Há gajitos que começam a roubar desde putos. Começam por roubar o leite à mãe quando a apanham distraída, depois roubam no infantário as chupetas aos colegas, continuam pelos brinquedos, depois lápis, borrachas e afias, passam a roubar lá em casa um dinheiro, aprendem a jurar que não foram eles, nem pensar nisso, “olha que me ofendes pai”, e assim seguem pela vida fora. Quando os roubos passam a um escalão superior vestem Armani, camisas sempre impecavelmente novas, gravatas discretas, a mesma cara de pau “não recebo lições de nada e de ninguém”.
Ao longo da vida sempre continuaram em contacto com os amigos “roubadores” e vão formando “associações de amizade” para desenvolver os seus “negócios”.
Têm uma linguagem própria, uma imensa falta de respeito por tudo e todos e fazem publicamente prova da sua falta de vergonha com a mais estanhada lata. Uma grande parte do respeitável público gosta deles e das suas habilidades, talvez porque no fundo gostava de ser como eles. Destes, alguns sonham em entrar na “roda dos amigos” e poder um dia, também “negociar com eles”.
O diálogo que a seguir transcrevo não é fruto de nenhuma escuta, legal ou ilegal, não meteu juízes nem procuradores, nem foi escutado num qualquer não café. Imaginei-o e escrevi-o. Depois reli-o e não fiquei nada contente com a minha imaginação. A realidade suplanta-a de longe.
Aviso: Este post contém expressões e situações que podem ferir a susceptibilidade de algumas pessoas. Se estiver nesse grupo, não continue a leitura.
O
- Olá pá!
- Olá! Como estás?
- Bem, cada vez melhor. E tu? Tá tudo a correr bem?
- Tudo jóia. O tipo lá de cima já se chegou com mais algum.
- Ai sim? Ainda bem. Acho que temos também de apertar um bocado com os outros gajos.
- Já lhes dei uns toques…
- Se os toques não resultarem partimos prá porrada. Apertas aí a tarraxa que os gajos até se cagam. Cambada de filhos da puta! Já vistes isto?
- Já. É tudo a mesma gajada. Aparecem aqui de chapéu na mão a cagar e a tossir e depois de terem o negócio feito tentam fugir com o cu à seringa. Mas acabam por vir às boas, senão já sabem que se fodem.
- É assim mesmo pá! Esses gajos até parece que gostam…Agora temos de tratar da saúde àquela gaja e àquele gajo que me andam a chatear.
- Já falei com o Chico. Já lhe disse que se precisasse de guita para os foder, eu arranjava aqui.
- Claro! É para isso que aí estás.
- A ti o devo, isso não esqueço.
- Isso não é para nós, pá. Hoje tu, amanhã eu. És um porreiro, pá! Os amigos são para as ocasiões. Lembras-te daquela vez…
- Claro que lembro. E amanhã se houver porras cá estou para dar o peito às balas…
- É pá, não exageres…não vai haver porra nenhuma. São todos uns filhos da puta e capados e vêm cá comer à mão.
- Assim espero pá. Olha! Queres que mande a guita para aquele sítio?
- Uma parte sim. A outra tem de ser para pagar umas despesas. Vamos fazer uma campanha de promoção e essa merda custa dinheiro.
- Como queiras.
- Estas porras destas negociatas dão bom dinheiro, mas depois temos de sustentar uns tantos cabrões…
- Cabrões, filhos da puta, paneleiros e “senhores sérios”…
- Ah! Ah! Ah! Essa de sérios tem piada.
- E achas que um dia não aparece por aí nenhum cabrão a meter o focinho nestas merdas?
- Não creio. Os gajos acagaçam-se todos. Têm todos rabos de palha e além disso gostam do bom e da boa vida. E têm filhos, sobrinhos, amigos…enfim, quem tem cu tem medo.
- Mas se por qualquer motivo der para o torto…
- É pá! Descontrai-te que eu cá estou para acabar com tudo. Tenho aí uns amigos nos sítios certos, qualquer merda que haja acaba depressa.
- Já sabes que tenho toda a confiança em ti…
- Claro pá! Somos amigos.
(…)
Mais do que fazer um post, que aqui entre nós nem é muito bem conseguido, andava a precisar de fazer esta catarse. Não faz o estilo do Carapau, mas nem sempre o estilo é tudo. Além disso, há tipos que não consigo imaginar a falar que não seja daquela maneira, ou ainda pior.
“Podia ter evitado os palavrões? Podia! Mas não era a mesma coisa”.