Quinta-feira, 26 de Março de 2015

Receita

Tenho entre mãos a receita para fazer um “Folar Rico de Valpaços”, nome pomposo para uma bola de carne. Vai ser o meu trabalho amanhã, daí que já tenha entrado em retiro espiritual, para tudo correr da melhor maneira.

Por esse motivo fica prejudicado (ou não), por manifesta falta de concentração, o post desta semana.

Estando a referida receita publicada na net (receita original, com enchidos, presunto e frango “do campo”) não fazia sentido eu publicá-la aqui. Dizer que já a fiz uma meia dúzia de vezes (ou menos) e portanto já conheço os truques todos, não faz muito sentido, porque a tenho feito tão espaçadamente que não estou suficientemente “rotinado” e toda a vez é como uma primeira vez.

O cuidado, posto na escolha da matéria prima, dá uma certa garantia da qualidade.

O resto logo se verá.

Neste caso a receita também serve como “receita para fazer um post sem ter nada para dizer”.

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.

E tu, Lince amigo, como te vais dando com a tua nova vida? Ainda te vais aguentando? Se já provaste alguma vez este folar nem te pergunto. Tu és mais de rações…    

publicado por Carapaucarapau às 17:58
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Quinta-feira, 19 de Março de 2015

A história de um certo "1"

Quando contei a história do Adrião e do bando de salteadores, disse que ele tinha tido 4+1+4=9 filhos e que talvez contasse a história daquele “1”.

Ela aqui vai:

Com 4 filhos ainda relativamente novos Adrião ficou viúvo. O mesmo é dizer que ficou sem saber o que “fazer à vida”, já que a vida dele era “malhar ferro” e fazer coisas (filhos também, pelos vistos).

Teve logo de arranjar uma empregada para tratar da casa e dos “pequenos”. Como acontece muitas vezes, acabou por “tratar dele” também. E tão bem ou tão mal que passado algum tempo estava grávida. Que fazer, que não fazer, deve ter sido a questão que se levantou entre eles ou em cada um deles. Adrião era um homem prático e não podia perder muito tempo em lucubrações, digo eu agora aqui sentado a escrevinhar isto. Teve uma conversa com a Senhora e disse-lhe que o melhor era casarem e ficava tudo resolvido.

Diz a história que ela terá respondido assim: “1-2-3-4-5-6, e apontando para a barriga, 7”. Depois olhou para ele e acrescentou:”Muito obrigado, mas não aceito, o Sr. Adrião arranje outra que eu vou-me embora”. E foi.

E ele “arranjou outra” casou 2ª vez e teve mais 4 filhos.

E ela?

Passado pouco tempo casou com um Senhor que tinha qualquer coisa de seu, o filho nasceu e supõe-se que terão sido felizes para sempre, pelo menos consta que tinham uma boa vida, sem dificuldades.

Acontece que os outros oito eram irmãos deste (meios irmãos, já que ele era um filho “entre duas camas”, como se diz lá para as minhas bandas). E o “melhor da festa” é que todos eles o tratavam por primo (e ele também os tratava por primos) e tinham por ele muita consideração e respeito. Quando qualquer um dos oito tinha um assunto mais melindroso ou complicado para tratar, em geral ia pedir a opinião do “primo”. Dos nove ele era a pessoa “mais considerada da família”. Como exemplo deixo aqui o facto de o meu avô ter convidado o “Primo” para ser padrinho do 1º filho que teve.

Por isso, quando criança, acompanhei algumas vezes o afilhado nas visitas que fazia ao padrinho, que para mim era “um velho de aspeito venerando” ** com o seu bigode branco e cabelo a condizer.

Claro que nessa altura eu não sabia desta história.

 ** Para quem não se lembre: Camões - Os Lusíadas - o velho do Restelo.

 

 Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

E tu Lince? Pelo que sei nem “uma cama” quanto mais “entre camas”. Soube que a tua companheira “já era”, nem um chá de ervas lhe fizeste para ver se a salvavas? Eu avisei-te dos perigos que iam correr.

Habituado à ração diária sem teres de dar um passo…

E olha que a época da caça nem abriu ainda… Arranja outra companheira, nem que seja uma gata vadia, que te ensine a fazer pela vida.

