O título do post não tem nada a ver com a actriz italiana que entrou em dezenas de filmes e foi uma das mais requisitadas pelo cinema italiano e não só, nos seus bons tempos (bons tempos dela e do cinema italiano).
A razão do nome aparecer, virá lá mais para a frente.
Há dias, suponho que num programa de TV, numa conversa entre duas mulheres onde falavam disto e daquilo, mais ou menos sem interesse, ambas concordaram que as mulheres são muito atraídas pelos homens malandros. Que sim, que sabem que não são “grande coisa”, mas têm um charme especial e etc, etc, etc, não ponho mais na carta.
Foi nessa altura que me lembrei da “Alida Valli”, não a atriz, mas uma colega dos últimos anos da faculdade, que batizamos com aquele nome.
Eram cursos “masculinos” (raramente havia raparigas neles) nesses “áureos tempos”, mas no meu tempo havia duas colegas, com quem tínhamos algumas aulas em conjunto, pois havia cadeiras comuns a todas as especialidades.
Eram ambas simpáticas e “engraçadas” e apaparicadas por um regimento de “bons rapazes”. Uma delas usava um penteado que fazia lembrar o da atriz italiana e assim ficou “Alida Valli”, pelo menos até ao fim do curso.
Acabado o curso, cada qual foi à vida (naquele tempo havia vida à nossa espera) e eu acabei por ficar pelo Porto mais dois anos (sim, a próxima cena passa-se no Porto, ainda).
Um dia, ao dobrar uma esquina, com quem deparei eu, muito agarrada ao mais malandro dos tipos que andaram na faculdade naquele tempo, ainda que um ou dois anos atrasado? (E “malandro”, nos vários significados que a palavra pode ter, não excluindo uma certa tendência para a vigarice).
Deixei a interrogação sem resposta, mas já se percebeu que era a “nossa” “Alida Valli”. Confirmado o velho ditado: “Guardado está o bocado…”
Os anos passaram, muitos de nós nunca mais nos vimos entretanto, até que houve uma reunião de curso, exatamente para nos reencontramos e medirmos o aumento das respetivas barrigas e a diminuição da quantidade de cabelo. As saudações, no entanto, são sempre do tipo, “Oh pá, tás porreiro, tás na mesma!”.
Destes encontros faz sempre parte uma jantarada, onde, em geral, todos se fazem acompanhar das “respetivas” e/ou “respetivos” e como por essa altura ainda havia meia dúzia de “desamparados da sorte” (também havia quem dissesse “tipos com muita sorte”), essa meia dúzia ficou na mesma mesa. Entre nós, a enfeitar o ramalhete, a “Alida Valli”, já sem o tal corte de cabelo, mas com muita mais experiência de palco. E como tal, a conversa foi livre e animada, as línguas foram-se soltando e ficamos a saber muito da vida amorosa dela. O tal 1º “malandro”, que teve de pôr de lado passado algum tempo, foi no entanto citado como “tendo Valli(do) a pena”, ao passo que o segundo da lista, bom rapaz é certo, “foi tempo perdido”.
Eis porque eu, ao ouvir a tal conversa, me lembrei da “Alida Valli”. Foi a última vez que a encontrei.
Já a outra colega, quis o destino, que tivesse sido minha vizinha durante muitos e muitos anos, e por isso víamo-nos quase todos os dias.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
E tu, falso lince da Malcata, também és do tipo malandro?