Ainda a (des)propósito do acordo e desacordo ortográfico, pedi ajuda a um senhor de farta bigodaça, que se disponibilizou para fazer parte do post desta semana. Aqui fica a colaboração dele:
“ Leitores! Se ha verdade sobre a terra, é o romance, que eu tenho a honra de offerecer ás vossas horas de desenfado.
Se sois como eu, em cousas de romance (que no resto, Deus vos livre, a vós, ou Deus me livre a mim) gostareis de povoar a imaginação de scenas, que se viram, que se realisaram e deixaram de si vestígios, que fazem chorar, e fazem rir. Esta dualidade, que caracterisa todas as cousas d’este globo, onde somos inquilinos por mercê de Deus, é de per si um infallivel symptoma de que o meu romance é o unico verdadeiro.
Eu sou um homem, que sabe tudo e muitas outras cousas. Não espreito a vida do meu próximo, nem ando pelos salões atraz d’uma idéa, que possa estender-se por um volume de trezentas paginas, que, depois, vil espião, venho vender-vos por 480 réis. Isso, nunca.
Tudo isto que eu sei, e muito mais que espero saber, é-me contado por uma respeitável senhora, que não vai ao theatro, nem aos cavallínhos, e que tem necessidades orgânicas, mas todas honestas, e, entre muitas é predominada pela necessidade de fallar onze horas em cada dez. Desde que tive a ventura de conhecel-a, não invejo a sorte de ninguem, porque vivo debaixo das mesmas telhas com esta boa senhora, e posso satisfazer a mais imperiosa necessidade da minha organisação, que é estar calado. É que não podemos fallar ambos ao mesmo tempo”.
(…)
Chegados aqui, pensarão: “este tipo passou-se”.
A verdade é que “ainda não me passei”. Achei piada deixar transcrita uma parte do prefácio do Camilo Castelo Branco (o tal da farta bigodaça a que me referi) a um dos seus romances.
Foi publicado a 1ª vez em 1855 no Porto e a 6ª edição, que é de 1918, em Lisboa. (Foi desta última que me servi para extrair aquele pedaço de prosa).
E porque transcrevi isto?
Para se ter uma ideia de como se escrevia há um século atrás (refiro-me à ortografia). Também para deixar a pergunta: por que então os “puristas e defensores” (alguns, uma pequena parte aliás) da pátria língua que estão contra a nova ortografia não defendem que devíamos escrever como há um século? Ou há dois, ou há oito?
Também não entendo como “esses” exijam, dos meios de comunicação onde escrevem, que os seus textos sejam publicados segundo a “velha” ortografia e esses mesmos meios de comunicação, que seguem as regras do novo acordo ortográfico, lhes aparam as “birras”.
Quanto ao romance do Camilo, (re)li as primeiras páginas e dei umas sonoras gargalhadas. Não fora o trabalho que me daria e ele passaria a ser colaborador assíduo do blog. Assunto a pensar…
O Lince estava danadinho para aparecer aqui e estragar-me a obra. Mas eu amarrei-o curto e nem os dentes o deixei mostrar. Querias não, ó Lince?
Não me lembro qual era o escritor ou músico que, quando estava a criar a sua obra, punha os pés em água gelada. A explicação era que assim o sangue afluía em maior quantidade à cabeça, permitindo-lhe trabalhar mais e melhor.
Eu que estou aqui com os pés quase gelados a tentar escrever um post para não falhar o desta semana, não consigo mais que deixar aqui a prova que com o frio (sim, aqui onde me encontro neste momento está frio) não funciono. Pois se mesmo com calor já não funciono bem…
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
E tu Lince amigo, funcionas com o frio?
Ora aqui está uma “atividade” em que somos o 1º da União Europeia. Melhor seria chamar-lhe um “encerramento de atividade”, pois assim fica tudo mais conforme. A “encerrar” somos muito melhores do que a “abrir”, qualquer que seja a atividade considerada.
A (não) “atividade” em questão são os divórcios. Em 2012, enquanto em Portugal 74% dos casamentos foram desfeitos (“fim da atividade”) a média da União Europeia ficou-se pelos 47%. Muito têm que aprender estes europeus... E os malteses, coitados deles, “só” conseguiram chegar aos 15%. (Entre parêntesis convém dizer que já houve, noutros tempos, uma forte ligação dos portugueses com Malta e portanto é de considerar isso nesta avaliação. Para aqueles 15% devem contribuir em muito os descendentes de portugueses…).
Considerando os últimos 50 anos, o de melhor colheita casamenteira foi o de 1975 com 103.125 e o de menor colheita (por parte das empresas que se dedicam aos festejos deste tipo de eventos) foi o ano de 2014 só com 31.478; e para se atingir este número foi preciso a valiosa contribuição dos casamentos “entre pessoas do mesmo sexo”, com 308 enlaces.
Quanto a divórcios o ano “melhor” foi o de 2002 com 27.708. No mesmo ano houve 56457 casamentos.
Em 2013 o saldo entre casamentos e divórcios foi o mais fraco, com uma diferença só de 9473.
Estes números deverão levar a pensar seriamente os empresários dos Tascos, Restaurantes, Quintas & Cª, que se dedicam a realizar as festas (leia-se “comezainas”) dos casórios. O melhor é começar a investir em força nas festas de Separações & Divórcios, onde se vai dar um “boom” no futuro próximo. Este tipo de festas pode ter algumas vantagens como p. ex. o de, ao proporcionarem contactos entre pessoas, poderem levar a futuros matrimónios, donde resultarão futuros divórcios que levarão a futuros aumentos da faturação. Um nunca mais acabar de negócios.
Outra atividade, onde prevejo um aumento significativos de proventos, é a das empresas de “Alcoviteiras & Inculcadeiras”. É um facto adquirido: só haverá divórcios se houver casamentos. Caso para se dizer que um negócio não se pode divorciar do outro.
O assunto dava panos para mangas e ainda sobrava fazenda, mas por agora fica esta singela introdução.
E, feita a introdução, pode ser que um dia volte ao tema, melhor dito, aos temas pois isto está tudo ligado.
Nota: os números foram retirados do portal “Pordata” e constam das estatísticas. A conversa é minha e não está sujeita ao visto prévio do Tribunal de Contas.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
E tu Lince amigo, já pensaste neste assunto. Olha que por aí não há muito por onde escolher…
No dia 7 de maio de 1824 deu-se a estreia da 9ª Sinfonia de Beethoven. Já lá vão 191 anos.
Hoje, dia em que normalmente aqui aparece mais um post, não tendo tido nem tempo nem talento para o escrever, esta efeméride vem mesmo a jeito de me dar uma ajuda.
Não,não iria colocar aqui a Nona completa. Seriam só meia dúzia de minutos, com a conhecida “Ode à Alegria”. Acontece que um problema técnico me impede de colocar aqui o video. Fica a referência.
Por coincidência a 7 de maio de 1945 a Alemanha assina a sua rendição, terminando assim uma guerra que durante anos devastou a Europa, que nesse dia foi varrida por uma “Onda de alegria”.
Dois bons motivos para eu não escrever mais nada.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
E tu, Lince de quem não tenho notícias, já alguma vez ouviste a Nona?
Ah sim, a tua guerra deve ser outra e sem fim.