Não faço a mínima ideia de quantas feiras se fazem por esse mundo fora. Locais, regionais, nacionais, mundiais, na esquina, no parque, no jardim, na “Ladra”, aqui, ali, acolá e mais além. Feiras especializadas: do chocolate às grandes máquinas industriais, do livro ao petisco, do cavalo ao queijo, da serra à planície, dos desportos de inverno às férias, disto e daquilo. Umas importantes, outras importantíssimas, outras nem tanto, outras nada e ainda outras…coisa nenhuma.
E que tal se eu “arranjasse” uma feira de noivas? Bonitas, menos bonitas, altas, baixas, gordas, trinca-espinhas, morenas, loiras, de olhos azuis, castanho, preto asa de corvo, coxa grossa, coxa fina, lábios carnudos, quase sem lábios, todas com bastante lábia, sorridentes, sorrisemdentes…enfim para todos os gostos, mas sem degustação, como se faz p.ex. nas feiras dos queijos.
Pois quem estiver interessado terá de dar um salto à Bulgária, à cidade de Plovdiv (fica a uns 120 km da capital Sófia). É aí que “durante o jejum ortodoxo da Páscoa” as famílias ciganas vendem as suas filhas casadoiras, desde que o preço lhes agrade. As informações que recebi dizem que uma noiva “pode” custar vários milhares de “aérius”.
Até parece que estou a ouvir os possíveis diálogos:
- O Tiazinha, quanto quer pela franga?
- Oh freguês, isto nem tem preço. Chicha de 1ª, selo de certificação de qualidade, garantia de dois anos, as peças todas novas e no sítio, estou a pedir 100 mil por ela.
- Valha-me Deus, Tiazinha. Por esse preço comprava eu duas ali atrás e ainda levava o cavalo e a carroça. Nem pense nisso.
- Oh freguês quer comparar este exemplar com aquelas desdentadas e de perna torta? Uma até é vesga! Apalpe lá este material. Olhe que isto foi feito com todos os preceitos, não se roubou nem no material nem na mão de obra. Foi mesmo um bico de obra arranjar um molde destes…
- Posso-lhe ver os dentes?
- Claro que pode. Oh rapariga arreganha aí a tacha para o senhor ver o esmalte. Isso! Está o senhor a ver esta brancura, este alinhamento…
- Estou a ver é que já tem os dentes muito gastos para a idade que aqui está no folheto. Tem pelo menos o dobro dos 16 anos que aqui estão…
- Oh freguês nem me diga uma coisa dessas que até me ofende! Isto é uma bezerrinha quase acabada de desmamar…
- Deve ser deve…
- Olhe freguês, por ser para si que me parece uma boa rês, vendo-lha por 80 mil e não se fala mais nisso, mas não diga que vai daqui…
- 10 mil e primeiro tenho de ir ali dar uma volta com ela a ver se se ajeita.
- Ah freguês! Tá a mangar comigo? Por esse preço só compra peças em 3ª ou 4ª mão e não nesta feira. Tem de ir à feira da Ladra e então o melhor é alugar em vez de comprar…
- Oh Tiazinha, mas o que eu queria era mesmo uma peça só para mim, para poder pôr a render. Coisa apresentável que me tomasse conta da barraca de pronto a vestir e a quem eu pudesse confiar o negócio.
- Não tenha dúvida. Não arranja melhor em toda a feira. Este exemplar vende que se farta. Eu até devia ficar com ela para me ajudar, mas temos de dar oportunidade à juventude, por isso a pus aqui na feira, à venda.
- Oh Tiazinha, não leve a mal, mas vou dar uma volta a ver se arranjo mais barato. Aquele problema dos dentes, sabe…achei-os já muito gastos…
E o diálogo podia ir por aí fora, entrando inclusivamente por “mares nunca dantes navegados…”
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Olha lá Lince: já alguma vez foste a uma feira para comprar uma noiva?