Quem te avisa…

publicado por Carapaucarapau às 14:09
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Quinta-feira, 12 de Março de 2015

Há quanto tempo...

No longínquo 9 de Março de 2008 este blog montou banca neste local. Antes tinha vendido peixe noutro sítio, era então um garboso Carapau de Corrida, mas como o “mercado” onde tinha a sua banca fechou, teve de mudar de local e de mudar de nome. Como a imaginação não era muita (e continua a não ser) mudou para CarapauCarapau porque, disse não sei que filósofo, as coisas dobradas também têm o seu encanto. Para comemorar a data e a lata de ter esta banca aberta há tanto tempo, o Carapau, agora muito mais sábio, resolveu republicar (atenção, não tem nada a ver com a dona república) um dos primeiros posts, que nessa altura cheiravam muito a peixe e a maresia. E vai tal e qual como da 1ª vez, respeitando cor e tudo o resto. Ainda estive tentado a dar-lhe “uns toques”, mas optei por manter o original. Ele aqui fica:

A Ostra

Nas redondezas já todos tinham percebido que a Ostra andava caídinha de todo pelo Lagostim. E também todos achavam que aquilo não ia acabar bem. A Chaputa que andava sempre por ali e que nem era de se meter na vida de ninguém, não resistiu e chamou-lhe a atenção para a má fama do Lagostim, que lhe desculpasse de se estar a meter na vida dela, mas estava com pena de a ver a ir na conversa dele. “A menina sempre tão fechada e agora a dar trela para um farroncas daqueles”. A Ostra entreabriu a concha, olhou-a de soslaio e resmungou qualquer coisa como “não há problema”. O memo aconteceu com o velho e grande Mexilhão que era seu vizinho e a conhecia desde pequena e que também lhe chamou a atenção. A esse, ela nem respondeu. Deve ter pensado “o que é que este velho, preto e musguento quer?” e fechou-se na concha. Mas quando o Lagostim se aproximava com aquele andar aos saltinhos, as pinças no ar a dar a dar parecendo um bailarino de flamenco, ela escancarava a porta e sorria para ele. Que há muito tinha percebido como ela estava perdidinha e então mais salamaleques fazia. Ao princípio eram só uns olhares, uns sorrisos, uns passos de dança da parte dele e um entreabrir de concha da parte dela. Depois vieram umas trocas de palavras apressadas, até que actualmente já estava estabelecido um diálogo sem rodeios. E foi numa dessas tardes em que a vizinhança estava toda a dormir a sesta que as coisas avançaram mais. Ele veio com a cantilena toda, cantou-lhe das boas e das bonitas, a voz grave e os ademanes de dançarino, ela abriu-se toda e foi uma tarde em cheio. Depois ele despediu-se, ela ficou a vê-lo a afastar-se até dobrar o rochedo e só nessa altura, quando ia a fechar-se é que soltou o tal grito que alertou toda a gente. Apareceu estremunhada a vizinhança “o que foi, o que aconteceu” e a Ostra meio envergonhada entre soluços e lágrimas a dizer “foi ele, foi ele, roubou a minha pérola”. O Carapau ainda meteu a ponta do focinho a ver se não estaria para ali meio escondida, mas não havia dúvidas, tinha desaparecido mesmo. E todos a falarem ao mesmo tempo, “eu bem te avisei”, “ eu bem desconfiava”, “ele não era de confiança”, “tu tiveste a tua culpa” e o Carapau que não gosta de confusões, afastou-se e foi narrar a ocorrência.

 

Amigo Lince: neste é que nem metes prego nem estopa. Não existias, eras ainda um não lince. Hoje aposto que nem sabes o que é uma ostra, nem sabes como ela “vale por duas”, nunca entenderias uma coisa destas. Nisso estás bem acompanhado, porque também nunca entendi como ela, sendo como é, foi na cantiga do Lagostim. Fraquezas…

 

publicado por Carapaucarapau às 10:54
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Quinta-feira, 5 de Março de 2015

Uma história de salteadores (II)

(Continuação do post anterior)

 Adrião estabeleceu então uma estratégia, para não voltar a cair na mesma situação. Faltou à feira seguinte para poder fabricar mais material que levaria duas ou três semanas mais tarde à feira, mas usando de astúcia.

