(Esta fotografia foi obtida utilizando os escassos recursos disponíveis)
É um velho relógio de mesinha de cabeceira, com caixa de madeira preta trabalhada e com umas incrustações de metal, já incompletas. Tem todo o ar de ter sido prenda de casamento, mas já ninguém me pode informar disso. Também era despertador, mas agora (fruto certamente de intervenções avulso de “relojoeiros” amadores, pois sempre abundaram na casa) já se fixou eternamente nas 5 menos um quarto. Pelo menos está certo duas vezes em cada 24 horas, coisa de que muitos relógios não se podem gabar.
Na outra mezinha está outro relógio mais modernaço, dito digital, com todo o ar de ter sido comprado numa grande superfície ou numa loja dos chineses. Esse marca as horas mais ou menos certas, desperta quando o mandam e dá informações preciosas quando, sem ninguém lhe perguntar, diz que a fila de trânsito já chega à 2ª ponte do Feijó e que também na VCI o trânsito se faz com dificuldade. Aqui, onde estão a “relíquia” e o “modernaço”, não há trânsito digno de ser noticiado.
Hoje, ao reparar que a “relíquia” tinha o mostrador deslocado, estando as 12h no lugar da 1h, dei-lhe um toque e sempre ficou com um aspecto mais sério.
Ele agradeceu e, piscando-me o olho – o que fez tremelicando o ponteiro dos minutos – perguntou baixinho: “quando é que esse fala-barato se vai embora?”
Eu sorri disfarçadamente e sem dizer nada (não sou tipo de falar com relógios, ainda por cima parados no tempo) virei-lhe as costas e fui à vida.
Mas depois pus-me a pensar que afinal ele é mesmo o relógio que me convinha ser. Por ele o tempo não passa…
Talvez um dia destes mande o da “2ª ponte do Feijó” dar uma volta…