Não sou de “passagens de ano”. Nunca fui, mas à medida que eles passam, mais me enquisto e tento esquecer. Nunca entendi a razão de se festejar a passagem do tempo. Cada dia, cada mês cada ano que passam, são menos um dia, um mês, um ano. Cada vez mais sinto que me estão a fazer falta.
Portanto a este que vai entrar daqui a pouco tempo, assobio para o lado e meto-me com os meus botões.
Sempre foi assim? Mais ou menos, com algumas exceções. Essas exceções disseram respeito a alguns dos primeiros anos em que “assentei arraiais” em Lisboa. Eu e mais quatro ou cinco amigos, “festejámos” a passagem à mesa dum dos mais conceituados restaurantes da capital, com uma lauta ceia. Depois este “evento” deixou de se realizar e passei a ignorar a noite de passagem de ano.
Duas ou três ficaram-me gravadas. Numa delas estive a trabalhar até quase à meia noite (ainda por cima para uma entidade com a qual não tinha nenhuma obrigação de o fazer, mas fui “obrigado”) e numa outra, andava a dar uma volta pela Baixa lisboeta e quando já havia uma grande aglomeração de gente no Rossio (onde era habitual comemorar-se a meia noite), achei aquilo tudo disparatado e fui para casa. Suponho que foi a minha 1ª passagem de ano em Lisboa. Tinha um quarto na casa dum simpático casal já de certa idade e, mal cheguei a casa, deitei-me. Devia faltar uma meia hora para a meia noite. Quando já estava quase a adormecer, os donos da casa bateram à porta do quarto a perguntarem se eu estava doente, respondi que não e então pediram por todos os santos para eu não passar o ano na cama e obrigaram-me a levantar. Devo ter “festejado” com eles comendo uma fatia de bolo rei e bebericando qualquer coisa. Disseram então que dava azar passar o ano deitado.
Nunca notei que isso me acontecesse, pois passei alguns deitado, mas também é verdade que nunca me saiu a Lotaria nem o Euromilhões. Houve mesmo um ano em que o passei no Casino a jogar (em pé) e nem por isso as coisas mudaram.
Continuo na minha: quietinho, sem chatear ninguém nem ser chateado ainda é a minha maneira. Este ano, nem a minha vizinha da frente me consegue arrancar daqui para ir comemorar ali em casa dela, bebendo um copo e comendo as 12 passas. Eu nem gosto de passas. Além de não terem nada para comer, ainda as grainhas se metem nos dentes. Só não meti algodão na campainha para ela não trrrrrintar, porque a vizinha podia julgar que estava avariada e punha-se a bater à porta, sendo que a porta não tem culpa nenhuma de eu não gostar da passagem de ano.
Faço votos para que todos tenham um bom 2015, mas não elevem muito a fasquia, porque não lhe vejo nada uma boa cara…
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Pois amigo lince, não contes comigo para esta noite. Vais comer uma dose de ração, sozinho ou acompanhado? És mesmo um lince domesticado…