Assim, na próxima feira aonde foi, levou uma quantidade de produtos semelhante à que normalmente levava e que ia à vista na carroça e, escondidos dentro duns sacos e debaixo duns molhos de feno (para alimento da mula) quase outro tanto material. Como de costume vendeu praticamente tudo, mas quando se preparou para regressar, pôs a descoberto o que até aí estava escondido e escondeu a maior parte do dinheiro realizado, levando na bolsa só uma pequena parte. O esquema estava, caso voltasse de novo a ser assaltado, em dizer que a feira tinha sido fraca e que não tinha vendido quase nada, como podiam verificar pelo material que trazia de volta.

E iniciou a viagem de regresso. E mais ou menos no mesmo local o bandsai-lhe ao caminho. Quando se preparava para lhes entregar a bolsa, com grande espanto seu, os salteadores devolveram-lhe o dinheiro que lhe tinham tirado da outra vez, com a recomendação que continuasse a portar-se bem e sem dizer nada a ninguém.

A partir daí Adrião deixou de ter cuidado e deixou de esconder as coisas. E durante muito tempo, ora era assaltado ora lhe restituíam o dinheiro “sacado” no encontro anterior. Quer dizer, passou a funcionar como o Banco dos salteadores, a quem concedia crédito “emprestando” sem juros.

O tempo passou, a vida foi correndo, a “conta corrente” Adrião/Bando continuava a ser movimentada, até que um dia…

Estavam as contas “saldadas”, de maneira que quando lhe saltaram ao caminho ele puxou logo pela bolsa para a entregar, quando eles lhe disseram: “Não, hoje não é nada disso. Salta da carroça e monta este macho que aqui temos”.

“Mas…”- ainda ele disse, mas foi logo interrompido. “Sem conversas faz o que te estamos a dizer”.

E não teve outro remédio, pois os outros eram 4 ou 5 e armados e ele era só um e tinha mulher e filhos em casa.

Durante a caminhada Adrião pensou o pior. Claro que nessa altura ele já tinha contado, embora pedisse o máximo segredo, à mulher e a um ou dois irmãos o que lhe estava a acontecer. E quem lhe diria, pensava ele agora, que nenhum deles tenha contado a outro ou a outros e que o “segredo” já fosse do conhecimento da guarda e que esta…

Nem queria pensar em semelhante coisa, mas a verdade é que não pensava noutra coisa. Ou melhor, pensava sim nas consequências.

Até que chegaram ao destino, disseram-lhe para desmontar, tiraram-lhe a venda dos olhos e viu-se rodeado por uma dúzia de homens que o miravam e lhe sorriam.

Resumindo: era o convidado de honra de uma festa do bando, havendo um porco a rodar no espeto para a “festa” e um pipo de vinho ali ao lado.

O Chefe do bando agradeceu-lhe a “cooperação” que lhes vinha dando (forçada, pensava ele com os seus botões), pois muitas vezes os tinha tirado de dificuldades quando o “negócio deles atravessava períodos de crise” (onde é que eu já ouvi isto, penso eu agora).

Porco comido, vinho bebido, festa acabada, vendaram-lhe outras vez os olhos e puseram-no de novo na estrada onde a carroça e a mula o aguardavam. Assim regressou a casa nesse dia.

Esta é a história que ainda hoje “corre” entre alguns membros da família de Adrião. Alguns acrescentam-lhe uma variante. Segundo essa versão, eles que no fim da “festa” lhe terão dito “ e agora passa para cá uns tantos “réis” para pagar a despesa".

Eu que sou um dos que sabe esta história familiar, na qualidade de bisneto de Adrião, não acredito na variante, a ter em conta o comportamento do bando.

Muitos são hoje os descendentes deste honrado e competente ferreiro, pois deixou 4+1+4=9 filhos, da qual descendência, eu só conheço pessoalmente uma pequena parte. (Suponho que é a única parte que sabe esta história).

Talvez qualquer dia eu conte aqui a história daquele “1” que aparece ali na “soma”.

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.

E tu lince, tens alguma história semelhante dum qualquer teu antepassado, ou nem antepassados tens? És filho dalguma inseminação artificial, não?      

publicado por Carapaucarapau às 14:29
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