Andando eu à procura de um certo livro (hoje é Dia do Livro), de que não sei o título nem o autor, aqui na minha “organizada biblioteca”, deparo com um outro intitulado “Siga a roda” de um autor chamado Santos Cravina. Perante o meu espanto e ignorância (espanto por não saber que era dono do livro, ignorância por não saber quem era o autor), pedi ajuda ao Dr. Google, que não me apresentou as “armas de S. Francisco”, porque não deve saber o que isso é, mas também não me disse nada sobre este autor, para além duma lista bastante razoável de obras dele.
Este livro que aqui tenho (de que mostro a capa), tem na 1ª página um carimbo “Oferta do Autor” e lá pelo meio encontrei uma ficha que reza assim:
“CRAVINA (Santos) – SIGA A RODA - segunda edição revista e ampliada – Livro da colecção Romarias de Portugal Por … Coimbra 1949 de 19x14 de 113 págs.Br. Exemplar com capa de brochura ilustrada…”
E mais não diz. Tudo leva a crer que devo ter comprado isto numa feira qualquer ou num alfarrabista, mas não faço a mínima ideia.
Como estava a precisar de escrever o post semanal, aproveitei este acaso e aqui vão, com as devidas vénias ao autor Cravina (suponho que neste caso só fez a recolha das quadras) e aos autores “populares”, umas tantas quadras retiradas da obra (no livro elas aparecem agrupadas pelas diversas províncias e assim vai uma de cada província para ninguém ficar a chorar). Aqui ficam:
Minho: (Trova dos maridos aos centos)
Ao santo casamenteiro,
Fazes centos de pedidos!
Olha que o Santo é brejeiro,
Dá-te centos de maridos.
Trás-os-Montes (Trova do amor de mãe)
Mãe! Os teus alvos cabelos
- são as linhas de bordar,
com que bordas os desvelos
que só tu…me sabes dar…
Douro Litoral (Trova do paleio amoroso)
Quem do amor diz o que sente
A si se engana primeiro;
Pois que o amor sempre mente
Até mesmo o verdadeiro!
Alto Douro (Trova do teu coração)
Meu coração vou mandar-te,
Por meu ser, mas também teu;
Decerto hei-de assim provar-te
Que ele é mais teu do que meu.
Beira Litoral (Trova do mendigo de amor)
Hei-de um dia desligar
Meu olhar da tua vista.
De que serve mendigar
Teu amor, minha egoísta?!
Beira Alta (Trova das meninas vaidosas)
Hoje, as meninas bem postas
Que a cada instante topamos,
Se as olhamos voltam as costas,
E olham se as costas voltamos.
Beira Baixa (Romaria da Senhora da Confiança)
Ó de Pedrógão Pequeno
Senhora da Confiança
Dá-me amor grande e sereno
Mais um lar com abastança.
Estremadura (Trova do nosso olvido)
Embora nada me peças
Só uma coisa eu te peço!
Que por esmola me esqueças,
Para ver se assim te esqueço.
Ribatejo (trova das ilusões vitais)
Tanta ilusão já perdida!...
E a vida sempre a correr.
- Ter ilusões … é ter vida,
mas perde-las é morrer.
Alto Alentejo (Trova da ressurreição do amor)
Eu quisera já morrer
E depois ressuscitar…
Simplesmente para ter
Outra vida p’ra de dar!
Baixo Alentejo (Trova das más línguas)
As pessoas de má fama,
Melhor sabem difamar…
Gosta a lama de dar lama,
Por ter lama, até p’ra dar.
Algarve (Trova das modas antigas)
Siga a roda! Siga a roda,
Rapazes… e raparigas!
Que há usos velhos em moda
E há modas que são antigas.
Aqui fica esta amostra de umas 150 quadras que o livrinho tem.
Hoje o Lince não mete aqui o dente, porque se respeitou a grafia do livro.
Como alguma quadra podia estar envenenada, lá ia ele ter com a companheira (ex-).