Em tempos conheci um texano. Um texano legítimo, dos autênticos, nada de imitações. Andava a maior parte das vezes com o seu característico chapéu “à cowboy”, ainda que não usasse as respetivas botas. Com ele aprendi o que é um texano. Para começo de conversa é um natural do Texas. É do Texas e não podia ser de mais parte nenhuma, senão não era texano. Parece uma evidência mas não é bem, é parecida.
Um texano tem orgulho de ser do Texas, grita alto e bom som a todo o momento “eu sou texano!” E no Texas existe tudo o que não há em mais parte nenhuma do mundo (no dizer dum texano): a maior boiada, os maiores poços de petróleo, as maiores refinarias, os edifícios mais altos, as maiores avenidas, os maiores aeroportos “and so on”. E claro, “coisas” que mais ninguém tem, ou sejam: os texanos.
Disse-me ele que antigamente os livros escolares situavam assim o Texas:
“O Texas fica na América do Norte e é limitado a sul pelo México e a nascente, norte e poente pelos Estados Unidos.
A qualquer coisa que lhe dissessem sobre comparações com o Texas, ele respondia sempre: “Nós, lá no Texas, temos isso tudo, mas em maior”.
Um dia foi passear a Paris. Olhou, mirou, registou, mas mentalmente ia dizendo sempre a mesma coisa: “temos melhor, temos maior”.
Num dos seus passeios pela cidade, viu às tantas, lá ao longe, uma grande aglomeração de pessoas. Estugou o passo para ver o que se passava. Era uma pequena multidão que acompanhava um funeral que estava prestes a entrar no “Pére Lachaise”. Pela quantidade de pessoas deduziu que era alguém importante que tinha atado as botas. Seguiu o cortejo até ao local onde ia ser deposto o morto. Houve discursos fúnebres. Um pequeno palanque donde os oradores falavam e um mestre de cerimónias a dirigir a sessão. Quando todos os oradores inscritos já tinham falado, o mestre de cerimónias perguntou se mais alguém queria tomar a palavra. Como ninguém se manifestou, o meu amigo texano avançou para o pequeno estrado, subiu os 3 degraus e, virando-se para a multidão, começou: “Não quero perder esta oportunidade que me dão, sem vos dizer duas palavras sobre o Texas…”
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Há pouco tempo estive numa reunião, com pouca gente e todos conhecidos uns dos outros, em que também houve quem botasse faladura. Às tantas alguém lembrou que eu tinha também a obrigação de falar, por isto e por aquilo. Abanei a cabeça a dizer não, mas então uma voz disse alto e bom som. “Vá, só duas palavras”.
Nessa altura lembrei-me do meu amigo texano e debitei o “discurso” que contei ali atrás.
No fim, virei-me para os homenageados e terminei: “também eu aproveito a ocasião para vos dizer duas palavras: “muita saúde”!
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.