Olá !
Estou a fazer a mala enquanto a mana Yura se despede do Chefe. Esta manhã estivemos a fazer a revisão dos carrinhos e já não os alugamos.
Contas feitas, embolsamos umas massas que nos vão servir para futuras viagens. Passamos com distinção nos nossos cursos e já temos alguma clientela assegurada para futuros trabalhos. Ao contrário do que aconteceu a muito boa gente, a nossa estadia foi um sucesso.
Estou a escrever à pressa porque temos daqui a pouco a festa de despedida com toda a tribo. Se ainda estiveres lá por mares de Santo Antão, talvez nos possamos encontrar e petiscar as tuas famosas navalheiras. Caso contrário, entraremos em contacto mais tarde. Se não nos encontramos, mandarei depois umas fotos para veres alguns “milagres”,
Como tiveste ocasião de verificar, o nosso diagnóstico inicial estava completamente certo, os órgãos não tinham conserto. Se já estavam desafinados, acabaram por perder completamente o pio.
E pronto. Vou ali ao cabeleireiro da tribo dar um toque na trunfa.
Até outra oportunidade.
A Yura e a Yara despedem-se com 2 beijos.
P. S. – Adivinha quem me está a ligar neste momento?
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Caro Carapau:
Desculpe-me esta maneira tão familiar de me dirigir a si, já que não o conheço nem de perto nem de longe, ainda que, pelo que contou, tenha estado tão perto de nós. Tão perto que até ouviu uma conversa que mantive com a minha irmã, “ali” perto da ilha de Santo Antão.
Adivinhou! Sou uma das manas que vieram para o Brasil como o fim que já todos conhecem. Eu sou a Yara (nome que adotei aqui no Brasil) e escrevo-lhe para agradecer, em meu nome e no da minha mana, a divulgação que fez da nossa aventura e do nosso objetivo primeiro, que seria “tratar da saúde” ao Sr. Cristiano Ronaldo.
Graças a si, hoje recebemos milhões de “I like” no Facebook e somos contactadas por inúmeras personalidades em todo o mundo para lhes fazermos “milagres”.
Ora embora as nossas mãos sejam “milagreiras”, não fazemos impossíveis nem milagres ao domicílio.
Achando-o merecedor de todo o respeito e consideração vou contar-lhe o que nos aconteceu aqui no Brasil depois de termos passado a certidão de óbito à seleção, desculpe, não era nada isto o que eu queria dizer.
Ao contrário do que o caro Carapau (e bem caro ele está, aproveito para o dizer) disse no seu último post, nós não caímos no samba. Fomos sim contactadas por uma das mais conhecidas tribos de índios nativos, a tribo dos Topàtudo e é juntos deles que nos encontramos há uma semana. Está a ser muito útil a nossa estadia e até estamos a frequentar um curso prático de medicina alternativa. Temos alternado muito, eu e a mana, junto do chefe da Tribo. Como moeda de troca ele permitiu-nos explorar o aluguel (é assim que aqui se chama ao aluguer) dos nossos carrinhos-barcos e o negócio tem sido muito rentável. É mesmo graças a isso e graças às nossas graças junto do Chefe que estamos a pagar o nosso curso. Os índios andam malucos a fazer corridas nos carrinhos e nós a faturarmos. Nem conseguimos corresponder a pedidos que tivemos entretanto para “fazer milagres” tal o trabalho que aqui temos tido. Vou confidenciar-lhe uma coisa, mas fica aqui entre nós. O selecionador de Espanha pediu-nos por tudo para “darmos um salto”até junto deles para ver se (a expressão é dele) “endireitávamos aquilo”. Não pudemos ir e o resultado é que a coisa não se endireitou e já tiraram o bilhete de volta à pátria.
Esperemos que outra “conhecida equipa” não nos chame “outra vez” (o Carapau percebe onde quero chegar, certamente), pois o “órgão” a meu ver já não tem arranjo. Oxalá me engane para não me acusarem do eventual desastre.
A mana Yura (nome adotado pela mana aqui na Tribo) anda feita maluca a “organizar” o Chefe. Eu ajudo-a nas folgas e entretanto trato do negócio do “aluguel” e faço uns biscates a aprender sobre ervas e venenos aqui da Amazónia. Sim estamos em plena selva amazónica, tinha-me esquecido de dizer. Não sabemos quando voltaremos. Estamos encantadas com tudo e sentimo-nos rejuvenescer a cada dia que passa. Só por problemas de ordem técnica não lhe posso mandar umas fotos para o Carapau ver as assinaláveis diferenças entre o antes e o depois.
E não o maço mais por hoje. Renovo os meus agradecimentos por tudo o que fez por nós e espero um dia pôr-lhe as mãos em cima. A mana Yura diz que também.
