Quinta-feira, 24 de Abril de 2014

Passeios-2

        

 

Na sequência do post anterior, aqui fica outro passeio “cá dentro”.

Há um alargado par de anos, andava eu por terras de Bragança a meter o nariz aqui e ali, resolvi ir a Rio de Onor. Foi a minha primeira ida a esta aldeia comunitária. Entrei pela rua principal da aldeia, que era em calçada à portuguesa, revestida com bosta de vaca, tantos eram os vestígios do “revestimento”. Nessa altura o r/chão das casas era “habitado” pelo gado vacum, como era usual, por aquela altura, na maior parte das aldeias transmontanas. Chegado ao fim da rua, parei o carro junto à ponte sobre o rio Onor e fiquei ali uns minutos a pensar se haveria de passar ou não para o outro lado. Até aquele momento não tinha visto ninguém na aldeia. Foi então que sucedeu o impensável. Na ponte, vindo “de lá” apareceu um carro (Jaguar verde com aspeto de novo) de matrícula inglesa e com um casal já de certa idade. Traziam ambos um ar espantado, que se distendeu ao avistarem-me. De mapa Michelin em punho, disseram-me que queriam ir para Bragança e perguntaram-me se “por ali” iam bem. Disse-lhes que sim, que só na travessia da aldeia o piso era mau, depois apanhavam uma boa estrada, agradeceram-me e seguiram viagem. Fiquei a congeminar o que lhes teria acontecido. De certeza vinham do lado espanhol, teriam apanhado uma estrada muito má e devem ter desesperado sem saber onde estavam metidos.

Fiquei mais uns minutos na aldeia e acabei por voltar para trás. Uns 5 km depois de sair de Rio de Onor, em pela serra de Montesinho, encontrei o meu já conhecido “Jaguar” estacionado na berma da estrada e uns metros mais afastado, o casal, ambos sentados a uma mesa “de campismo” a almoçarem. Abrandei, acenei-lhes, perguntaram-me se era servido, disse que não e segui viagem.

Fiquei com a impressão que a descompressão que devem ter sofrido quando se apanharam “sãos e salvos”, lhes deve ter provocado uma fome dos diabos.

 

Anos mais tarde, andava eu pela mesma zona e fui à aldeia de Guadramil, que, em linha reta, dista uns 5 ou 6 km de Rio de Onor, mas não havia nenhuma estrada a ligá-las. Foi então que à entrada da aldeia, vi uma tabuleta a apontar para um caminho de terra batida com a indicação “Rio de Onor”. Mais à frente encontrei um habitante e perguntei-lhe se “por ali” se podia ir até à outra aldeia. Disse-me que sim, mas a estrada era de terra batida e pelo meio da floresta, que nem sempre estava transitável, mas se eu fosse por ela me deveria guiar sempre por uns postes de alta tensão que dali se avistavam no cimo da serra, pois teria de passar perto deles. Como estava com um amigo (sozinho não me teria arriscado) lá meti rodas ao caminho, mas passado pouco tempo deixei de ver os tais postes que seriam a nossa referência. Entretanto havia caminhos para a esquerda e para a direita e não fazíamos a mínima ideia por onde seguir. A partir de certa altura, em todas as encruzilhadas passamos a deixar marcas nas árvores para o caso de termos de voltar para trás. Depois de várias tentativas lá conseguimos então entrar em Rio de Onor, atravessando a ponte que há na aldeia e donde, uns anos antes, vi surgir o famoso “Jaguar” verde com um casal inglês.

Nessa altura fiquei na dúvida se eles terão vindo de Espanha ou simplesmente terão feito o mesmo percurso que nesse dia fiz.

Enfim…aventuras de quem gosta de meter o nariz onde, às vezes, não é chamado…

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 14:50
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Quinta-feira, 17 de Abril de 2014

Passeios...

Estava a deitar contas à vida, a ver o que tinha para fazer nas próximas horas, e ao mesmo tempo a ouvir as notícias, quando me lembrei que também havia um post para fazer e publicar.
Cocei a cabeça, sinal que era muita areia para tratar ao mesmo tempo, quando ouvi o locutor de serviço dizer que nestas férias da Páscoa tinha havido muita procura, nas agências de viagem, para destinos fora e dentro de Portugal.

