A dúvida, a eterna dúvida que me assalta de vez em quando.
Só na 2ªfeira soube que tinha um defensor na AR. Dei um salto de tal tamanho que saí fora de água, como dizem que fez o Arquimedes, mas esse sem barbatanas. Corri ao frigorífico onde tenho um espumante super reserva Murganheira, pronto para comemorar qualquer coisa digna de comemoração, agarrei a garrafa pelo gargalo e preparava-me para a abrir quando... me assaltou a tal dúvida.
Espera aí, falei para as minhas escamas. Quem me diz que ele é o que diz? Há qualquer coisa de errado logo à partida. Pois se ele se propõe defender os animais e a terra, como é que faz? Diz que não come carne nem peixe, só vegetais. Mas os vegetais não são filhos da terra? E propõe-se defender a terra comendo-lhe os filhos? Quer dizer, não vai querer que se pegue um toiro pelos cornos nem mesmo de cernelha, mas vai-se à alface, à lombarda, à cenoura e mesmo ao rabanete e chama-lhe um figo? (Sendo que o figo, mesmo não sendo um fruto, não deixa de ser um parente embora “afastado” -2 ou 3 metros que seja- da terra. E quem me diz a mim, que comendo ele os filhos da terra não coma também outros…?)
Tornei a abrir o frigorífico e meti de novo lá a garrafa.
Sentei-me a raciocinar. A mim, Carapau velho e com espinhas já ossificadas (cada espinha é uma lança apontada à garganta de quem me queira atacar) não me tentará comer, mesmo que eu esteja em repouso aqui no leito de algas. Á Catarina Martins (supondo que se ele vai sentar ao lado ou perto) também não me parece que tenha dentes para a comer, mas quem me diz a mim que se apanhar um jaquizinho, um cachuchinho, uma lulinha (esta nem projeto de espinhas tem) mais ou menos distraídos ele não os traga? (Do verbo tragar, não do verbo trazer, ainda que também os poderia trazer às boas…)
Sim, porque o homem vai ter de se alimentar, sem ser de algas e limos (que neste caso já poderia dizer que não são da terra, pelo menos em sentido restrito) e portanto dei o meu passo atrás e por aqui fico.
De qualquer maneira de olho alerta.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Olha Lince amigo, gosto de ti, porque não enganas ninguém. Tudo quanto mexa, só não comes se não fores capaz e ao mesmo tempo, só comes o que anda em terra e nada que se mova só na água.
Zeca: - Eh pá meu, vens com ar de quem tem uma fábrica de água a ferver!
Tó: - E tu com ar de quem tem falta de peso.
Z: - Por acaso nem me queixo disso. Graças a Deus que…
T: - Tá bem; chieira não te falta.
Z: - Ouve lá oh meu, disseram-me que andas na campanha?
T: – Pois ando e atão?
Z: - Aquilo deixa bago?
T: - Dá pró petisco…
Z: - Pelo que tenho visto, febras não faltam.
T: - Escapa; mas aquilo também é filme que só mete índios.
Z: - Deve ser ganda estopada…
T: - Oh pá, aquilo é só para quem emprenha pelos ouvidos. Eu só quero o meu.
Z: - Mas dá para abichares umas comezainas.
T: - Se dá. Um gajo sai de lá meio engasolinado e às vezes, quando a chicha é dura, um meco até sai com dores no garfeiro.
Z: - Andas só cas bandeiras ou aceleras nalgum charuto?
T: - Faço de tudo, mas charutos não entram por lá. É tudo alta cilindrada, que aquilo é sempre a esgalhar.
Z: - Tás cheio de guito não?
T: - Dá prás despesas.
Z: - Por acaso … se tivesses aí algum a mais…
T: - Olha-me este… para que queres tu o bago?
Z: - Eh pá, tenho aí uma carne da perna apalavrada, aquilo com um almocito…
T: - Tens uma lata! Eu entrava com o guito e tu ias gastá-lo com uma chantra qualquer. Não me faças rir que me cai a cramalheira.
Z: - Chantra nada, vê lá como falas. Fazenda de primeira, já disse.
T: - Tá bem, mas não contes comigo.
Z: - Julgava que eras meu amigo…
T: - Amigo sou, mas não sou totó…olha tenho de meter os calcantes a caminho, que a caravana parte daqui a pouco.
Z: - Tá bem, mas não esperava essa de ti. Lembras-te daquela vez que eu te…
T: - Eh pá, depois das eleições a gente fala. Prá semana …
Lince amigo, desta vez não metes aqui o dente, que tu não topavas uma e ainda me estragavas o arranjinho…