Enquanto isso não acontece aqui vão dois beijos das Manas.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
“Nenhum critério densificador do significado gradativo de tal diminuição quantitativa da dotação e da sua relação causal como início do procedimento de requalificação no concreto e específico órgão ou serviço resulta da previsão legal, o que abre caminho evidente à “imotivação…”
Pois foi com estas palavras que as manas do post anterior se dirigiram ao Ronaldo quando chegaram ao Brasil.
De facto constataram que ele estava com “diminuição quantitativa da dotação” e não encontraram “nenhum critério densificador para a sua requalificação no concreto”. Ainda tentaram “no concreto e específico órgão” fazer qualquer coisa com as suas mãozinhas milagrosas, mas em breve verificaram que isso só “abre caminho evidente à imotivação”.
Perante uma tal “relação causal como início de procedimento” e tendo verificado que tudo “resulta da previsão legal”, tiveram receio de aplicar os unguentos que alguém bem informado sabia que elas levavam.
Despediram-se dele com abraços e beijos e votos de rápidas melhoras e caíram no samba, para o qual não estavam nada imotivadas.
Enfim, sob o ponto de vista técnico, o objetivo primeiro da viagem foi uma tentativa inconseguida, mas não deixarão certamente de aproveitar a ocasião para contactarem algum pai de santo que lhes aportará mais alguns conhecimentos para futuras viagens com vista a conseguirem a “requalificação no concreto e específico órgão” a que tenham de meter mãos.
E eu, que tenho andado tão falho de ideias, agradeço aos céus estas pérolas que me caíram no regaço e fico a pensar se não terei fazer mais uns convites para me escreverem futuros posts, tanto mais que já lhes pago adiantadamente.
*-*
O período inicial deste post é da autoria dos doutos Juízes do Tribunal Constitucional e faz parte do acórdão que tanta celeuma tem levantado. Foi retirado do jornal Expresso, que por sua vez cita um artigo do Diário de Notícias, fonte primeira do mesmo.
Aqui o deixo sem comentários, servindo-me no entanto dele, para fim bem diferente, como seja o relatar o motivo que levaram duas virtuosas manas ao Brasil.
Agradeço também à sempre bem informada comentadora deste blog, que assina com as iniciais GL, e que se mostrou tão “por dentro” desses motivos.
Sem os 13+1 não haveria este post.
Durante a leitura da pérola de abertura houve umas tantas palavras que me saltaram ao espírito, tais como gongórico e bacoco. Por oposição também vieram à baila outras como escorreito, percetível, simples, direto.
Lembrei-me ainda da autora do “inconseguimento” que, não por acaso, também frequentou “aquela casa”. Haverá fantasmas no palácio?
Se é verdade que o hábito faz o monge, também deve ser verdade que hábito morcegal deve torcer as palavras. Assunto a ser tratado por quem de direito, salvo seja.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
- Oh mana acha que chegaremos a tempo?
- Claro que sim, mana. Os jogos só começam daqui a 1 semana.
- Mas não há maneira de avistar terra! Só vejo água por todos os lados!
- A mana é uma pessimista, irra! Então não vê aquelas manchas escuras lá ao fundo?
- A mana vê?
- Claro que vejo! A mana é mulher de pouca fé. Estamos no rumo certo.
- Como o Pedro Álvares Cabral?
- Quem é esse? A mana conhece cada nome! Era como o Ronaldo?
- Capitão pelo menos também era.
- Nunca ouvi falar. Só me lembro do Maradona.
- Quem? A da farmácia?
- Qual farmácia mana?
- A da esquina. Aquela onde vamos…ai credo! Alguma coisa me picou um pé!
- A mana veio descalça? Não me diga!
- Deve ter sido só uma impressão minha, já nem sinto nada.
- Nem o sapato molhado?
- Nem o pé.
- Que horas serão isto? A mana trouxe relógio?
- Eu não. Disseram-me que era um perigo andar por lá com coisas de valor…
- Pois, mas agora dava-nos jeito. Que horas serão?
- Devem ser horas de comermos qualquer coisa. A mana não trouxe uma bucha?
- Trouxe, claro que sim. Precisávamos era de um sítio seco para comermos.
- Não me parece, mana, que consigamos.
- Vamos conseguir tudo. É preciso é continuar em frente, neste rumo.
- E como sabemos o rumo?
- Guiamo-nos pelas estrelas, mana.
- Não vejo estrela nenhuma, mana.
- Pois não. As estrelas, a estas horas, já estão todas lá.
- Ah!
- Oxalá não chova senão molhamo-nos todas.
- Nem me fale nisso mana! Já viu se chegamos com a bandeira molhada? É capaz de perder as cores…
- A mana comprou-a no chinês?
- Não. Esta ainda é do tempo da loja dos trezentos…
E assim, a falar para passarem o tempo, lá prosseguiram a viagem…
(Conversa ouvida pelo Carapau ao largo da ilha de Santo Antão. Foto gentilmente cedida pelo Cachucho que a retirou duma net, que o queria apanhar a ele).
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.