1- O plágio
Arranca-se de um jornal uma dessas notícias da treta, tosca, parva, estúpida e informe; e depois que se desbastou o que não interessa, agarra-se no computador e, dedos nas teclas, começa-se a formar o post. Primeiro, período a período, depois frase a frase até à palavra por palavra. Adoça-se aqui, apimenta-se ali, arredonda-se acolá, prepara-se o “suspense”, emenda-se isto, substitui-se aquilo, estica-se se estiver curto, corta-se se estiver comprido, até ficar um texto aceitável, talvez até publicável.
2- O plagiado
O Estatuário (Padre António Vieira)
Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão, e começa a formar um homem, - primeiro, membro a membro, e depois feição por feição, até a mais miúda; ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos; aqui desprega, ali arruga, acolá recama; e fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar.
3 – A explicação
Um destes dias, acordei com o “Estatuário” na cabeça. Como não uso barrete de dormir, fico com a cabeça livre para nela entrar qualquer coisa. Conheço o texto desde a minha 4ªclasse, pois fazia parte do “Livro de Leitura”. No liceu voltei a encontrá-lo e aprendi a apreciar a precisão de cada um dos verbos que aparecem no texto. Depois de me rebolar duas vezes na cama sem conseguir “sacudir” o Vieira, resolvi que o melhor era fazer um post, “a meias” com ele.
Foi assim que mostrei como se faz um post em “3 tempos”.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.