Confrontado com o facto de hoje ser 5ªfeira, dia em que normalmente publico um post, e sem ter nenhuma ideia sobre que escrevinhar qualquer coisa, recorri ao meu arquivo. Tenho meia dúzia de coisas escritas que já não publicarei por ter sido ultrapassado o seu “prazo de validade”, outras que resolvi não publicar nunca e umas tantas sugestões a aproveitar. Destas últimas já aproveitei “as melhores” e não me sinto minimamente inclinado a aproveitar algumas das outras. Conclusão: fiquei no mato sem cachorro, isto é, de mãos a abanar. Aproveitei essa ida ao arquivo para ler umas tantas coisas que lá guardo e de que já nem me lembrava de algumas. E li-as. Algumas li-as integralmente, outras na diagonal.
De que tratam essas “obras”?
Quando me pus esta pergunta cheguei à conclusão que tinha material para o post desta semana. Aqui vai.
Há relativamente pouco tempo (digamos nos últimos 8 ou 9 anos) escrevi com algumas pessoas umas “histórias” a quatro mãos. A escrita dessas “obras” obedeciam a algumas regras, sendo essencial que durante a sua escrita não falaríamos sobre elas, quer trocando impressões quer combinando sobre o desenrolar das mesmas. Cada autor escrevia um capítulo e enviava-o, por mail, ao outro que escrevia o capítulo seguinte
Assim nasceram e chegaram ao fim três obras, que não são hoje “best sellers” porque nunca foram publicadas em papel. Chegaram a estar “abertas ao público” num site da Internet, mas entretanto esse site sumiu e assim estão incontactáveis.
Mas isto aconteceu com os três casos que chegaram ao fim. Há mais quatro ou cinco que morreram algum tempo depois de terem nascido. Em todos os casos um dos autores foi dado como “desaparecido em combate”, isto é, nunca mais deu sinal de vida. Tenho assim umas tantas “obras” incompletas por falência e fuga de alguns “empreiteiros”.
Destas últimas, uma delas chegou a um estado bastante adiantado e ainda pensei em ser eu a acabá-la porque tinha umas “boas ideias” para ela. No entanto, considerando que a regra não seria cumprida (ser escrita por quatro mãos e não por duas) resolvi deixá-la tal como está, incompleta.
Convém dizer, que não foi por desavença entre os autores (a outra parte era sempre uma mulher) que as coisas “abortaram”, mas sim por fuga e desaparecimento. No fundo cumpriu-se uma coisa que é bastante conhecida: a um entusiasmo inicial, segue-se muitas vezes um desinteresse, sobretudo quando é preciso cumprir certas regras. E da falta de respeito pela outra parte nem é bom falar…
Por isso é de realçar os casos em que as obras chegaram ao fim. Podemos considerar que o facto de eu aqui ter contado estas “aventuras literárias” também é uma homenagem a quem cumpriu com o que tinha prometido.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Destas histórias não sabes tu nada, oh Lince, porque nem existias, na altura.
C - Carlos (acabado de chegar): Foi este gajo sozinho que abriu este buraco?
J – José: - O gajo é bom nisto, mas nós demos uma mão.
A – António: - Somos uma grande empresa a abrir buracos. Ninguém nos leva a palma.
G – Gusmão: - Tão bons que qualquer dia nem vamos ter terreno para abrir mais.
F - Francisco: - Isso só acontecerá se deixar de haver gajos para os tapar.
I – Inácio: - Os palermas do costume…
H: - Horácio: Ah, ah, ah!
B – Bruno: - Há e não são poucos.
D – Diamantino: Está aqui um buraco digno de se ver, sim senhor!
E: – Não admira. Este é um buraco Novo.
F: - Horácio: - O buraco velho também foi um belo buraco.
L:– Luís: - Belo e grande: Ainda nem o conseguiram tapar.
H: - Ah, ah, ah!
C: - Ri-te, ri-te que vais ter muito que rir.
G: - Oh Luís, isso está a andar bem?
L: - Depois das primeiras cavadelas, isto alarga que é uma beleza.
A: - Aprofunda-me isso!
E: - Quanto mais largo e fundo melhor.
D: - Estamos a trabalhar muito bem!
J: - Que tal se pedíssemos um aumento de ordenado?
B: - Temos de começar a pensar nisso sim.
L: - Mas vem outro cavar para aqui.
F: - Temos de fazer uma pausa para comermos uma bucha.
H: - Boa ideia, ah, ah, ah!
I : - Comilões!
D: - Quem trabalha assim como nós, bem merece.
A: - Nunca falaste tão bem.
C: - E depois deste, já estão garantidos mais?
E: - A nossa equipa de projetistas já está a trabalhar em alguns.
G:- Só faltava começar a jorrar daí petróleo.
B: - Arranjávamos um lindo 31…
L: - A petróleo não me cheira, mas a merda já e bastante.
D: - É pá, é bom sinal, dizem que dá sorte.
H: - Ah, ah, ah!!!
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Tu não me digas, oh Lince, que também ajudaste a cavar o buraco!.
Canta o cuco, canta o rouxinol,
Canto eu, mas muito desafinado.
Está um lindo dia de sol,
Que faço eu aqui sentado?
Quadras soltas, com pouco jeito
Feitas a escopro e a martelo.
Calculem agora o efeito:
Fico com um sorriso amarelo!
Ainda se eu fosse um Camões,
Um Régio, Pessanha, ou Pessoa…
Mas eu faço quadras com as “mões”
Enquanto o diabo se assoa…
Deve ele andar constipado
Agarrado ao lenço de papel.
E eu para aqui sentado,
A fazer quadras a granel.
“Tens jeito prá desgarrada”
Dizem alguns para me animar.
Eu rio da mentira descarada
E fico sentado, a pensar…
E por hoje cheguei ao fim.
Amanhã hei de fazer mais.
Peço ajuda à rosa e ao jasmim,
Ao cão, ao gato e outros que tais.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince-
Não há aldrabão como este,
Falso Lince da Malcata.
Nem uma palavra converteste!
É preciso ter muita lata!
- Olhe lá ó seu badameco, eu não disse o que você disse que eu disse.
- O que é que eu disse que você não disse, que não tenha dito, ó seu patusco?
- Tenha tento na língua e desdiga tudo o que disse que eu lhe disse, mas não disse.
- Não disse? Ai disse, disse que eu já disse que você disse.
- Ai é assim? Então eu também vou dizer o que você me disse na conversa em que eu não disse o que você disse que eu disse.
- Eu não lhe disse nada do que você vai dizer que eu disse.
- Ai não? Vai ver se disse ou se não disse o que vou dizer que você disse.
- Mas então o que é que você não disse do que diz que eu disse que você disse?
- Não disse nada do que você disse que eu lhe disse.
- Então não me disse nada?
- Sim, não disse nada daquilo que você disse que eu lhe disse.
- E o que é que lhe disse que agora você me diz que vai dizer que eu disse? - Tudo o que você me disse e que depois de eu dizer, vai também dizer que não disse nada do que eu disse.
- Só vou dizer o que você me disse, já disse.
E seja Pedro, seja Paulo, seja Zé Manel, seja Putin, seja António ou mesmo António, ou outro Chico qualquer, é com este “não disse o que você disse que eu disse” que o mundo vai girando. Mal, é verdade…mas eu não disse nada do que você disse que eu disse.
E muito menos escrevi. Até porque “Jádisse” era o cão do meu avô.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince. - Oh Lince maldizente! Tem cuidado, que eu não disse nada do que andas a dizer que eu disse.