As televisões portuguesas, a nível de noticiários, são exemplos de “como não dar notícias” e “como não fazer reportagens”.
(As dos outros países, no geral não são melhores, mas com o mal dos outros posso eu bem).
Como em tudo na vida há exceções, mas a mim interessa-me a regra geral.
Exemplos:
- Repórter: “Estamos aqui ao pé da casa do Sr. Joaquim, perto do local onde se deu o desabamento de terras que, soterrou totalmente a capoeira do vizinho, como podemos observar. Diga-me Sr. Joaquim como tudo isto aconteceu”.
Sr. Joaquim: “Olhe menina, eu vinha ali debaixo onde tenho uma hortita e, a bem dizer, não vi nada. Já tinha passado a casa do vizinho quando ouvi um Bummmm! E até julguei que me tivesse caído qualquer coisa”.
Repórter: “Então o Sr. Joaquim ouviu um Bum!?”
Sr. Joaquim: “Não menina, não ouvi um Bum! Mas sim um Bummmm!”
Repórter: “E acha que houve muito prejuízo”
Sr. Joaquim: “Isso menina, não posso dizer, porque o galinheiro não era meu. Mas a criação deve ter morrido toda”.
Repórter: “E era muita a criação”?
Sr. Joaquim: “Isso não sei menina, que eu cá não ando a meter o nariz no quintal do meu vizinho”.
Repórter: “Obrigada Sr. Joaquim. Como acabamos de ouvir o Sr. Joaquim assistiu a tudo e segundo ele, deve ter morrido toda a criação do vizinho que se encontrava na capoeira”.
Sr. Joaquim: “A menina desculpe eu dizer isto, mas o meu vizinho não estava na capoeira, porque eu viu-o lá em baixo no café. Só devia estar mesmo a criação”.
A notícia, com a reportagem, é repetida em todos os noticiários do dia e no 1º do dia seguinte em todos os canais dessa cadeia.
2º caso:
Repórter: “Estamos aqui em Alguidares de Cima onde um violento incêndio consumiu esta manhã uma quantidade apreciável de restolho, pondo em perigo a povoação. Temos connosco a Sra. Alzira que nos vai contar como foi. Sra. Alzira, a sra. viu como tudo isto começou”?
Sra. Alzira: “olhe menina foi assim: eu ouvi o sino a fazer dlim, dlim, dlim e achei estranho àquela hora e disse assim para a minha nora: oh Júlia o sino está a tocar, o que será? Ela até me respondeu deve ser brincadeira, mas como o sino continuava dlim, dlim, dlim, eu disse que diacho e fui ali à rua olhar para a torre e foi então que vi fumo”.
Repórter: “Então a Sra. Alzira ouviu dlim, dlim e foi ver e viu tudo a arder. Foi assim que começou este incêndio, que ia pondo em risco a segurança da povoação”.
Sra. Alzira: “Isso não menina, que os bombeiros apareceram logo passados cinco minutos mas ficaram aqui a ver porque o fogo já estava quase apagado”.
Repórter: “Como acabou de dizer a Sra. Alzira, que assistiu a tudo, os bombeiros limitaram-se a proteger as habitações, uma vez que o fogo, lavrava intensamente. Vamos agora falar aqui com o Sr. Comandante dos Bombeiros de Carregal de Cima que prontamente acorreram à chamada. Sr. Comandante: quantos efetivos estão envolvidos no combate a este incêndio”?
Sr. Comandante: “Fizemos deslocar dois jipes com pessoal e dois autotanques, um com água e outro sem água, mas não foi preciso atuar, porque o fogo extinguiu-se por si próprio”.
Repórter: “Sr. Comandante: acha que foi posto fogo”?.
Sr. Comandante: “temos mesmo a certeza e sabemos quem o acendeu”.
Repórter: “E já comunicaram o caso à GNR para prenderem o criminoso”?
Sr. Comandante: “Não. O Sr. Manuel é que fez a queimada, mas pediu-nos autorização para a fazer e por isso estávamos aqui de prevenção, mas correu tudo bem”.
Repórter: “Não houve então perigo para a povoação”?
Sr. Comandante: “absolutamente nenhum”.
Repórter: Como ouvimos das declarações da Sra. Alzira e do Sr. Comandante dos bombeiros, o incêndio lavrou com violência e só a presença dos soldados da paz evitou o que esteve a um passo de pôr a povoação em perigo”.
“Notícia” e “reportagem” passaram meia dúzia de vezes durante dois dias.
Foram dois exemplos caricaturais, mas que pecam por defeito. Algumas vezes os casos serão graves e até gravíssimos, mas o nível das reportagens é baixo, até baixíssimo.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.