Li na imprensa que “Bruxelas vai atacar o tratamento dos porcos em Portugal”. Depois de ler o artigo fiquei mais tranquilo pois parece-me que eu fico de fora. Sou um “lavadinho da silva”, tomo banho todos os dias (às vezes mais o que um), lavo os dentes, “amanho” as sobrancelhas, pinto a manta e porto-me bem. (Até parece que estou a redigir um anúncio para me comprarem…).
A verdade é que na mira da CE, desta vez, não estão os carapaus mas sim os porcos em todas as suas “variantes” (os propriamente ditos, mai-las marrãs (quer estejam secas ou grávidas), os varrascos e os leitões, quer sejam recém-nascidos quer já desmamados. As regras são exigentes e vão desde o tipo de pavimento das pocilgas até ás dimensões das mesmas e às áreas mínimas para cada porco (com licença da palavra, pedido que só agora me ocorreu e que deveria figurar logo no título).
Mas o ponto alto da notícia, para mim, foi este pedacinho de prosa, que transcrevo das “normas”.
“As novas regras visam garantir, por exemplo, a concretização dos “contactos sociais” que “as porcas estabelecem facilmente com outros suínos”, mas para isso precisam de “liberdade de movimentos e um ambiente variado”. Assim sendo “deverá ser proibido manter as porcas em confinamento contínuo”.
E mais não transcrevo porque já tenho aqui pano para mangas…
A minha primeira grande dúvida é porque razão só as porcas têm direito a conviver. E convivem com quem? Com as outras porcas?
E se assim for que fazem os porcos? Tornam-se mais porcos ainda ou só servem para o talho? E os varrascos (que são porcos com parafuso especial para poderem entrar nas porcas) como convivem? Ou só convivem com os tipos que lhes extraem o sémen para as porcas usarem nas suas “convivências”? Não vi resposta a estas questões.
Sinceramente não sei se alguma vez mais comerei uma fatia de presunto, uma rodela de salpicão, uma chouriça assada, uma linguiça que seja, sem me perguntar se o bicho-origem daquilo tudo teria convivido mal e porcamente com outros e outras, ou se teria estado sempre confinado.
Já não falo nem das papas nem do arroz de sarrabulho, em que o sangue foi “sacado” ao bicho sem lhe ter sido dado a liberdade de escolha. E os pezinhos de porco de coentrada? Sim, por onde teria andado o sr. Porco? Onde teria ele posto os pés enquanto andou por este mundo? O pavimento respeitava as normas europeias ou o grande porco andava descalço a pisar a merda dele e a dos outros (com novo pedido de desculpa pelo emprego desta linguagem tão técnica)?
E a beiça? Terá o bicho convivido de acordo com as normas? Terá ele/ela estabelecido contacto fácil com outros/as?
E quem diz beiça, diz orelheira. O bicho lavava as ditas com frequência numa casa de banho apropriada? E metia ele a beiça nalguma orelheira alheia? (Sim, porque na própria é um bocado difícil, ainda não há “norma” para isso).
E, (oh heresia das heresias, eu vou agora escrever), e as tripas? Sim as tripas “à moda do Porto carago”. Como vamos saber o que o bicho fazia com as tripas. Faria ele das tripas coração? Se sim, como ficaria ele com o coração? Será que as tripas, esteja ele “confinado” ou a “conviver” não pertencerão sempre ao sistema geral de esgoto do bicho? E quando ele “necessita” (isto é, faz as suas necessidades) o faz com higiene e alguma elegância no gesto? Ou é “por aqui me avio” e fica assim a modos que com o rabo pouco limpo (e aqui entraríamos no caso do rabo, tão usado por cá no cozido. A propósito: porque se escreve cozido e não cuzido?).
Claro que eu já nem falo no lombo, nas costelas (ou costelinhas, piano ou mesmo saxofone…) porque então as perguntas seriam mais que as “normas”. Só para dar um exemplo: será que alguém (e este “alguém” pode ser um igual ou um diferente) terá passado a mão pelo lombo do bicho?
Quando iniciei este post era para o “levar” para outra direção. O tema no entanto tomou conta do rumo e vim dar aqui a este beco sem saída. Ou melhor, tenho a saída mesmo aqui à minha frente, é só pôr um ponto final.
(Já está).
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.