(Alguns dos componentes da "salada")
No meu prato que mistura de Natureza!
Os meus irmãos os insetos,
Os companheiros das fontes, os santos
A quem ninguém reza…
E matam-se e vêm à mesa
E nos hotéis os hóspedes ruidosos
Que chegam com correias tendo mantas
Pedem “salada” de insetos, descuidosos…
(…)
(Adaptação de parte de um poema de F. Pessoa/Alberto Caeiro)
Finalmente!
Parece que as Nações Unidas estão a lançar uma campanha para a introdução dos insetos na dieta alimentar mundial.
Há muitos milhares de espécies de insetos, para todos os gostos e paladares, para se poderem comer como aperitivo, como prato principal e como sobremesa. Alguns deles certamente até como sob-mesa. Quem nunca sentiu uma pulguinha a subir-lhe pela perna,num restaurante? E no cinema? Lá se vão as barulhentas pipocas e lá teremos umas silenciosas lesmas com pimenta ou umas larvas virgens com molho de tomate. Lesmas então há aos montes, é só virarmo-nos para um lado ou para o outro, são às toneladas… (As lesmas não são insetos? Que importa? Deu-me jeito metê-las nesta “salada”). Mas também as há vivinhas da costa, aos saltinhos prontas a serem comidas. Assim haja apetite e quem aprecie, sim, porque me parece que cada vez há menos apreciadores “gourmet" capazes de degustar uma abelhinha zumbidora ou uma vespa viperina. Pois se até há quem não seja capaz de comer uma lesma ou um caracol. Dizem que fogem…
Cá por mim, já estou a pensar na melhor receita para poder petiscar, umas Joaninhas Com Pintas ou umas Mosquinhas Mortas, que andam por aí com ar vivaço, a esvoaçar.
Diz a ONU que é preciso começar a “atacar” os insetos, sem ser com dundum ou pozinhos de perlimpimpim (dantes havia pós de Keating…)
Já hoje uma parte da população mundial come insetos, como nós comemos tremoços, mas em geral só o que a natureza dá e portanto é também preciso começar a cultivar insetos.
Fiquei muito contente com estas notícias por várias razões: primeiro porque a pressão sobre os carapaus meus irmãos irá descer, depois porque vai haver a possibilidade de podermos comer uns chatos que abundam por este mundo de Cristo (estes nem será necessário criá-los nas chatarias).
Estou já a organizar, numa varanda aqui da caverna, uns espaços para instalar uma piolharia, uma pulgaria e uma percevejaria. Atendendo ao pouco espaço, tenho de me dedicar só a insetos domésticos. Pelo menos numa primeira fase. Depois, conforme a procura, talvez pense em voos mais altos. Estou também a pensar em implementar um sistema de trocas, tipo trocar de pulgas com a envergonhada Solha, de piolhos com a emproada Garoupa e de percevejos com a delambida Corvina. Os chatos ficarão para trocar com a Chaputa “et pour cause”. (Esta entrada pelo francês está aqui para abrir portas à “haute cuisine” aplicada aos insetos).
O mundo dos insetos é de facto imenso e este post nunca mais acabava se mencionasse uma pequena parte que fosse. Daí que só me refira e mostre meia dúzia. Para abrir o petite…
Para terminar e para fazer crescer água na boca de quem ler este post, deixo aqui umas sugestões para elaborar umas ementas para uns jantarinhos à luz das velas, que assim não permite analisar as especiarias nem vê-las.
- Tapas de formiguinhas com molho das mesmas e trufas
- Tostas de borboleta “avec du beurre” de percevejo
- Lesmas “al ajillo”
- Consomé de sangue de barata e pulga “avec poivre” de escorpião manso
- Puré de “pommes de terre avec du sauce” de vespas bravas, com asas de libelinhas
- “Rôti” de gafanhotos e cigarras, “avec du sucre” de abelhas.
- Ragú de pernas de centopeia com puré de maçã.
- Pezinhos de centopeia de coentrada
- Empadinhas de ovas de piolho “aux fines herbes”
- Crocante de escaravelho
- Gafanhotos ao natural
- Cupim à Bolhão Pato
- Baratinhas tontas com “pimientos de Padron”
- Perninhas de grilo “au champagne”.
- Pudim de mosquito do dengue perfumado com molho de percevejo.
-Aguardente de larvas do milho, envelhecida em casco de carvalho mastigado pelo respetivo bicho da madeira
- Licor de centopeia coxa.
- Chocolate preto adoçado com sangue de piolho (uma iguaria em qualquer parte do mundo)
E para terminar qualquer refeição, talvez um Louva-a-Deus, por tanta fartura.
Bon appétit!
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.