Não estando muito interessado em fazer grandes viagens pelo estrangeiro (e alguns narizes de cera também nunca me seduziram) lembrei-me de duas ou três situações que me aconteceram há uns meses, cá dentro.

Tendo de passar perto dumas caves “famosas” fiz um desvio e fui visitá-las, aproveitando para “reabastecimento”. Pertinho, fica uma aldeia com uma ponte famosa: a ponte fortaleza da Ucanha (sobre o rio Varoza), que dá o nome à aldeia. Fui até lá, atravessei “a pontapé” e como estava calor sentei-me logo ao sair da ponte, num pequeno café que tinha uma esplanada. Aí “conheci” a dona do café a quem pedi uma água e com quem fiquei na conversa. Era uma senhora já de certa idade, mas toda despachada. Palavra puxa palavra e contou-me a sua vida: nascera ali, viveu uns 40 anos em Lisboa, onde fora varina, criou 5 filhos e filhas, ficou viúva, explicou os truques que usava para “vender o seu peixe” e acabamos na brincadeira porque todos os filhos são donos de agências funerárias. Cinco filhos, cinco agências. Eu disse-lhe que era uma felizarda pois iria ter certamente um “bonito enterro” ela respondeu-me na mesma moeda e por ali ficamos uma meia hora na conversa. Na despedida ela obrigou-me a prometer que iria voltar e eu disse-lhe que sim, era só avisar do funeral. Enfim, uma antiga varina ainda em boa forma.

Nessa mesma noite, (estava hospedado num pequeno hotel que ficava numa pequena quinta, numa outra aldeia) depois do jantar e à saída do portão da quinta havia um grupo de umas 8 ou 9 pessoas que pareciam estar numa reunião. Parei um pouco a apreciar a ver se descobria algum motivo para a reunião, olharam para mim também com ar interrogativo e acabei por as cumprimentar e perguntar se tinha acontecido alguma coisa. Que não, estavam ali só a apanhar ar e a gozar o fresco da noite. Gracejei dizendo que tinha julgado que era alguma reunião da Assembleia de Freguesia e palavra daqui, palavra dali, daí a minutos estávamos todos numa grande confraternização. Eram dois homens já de certa idade e o resto mulheres que daí a pouco falavam pelos cotovelos, contaram-nos a vida da aldeia e delas e levaram-nos (éramos 4 pessoas) a visitar os cantos e recantos da pequena aldeia, que tinha uns 200 habitantes em agosto e 50 durante o resto do ano. Os 150 da diferença estavam todos na Alemanha. Como já era setembro já tinham ido quase todos embora. E assim durante 3 noites fomos “obrigados” a “comparecer à reunião” noturna, a dar os passeios guiados, a visitar as respetivas casas e a saber o que faziam e onde o faziam. E só não viemos carregados com “produtos da terra” porque nos opusemos, até porque ainda íamos bater a outras portas.

Se me perguntassem se preferia ir passar uma semana a um desses “sítios da moda” eu não os trocava nem pela “varina” da Ucanha nem pelas “alemãs” da outra aldeia.

E casos como estes, tenho vários.

Muito por “isto” é que prefiro viajar cá dentro.

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 01:11
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Quinta-feira, 10 de Abril de 2014

"Ele"

Todos reparamos já nas milhentas pessoas que andam permanentemente agarradas aos seus telemóveis. E “agarradas” é o termo certo pois andam com eles nas “garras”. De 10 em 10 segundos olham para eles como se daí viesse a salvação de qualquer coisa. E certamente também todos reparamos que são em geral “elas” as agarradas. Dirão que há uma explicação para isso. Que eles têm bolsos e bolsos onde podem guardar tais coisas e eu direi que elas têm sacos, saquinhos e saquetas onde podem guardar milhões deles. Que elas são mais ansiosas por “notícias” e eles nem por isso. Só quem não os conhece.

