Ora vira que vira...
Não é minha especialidade analisar os movimentos das danças folclóricas e apreciar os trajes e os cantares. Em geral estes são esganiçados e aqueles de cores mais ou menos berrantes, e o público, às vezes pouco e pago, também gosta de gritar.
Mas, atendendo a que no domingo passado houve romaria, depois de uns dias de danças e comilanças, Carapau subiu à terra e resolveu dizer duas palavras sobre o evento.
A primeira para a má qualidade do folclore e dos intérpretes, já que não me posso pronunciar quanto à qualidade da comida. A segunda pelo pouco entusiasmo da assistência, que já não vai a estas romarias, cansada que está com a poeira dos caminhos e falta de água potável nas fontes. O tempo de levar umas pernas de frango e uns bolinhos de bacalhau já lá vai, agora está bem, pois, espera aí que já lá vou, tenho mais que fazer.
Quanto aos intérpretes, que hei-de dizer?
Um a tocar cavaco numa nota só e mesmo assim obrigado a desafinar porque lhe espalharam pozinhos de espirrar nas bandas do casaco e lhe atiraram pedradas o que é sempre perigoso para quem tem telhados de vidro, mesmo que seja só uma claraboiazita.
Outro, mais triste que alegre que percebeu cedo (terá percebido?) que tinha o destino marcado e não sabia que quem com ferros mata com ferros morre e que lhe havia de aparecer um nobre para fazer o papel que ele fez uns anos atrás. Além disso estava convencido de qualquer coisa que nem eu percebi o que era. Há coisas que cegam quando a capacidade de discernimento é pequena. Dele bem se pode dizer que
“Descalço foi para a fonte
O poeta pela verdura,
Com voz forte mas não segura”.
O tal nobre a quem não dou grande escolha entre ter só a nobreza no nome, pois prestou-se a ser um nobre alegre dos soares que jogaram com ele ou, se não percebeu isso, ser pouco inteligente. Há jogos que não são para amadores. Se se convencer que o pecúlio que acumulou graças aos erros dos outros lhe vale de alguma coisa, é bom que ponha os olhos no alegre a quem tirou a alegria.
Um chico esperto que como todos os espertalhaços sabia ao que ia e o que tinha de fazer para garantir o seguro de vida e que no fim grita vitória, vitória, ainda que vá até à derrota final, com a companhia dos do costume.
Um defensor que jogou ao ataque atirando as pedras que outros lhe forneceram da gaveta onde há muito estavam guardadas para usar na melhor altura e salvaguardando assim o assento onde se senta.
E por fim um coelho que escarafunchou e se aliviou no canteiro do jardim e ainda deu para cantar, qual quim Barreiros, a garagem da vizinha e outras garagens que tais.
Feliz por estar cada vez mais debaixo de água estou eu, ainda que saiba de ciência certa, que vou ficar com as águas onde nado mais conspurcadas com os esgotos da romaria.
O post previsto para hoje não era nada disto, mas pensei que não podia perder a oportunidade para dizer duas sobre a romaria e assim, à última hora, resolvi-me por este.