Quinta-feira, 22 de Setembro de 2011

Um casal de globetrotters

 

                         

Sábado, ao fim  da manhã. Eu bebia uma água sentado numa esplanada. Todas as outras mesas estavam ocupadas por grupos de estudantes universitários em “atividades de praxe”. Quase todos eram raparigas, o que não é de admirar. Eu estava meio distraído a olhar para o vai e vem das pessoas. Havia um movimento anormal aquela hora, porque tinha acabado um congresso sobre endocrinologia e diabetes, que tinha tido lugar na zona. Viam-se as pessoas a passar apressadamente para apanharem os seus meios de transporte. Umas já de mala aviada, outras com sacos e mochilas, que a organização tinha distribuído.

De repente dou comigo a olhar para um casal já de certa idade que tinha entrado na esplanada e se tinha aproximado da balaustrada. Eram ambos pequeninos e, equipados a rigor, pareciam dois miúdos que iam a caminho duns “pontapés na bola”, pois envergavam ambos a mesma indumentária: T- shirt vermelha, calção bege, pelos joelhos, peúgas pretas e ténis. Na cabeça, também bonés iguais, da cor dos calções. Pendurados ao pescoço traziam: ela, uma máquina fotográfica, e ele uma máquina de filmar e uns binóculos. Pernas e braços de magreza acentuada. Aliás notava-se que já tinham entrada naquela fase em que tudo encolhe. A partir daí a minha atenção virou-se para o casal. Passados uns momentos, “puxaram” das respetivas máquinas e vá de fotografar e filmar a “paisagem”. De vez em quando diziam qualquer coisa um para o outro. Por fim arrumaram o “equipamento” e tornaram a entrar no edifício. Por poucos minutos, pois logo apareceram com uma bandeja, duas garrafas de água e dois copos de plástico. Deram uma vista de olhos a tentar descobrir uma mesa vaga, mas não havia. Quando olharam para mim, sorri-lhes, fiz-lhes um sinal com a cabeça e indiquei-lhes as duas cadeiras vagas na minha mesa. Sorriram também, avançaram para mim, agradeceram e sentaram-se.

Tivemos uma conversa “animada” em diversas línguas, incluindo o esperanto. Eram ingleses. Vieram uma vez mais a Portugal. Viajavam muito. Às tantas ela viu um enorme cartaz duma empresa da indústria farmacêutica a gritar ao mundo a excelência da sua “bomba” para diabéticos, e tirou uma fotografia ao cartaz. Expliquei que tinha havido ali ao lado um Congresso e aquela farmacêutica deveria ter sido uma das patrocinadoras. Eles sabiam. Um neto deles, médico, era congressista e estavam ali exatamente à espera dele para almoçarem juntos. Depois o neto embarcaria para Inglaterra e eles iam ficar mais uns dias. Eu fiz-me de “lucas” e expressei a minha admiração por terem um neto “já” a frequentar congressos científicos. A minha falsa admiração resultou. Disseram-me a idade: ele 85, ela 83.

Já tinham “corrido” quase todo o mundo, viveram uns anos no oriente e agora viajavam para não estarem fechados em casa. Partiam no dia seguinte para o Porto para subir o Douro de barco e conhecer a região.

Estavam interessados em, brevemente, visitar as ilhas Falklands e depois a Argentina. Seriam diplomatas da paz, pensei eu a sorrir.

Acabaram de beber as águas, agradeceram uma vez mais e lá partiram, como tinham chegado. Passos curtos mas rápidos, prontos para correr mundo. Levantei-me também, segui-os durante uns metros e lamentei ter deixado no carro a minha máquina fotográfica. Teria apresentado aqui as suas figuras, de costas pois claro, para a posteridade.

Também gostaria de lhes ter dado um abraço, mas a tanto não chegou a nossa intimidade.

Mentalmente desejei-lhes saúde e longa vida para percorrerem os longos quilómetros que ainda têm pela frente.

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 18:12
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De FlorAlpina a 25 de Setembro de 2011 às 20:44
Olá Carapau
Venho agradecer as palavras que deixou lá no meu cantinho(para lá ainda do sol-pôr...)
E vim também deixar um "recadinho" que deixaram lá para si, e me incumbiram a mim para transmitir, visto a pessoa em causa, uma grande amiga a Laura não consegui deixar aqui!

..."Ora bem, entrei por aqui no blogue do 'carapau', adorei, quis comentar mas não consegui, enviar um email e não deu, que posso fazer para que meu coment entre, pedem email e senha e eu dei, dizem que não está correcto, volto a por outro, a mesma coisa..ai carapau carapau que está dificil..como faço? beijinhos laura e era o que está abaixo que queria comentar.. Bom, não foi por acaso que entrei por aqui fora sem pedir licença, como não o foi ler essa linda história que me encantou! primeiro não era qualquer um que dava lugar aos cotas... segundo meter conversa, eu faço isso, mas a maioria encolhe-se e faz de conta! e é assim que penso a vida, viver da melhor forma que se possa até a acabar... Para a próxima anda com a maquineta como com o telemóvel, de certeza que vais tirar fotos a momentos assim; momentos que deram uma bela história..."
(http://resteadesol.blogspot.com/)

Bjs dos Alpes


De Anónimo a 28 de Setembro de 2011 às 13:45
Obrigado pelo recado e vou tentar responder à Laura.
Quando escolhe "comentar este post", aparecem-lhe duas hipóteses: 1-"não tem blog no sapo" e 2- Tem blog no sapo.
Escolhe a 1ª hipótese (para isso clica na "bolinha" respectiva), e preenche o nome e o URL , escreve o comentário e no final clica em "Publicar comentário".
E já está.
Se não colocar o nome, aparece como "Anónimo", mas pode sempre deixar o nome no próprio comentário. Simples portanto.
Pelo que me diz das dificuldades, parece-me que não escolheu "Não tem blog no Sapo" e portanto os problemas aconteceram a partir daí.
Obrigado pelas visitas (da FlorAlpina e da Laura) e espero continuar a contar com as vossas visitas, ainda que aqui o cozinheiro só saiba o "trivial e rissóis de camarão". :)
Bjos.


De Carapau a 28 de Setembro de 2011 às 19:37
Claro que o Anónimo é o Carapau.


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