Então porque será? Esta é a pergunta do milhão!

Hoje, entrei no metro, sentei-me e logo três ilustres representantes do sexo feminino se sentaram a “rodear-me”. Para estarem perto de mim? Porque adoram o cheiro a peixe fresco acabado de sair do mar? Para usufruírem durante uns minutos da presença de alguém que poderiam vir a admirar?

Nem para mim olharam. Entraram com ele na mão, com ele se sentaram, a ele manusearam durante todo o trajeto que fizemos em conjunto. E quando saí nem um olho dele desviaram.

A minha viagem foi toda feita a admirar o comportamento das senhoras minhas vizinhas de ocasião. Fiquei de boca aberta e assim fui para a rua. O que até nem foi mau porque daí a minutos apanhei pela frente mais duas ilustres representantes do sexo feminino, que vendo-me assim, se atiraram a mim como gatas a bofe. E eu, feito parvo, a olhar para cima e de boca aberta. Foram as únicas que não vi agarradas a “ele” nesta manhã. Mas também não era para admirar já que estavam ali para me tratar dos dentes…

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 23:01
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Quinta-feira, 3 de Abril de 2014

Incongruências...

Decorreu no passado sábado a chamada “Hora do Planeta” (suponho ser esta a designação oficial) que em Portugal foi entre as 20,30 e as 21,30 horas, segundo vi/ouvi na televisão no dia seguinte.

A propósito disto deixei, nesse dia, um comentário no blog duma das minhas comentadoras especiais (a mais antiga e que tem uma certa quota parte de responsabilidade por este blog existir e ter-se mantido) pois ela fez um post sobre o tema.

O meu comentário era a marcar uma posição “contra”. E falei naquilo a que costumo chamar folclore barato e histórias para adormecer criancinhas, a propósito destes “acontecimentos”, que até são à escala mundial. Se calhar sou como aquela mãe que ao ver desfilar o batalhão em que marchava o seu filho, chamou a atenção para as pessoas repararem que o seu rebento era o único que marchava com o passo certo. Eu estarei certo e todos os outros errados …

E, sejam “Horas do Planeta”, “Dias sem carro”, “Anos sem Juízo”, e “Outros no Género”, sou contra.

Esta “Hora do Planeta” para ser ainda mais patética até veio acompanhada (pelo menos em Portugal, não sei se a palhaçada foi geral) por umas sessões de ioga à luz da vela. Eu até compreendo que há “acontecimentos” que são melhores às escuras, no máximo à luz da vela, que a escuridão até dá para “fazer umas coisas” que não se fariam à luz plena, etc, etc, se bem me faço entender.

Também sei (pressinto, tudo me leva a crer que) um dia o planeta fará um big bang para acabar em beleza, como dizem que começou. Sei ainda que todos contribuímos para acelerar isso. Mas “chamar a atenção para tudo isto” apagando umas tantas lâmpadas em uns tantos monumentos durante uns tantos minutos e pouco mais, acho uma bacoquice a toda a prova e mais uma maneira de distrair a atenção para assuntos bem mais graves. Folclore com trajes muito coloridos, mas bastante sujos e rotos. Sou contra. E daqui não saio, daqui ninguém me tira…

Escrevi este post só para dizer que sou contra? Não. Escrevi por causa da ironia disto tudo. Para ser verdadeiramente do contra eu deveria ter ligado todas as luzes da minha caverna, desde a do hall de entrada forrado a algas, até às mesinhas de cabeceira feitas de carapaças de búzios, durante essa hora.

E que fiz eu? O que faço todas as noites. Por volta das 20,30 horas, apago todas as luzes, fecho a porta e saio para dar a minha volta noturna, donde regresso em geral uns 40 minutos mais tarde.

Quero eu dizer com isto, que há coincidências do arco da velha e só me apercebi disso no dia seguinte, quando ouvi as notícias a mostrarem o que aconteceu por esse mundo fora.

E (quase) fiquei com uma raiva danada por não ter deixado ligada uma luzinha que fosse. Raios…

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 15:08
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