Estava eu a descansar os olhos, olhando para um cardume de petingas que por ali volteava, quando ouço umas gargalhadas de alguém que se aproximava. Passados uns momentos também passei a ouvir a conversa que provocava essas risadas. Deixei-me ficar quieto e reparei em duas loiras, equipadas a rigor, que se dirigiam para a entrada da minha caverna.
Como suponho que já perceberam, eu não estava lá, estava aqui, senão não me era possível observar o cardume a que fiz referência logo na 1ª linha.
Uma das loiras trazia um microfone e a outra trazia uma máquina fotográfica ou de filmar, àquela distância não dava para ver bem. Parece que vinham a mascar umas pastilhas, mas já deve ser invenção minha, pois como poderia eu ter a certeza, se além de estarem de costas, ainda por cima eu só via as botijas do oxigénio, as barbatanas e parte das máscaras? E como, nestas circunstâncias podiam mascar pastilhas?
Espero que, entretanto, já tenham percebido: hoje estou numa mesmo de Carapau, aqui debaixo de água, a pensar na vida. Ou melhor estava a pensar, antes de ver aquela aparição das loiras. Elas entraram pela caverna dentro, com o à vontade das visitas habituais, quando a verdade é que só lá estiveram uma vez, faz tempo, quando tivemos “aquela conversa”.
Resolvi portanto dirigir-me para lá.
Quando entrei estavam elas a acariciar as algas (não confundir com acariciar as nalgas…) talvez a lembrarem-se de coisas, ou talvez só a apreciar a macieza das ditas. Preguei-lhes um susto, fiz-lhes sair muitas bolhinhas de ar com os gritinhos e foi aí que começou a conversa.
- Hello mister Carapau, tudo ok com usted? – E foi nessa altura que eu percebi que elas agora eram jornalistas do Finanxial Taimes. Tinham mudado de clube, ou seja, de jornal.
CC – Que as traz por cá de novo?
FT – A crise, mister Carapau.
CC – Vieram então de crise? - Perguntei eu a fazer-me engraçadinho.
FT – No, no, viemos de barco até ali e depois descemos até aqui.
CC – Claro. Para chegarem ao meu nível têm de descer e muito…
FT – Oh! No, no, Carapau ser muito do good, como se diz? Ah sim muito bão, very simpatic e…
CC – Deixa-te de histórias e diz ao que vens. Navalheiras?
FT – Oh! Navaleras ser muito good, nós termos gostado muita da outra vez...
CC – Também eu.
FT - …mas nós agora ser do Finanxial Taimes e só fazemos entrevistas sobre economia e finaças, perdão, finanças. Que nos diz desta crise?
CC – Olhem minhas queridas. Esta crise das “finaças” é uma crise do caraças.
FT – Oh! Oh! Carapau sempre a brincar…
CC – A brincar? Então se não é do caraças é do quê? Não querem que vos explique…
FT – Oh! Não, não. Acha então que…
CC – Claro que acho. E até podia dizer mais. Que esta crise é ainda…
FT – Por favor, Carapau, não diga mais nada.
CC – Passamos então às Navalheiras?
FT – Si, si, mas antes deixe-me agradecer esta entrevista esclarecedora e permita que agora a minha colega tire umas fotos…
CC – A mim?
FT – Oh! No, no, às Navaleras…
E foi assim que naquela tarde acabei a petiscar umas Navalheiras acompanhadas por umas loiras… (versão 1)
E foi assim que naquela tarde acabei a petiscar umas Navalheiras, acompanhado por umas loiras… (versão 2)