Suponho que se imprimem hoje os livros como ontem, independentemente dos avanços técnicos da impressão. Pelo sim pelo não, vou referir-me só aos livros de “ontem”. Cada folha, depois de impressa, era dobrada três vezes sobre si mesma, dando um “caderno” de 8 folhas no livro. Depois os cadernos eram postos por ordem e encadernados ou brochados. Com a capa aplicada estava feito o livro. As folhas impressas estavam separadas por “montes” (tantos montes quantos os livros da edição) e a quando da encadernação era retirada uma folha impressa, de cada “monte”.
Suponhamos então, que por descuido na “montagem” do livro, não era retirada a folha de um “monte” e eram retiradas 2 folhas do “monte” seguinte e que depois de devidamente dobradas eram encadernadas assim. Tínhamos um livro especial, com o mesmo número de folhas dos restantes livros mas com a falta de “um caderno” e com um caderno repetido. Acontece e ainda não há muito tempo me “saiu” na FNAC um livro assim que fui trocar, obviamente.
Agora suponhamos que se compra um livro desses, numa edição já antiga e ao preço da uva mijona (que é uma uva a precisar de usar fraldas) numa feira informal, algures no Portugal mais ou menos profundo. Ficamos com o livro incompleto.
Assim, agarremos por exemplo neste exemplar de “A Estrada do Tabaco” do Erskine Caldwell, edição de mil nove e troca o passo (não está indicada) e se começa a ler. Ficamos curiosos para saber se os Lester acabam por roubar o saco de nabos que o Lov comprou (o Lov era casado com uma filha dos Lester, que tinham “só” dezassete filhos) e se, sim ou não, o Lester pater família o vai ajudar a atar a filha com cordas para a obrigar a deitar-se com o Lov (já que ela se nega a fazê-lo), ou mesmo dar-lhe uma “carga de porrada”. Estava assim no maior “suspense”, quando da página 16 se passa para a página 33. Solta-se um palavrão e verifica-se de seguida, para compensação, que se pode ler o capítulo 3 duas vezes. Esta sensação tive-a há muitos anos, quando comprei o livro e voltei a tê-la hoje quando resolvi relê-lo nem que fosse “à vol d’oiseaux”, porque não sei se os americanos têm uma expressão equivalente. Já não me lembrava deste “pormenor”. Até hoje não sei se rapinaram ou não o saco dos nabos ao pobre Lov, ele mesmo um “nabo”, pelo que se pode concluir, que nunca li completamente o livro.
Há todavia uma vantagem. Não fora eu hoje ter pegado no livro e recomeçar a lê-lo e não sei se não teria de ensinar aqui a melhor maneira de plantar nabos (também se semeiam) para poder publicar o post de hoje.
Abençoada falha técnica do editor.
Para não se perder tudo fica aqui uma informação complementar, com a ajuda do Dr. Google ou um primo, não sei: em 1941 John Ford filmou esta “Tobacco Road” (com os capítulos todos, suponho…).
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.