura desconstruida que o autor faz da construção. Uma inovação na maneira de ler a realidade.
Em 2º lugar na lista, vem mais esta obra:
Também já equipado com a guita, mas sem direito ao prego. Para compensar leva já um pedaço de parede para a fixar. Denominada pelo autor de “Desconstrução-2b-1” é uma obra enigmática, que tem gerado controvérsia. Há quem veja nela o princípio de uma certa ordem no caos e há quem veja nela exatamente o contrário. O autor tinha-lhe chamado inicialmente “Quando as bolas têm olhinhos”, mas tal não fazia sentido, pois elas também estão descontruídas. Ultimamente há quem lhe tenha achado umas semelhanças com a arte Etrusca, mas há quem conteste essa leitura, argumentando que os etruscos não tinham bolas (o que é estranho).
Temos ainda mais este
que aparece nos catálogos como o “Palhaço Desconstruido”, é uma obra aberta que espera por alguém que a feche.
Por manifesta falta de guita para ser pendurado, também espera por uma solução O preto que parece “escorrer” da cabeça do palhaço, tem sido lido (reparem neste “sido lido”) como significando a vacuidade de tais cabeças. É uma obra considerada como menor, na vasta galeria das obras do autor. Diz quem sabe, que vai bem com carnes de caça, acompanhadas com tinto velho alentejano (velho, o vinho, não o alentejano).
Claro que isto não é o catálogo da Christie’s e portanto vou ficar por aqui quanto a miroses. Mas há um acervo considerável deles em “armazém”. Foi só uma amostra.
Aos interessados ofereço como brinde um pi-casso (ou mesmo dois, ainda estou a pensar, ou melhor, já pensei, ofereço um, a escolher entre estes dois):
Que vão ser: o 1º
nada mais nada menos que dois bustos de cavalheiros e uma noiva. Críticos duma linha mais moderna têm insinuado uma “ménage a trois”, mas há quem tenha outra leitura. Noivos com padrinho à espanhola… O azul vivo é a ligação entre os três e tem sido alvo de muitas leituras. Que cada qual faça a sua. O autor nunca se pronunciou sobre o assunto.
Há ainda este, que será o 2º, conhecido como “Chapéu de palha” – título pelo qual é mais conhecido, sendo que o título original
do pi-casso era…era…era outra coisa, de que já não me consigo lembrar.
Esta exposição, com vista à venda das obras, tem duas vantagens sobre aquela de que agora se fala.
1ª vantagem: Não há problemas quanto a eventuais providências cautelares.
2ª vantagem: a retirada do leilão não vai custar nada aos Exmos. Contribuintes, pois a leiloeira não irá pedir nenhuma indemnização, que nestes casos pode ser superior ao valor das obras. Só vantagens, como se vê.
Está aberto o leilão, façam as vossas ofertas.
(Ouve-se, nesta altura, a martelada na mesa).
Nota: mesa e martelo não estão a leilão.
Explicações finais e absolutamente necessárias:
1 - A “desconstrução” é um processo criativo inventado pelo autor, que também lhe tem chamado “processo descriativo”. Aplica-o tanto às suas próprias “construções” (leia-se “obras”) como a alheias, que lhe caiam (do verbo caiar?) no campo de ação e que, uma vez desconstruidas, passam a ser de sua autoria.
Este processo funciona como um camartelo, mas um camartelo especial, que vai criando ao mesmo tempo que destrói.
Numa palavra final: é o que está a dar.
2 – O autor tem atestados, passados por quem de direito, de que se encontra em perfeitas condições mentais.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.