Já por diversas vezes, ao longo da vida, tive contactos muito próximos, ia a escrever “quase íntimos”, com canadianas.
Das vezes em que isso aconteceu, acabei por me dar bem com elas, que por sua vez me ajudaram bastante. Era bom senti-las nas axilas, perceber que podia confiar nelas e agarrá-las com força para ir onde pretendia. Quando eu descansava elas também descansavam, ainda que, em certas ocasiões, eu enroscasse uma perna minha nas delas. No mínimo era confortável.
Depois de por duas vezes ter andado com elas para tudo o que era sítio, de inclusivamente elas terem assistido a cenas um tanto ou quanto hilariantes, mas comportando-se sempre com dignidade e discrição, um belo dia, estava eu separado delas, e já pela segunda vez, uns amigos convidaram-me para ir a uma tourada. Era um domingo à tarde, em pleno verão e eu não estava nada virado para esse lado, antes me apetecia uma bela sesta domingueira, que a semana tinha sido trabalhosa. Recusei portanto o convite e eles lá foram sem a minha companhia. Voltei a encontrá-los no dia seguinte e contaram-me toda a “tourada” que tinha havido (nos arredores de Lisboa, em terra de touros e toureiros).
Claro que não falaram da tourada propriamente dita, mas sim de duas canadianas que tinham “conhecido” durante a tourada e a quem prodigalizaram os seus muitos conhecimentos sobre a festa brava. E de tal modo se houveram que, no fim, as canadianas voltaram com eles para Lisboa e foram jantar principescamente os cinco (eles eram três e elas eram duas, havia um “problema” a resolver mais tarde…).
No fim, depois de várias peripécias e propostas para verem Lisboa à noite, elas alegaram cansaço, combinaram isso para a noite seguinte e pediram para as deixarem no parque de campismo de Monsanto, onde estavam acampadas.
Isto contaram-me os meus amigos, ao jantar de segunda feira. Havia porém um problema. Um deles tinha de ir esperar uns familiares que chegavam a Lisboa e outro tinha de ir trabalhar à noite. Sobrava um, mas faltava outro. Claro que fui mobilizado e de bom grado avancei com o “sobrante” para Monsanto. O encontro estava aprazado para as 21 horas.
Chegados lá, esperamos do lado de fora do Parque (não podíamos entrar) e pouco depois o meu amigo viu-as, através da rede, no restaurante do Parque, estariam a acabar de jantar.
O tempo passou, elas não davam mostras de se prepararem para sair e entretanto havia mais quatro carros junto ao nosso, todos com dois “cavalheiros” também em pose de espera. Uns esperariam umas francesas, outros umas inglesas, outros talvez umas japonesas... Enfim, davam ares que estavam como nós, à espera de alguém.
Como o tempo passava e nada de elas aparecerem, decidi dar uma volta a pé ali pelas redondezas e ouvi uma conversa de um dos pares de “cavalheiros” e fiquei com a impressão que também esperavam as mesmas canadianas. Disse isto ao meu amigo e resolvemos fazer uma “conferência de imprensa” com todos eles. Estava certíssimo: todos (éramos 10) esperavam as mesmas “gajas”, que lá dentro se divertiam à grande e à canadiana com a cena. Tinham-nos pregado uma partida.
Para não perdermos a noite e depois de umas valentes gargalhadas combinamos os 10 ir a qualquer sítio beber um copo para “comemorar” a cena.
Foram estas as únicas que me traíram nos meus contactos com canadianas. Talvez por isso, alguns anos depois, voltei a andar agarrado a mais duas, “agarranço” que desta vez durou uns meses, culpa dum tendão de Aquiles, que infelizmente era meu e estoirou.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.