Nesta altura do ano visito com frequência quase diária a Vila da Batalha, onde se encontra o respetivo Mosteiro (Mosteiro de Santa Maria da Vitória).
De todo o conjunto que constitui a obra, as chamadas Capelas Imperfeitas (atualmente rebatizadas como Capelas inacabadas) são certamente as que mais chamam a atenção dos visitantes.
Elas são também o que melhor define Portugal e os portugueses. Assim qualquer coisa como entradas de leão e saídas de sendeiro. Começamos em grande e acabamos…inacabados.
Quando é preciso ganhar fôlego para o voo final, ainda começamos o arranque da abóbada mas, ou por falta de verba ou por falta de vontade, ou porque nos viramos para outro lado, lá fica a casa sem telhado, que no caso da Batalha é dizer, lá ficam as capelas sem abóbada.
“Agarrem na trouxa e zarpem para Belém para construirmos os Jerónimos”, parece que foi a palavra final para deixar a obra inacabada. Já antes ela fazia que andava mas não andava. Quase século e meio a “partir pedra” e deixamos a obra pela metade.
Num outro local da vila, não muito distante das Capelas, há uma placa com um pequeno trecho de Miguel Torga, retirado do seu Diário, que reza assim:
“As Capelas Imperfeitas (…)
Os fados adversos, providencialmente, fizeram delas o símbolo concreto de uma pátria abstracta, em gestação perpétua, no desassossego de cada hino”.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.