Quinta-feira, 28 de Novembro de 2013

Eu e elas

                                               

 

                   (Castelo de Algoso - foto retirada da net)

 

Há dois ou três dias, numa das avenidas de Lisboa, passei junto a uma loja que pertence a uma família que eu conheço, mas com quem há muito tempo não falo. O deixar de frequentar os locais que antes frequentava ditou esse afastamento. A loja estava fechada, era a hora do almoço, e eu passei à frente. Mas serviu para me lembrar dum caso com alguma piada.

Há uns anos o casal dono dessa loja convidou-me a visitá-los na terra donde eram naturais, pois iam passar lá uma temporada, no verão. Agradeci, não garanti nada, mas disse que ia fazer os possíveis.

Habitualmente eu tirava uns dias de férias em setembro e rumava ao Norte.

Elegia sempre um motivo para (me) justificar ir por ali e não por acolá. Nesse ano a razão da “viagem” era visitar vários castelos de Trás os Montes. Ora um deles, o Castelo de Algoso, fica a poucos quilómetros da terra para onde eu estava convidado a passar uns dias. Essa terra tem um nome bastante apelativo, já que se chama Campo de Víboras, perto de Vimioso e não muito longe de Miranda do Douro, (em Miranda mora o Menino Jesus da Cartolinha, diga-se de passagem).

Pelas estradas das redondezas eu até tinha encontrado algumas cobras  mortas no asfalto. Se eram víboras ou não, não lhes perguntei. Algumas seriam, outras não. A víbora é uma das espécies de cobras venenosas.

Ao chegar a casa dos meus conhecidos, depois dos cumprimentos da praxe, fui convidado para almoçar e falei na minha impossibilidade de ficar lá uns dias, porque não tinha tempo. Almocei, conversamos sobre isto e aquilo, eu disse-lhes que dali ia ver o castelo de Algoso e depois ia mais para o norte.

O dono da casa, às tantas quis mostrar-me o quarto que me estava destinado se eu ficasse. Lá o acompanhei, era um bom quarto batido pelo sol e às tantas o meu potencial hospedeiro deixou cair qualquer coisa que rebolou para debaixo da cama. Ele baixou-se, espreitou para ver se encontrava o objeto caído, disse “está ali qualquer coisa debaixo cama” e foi buscar uma vassoura. Quando voltou e tentou retirar o que estava debaixo da cama, deparou-se com uma víbora viva que se encontrava enroscada num canto.

Depois de uma ligeira luta à vassourada o problema foi resolvido e rimo-nos com o sucedido. Se eu lá tivesse dormido e se o dono da casa não tivesse tido necessidade de espreitar para debaixo da cama, eu estaria aqui nesta altura a vangloriar-me de já ter dormido com uma víbora.

Assim, limito-me a contar este caso, que nem caso chegou a ser.

 

                                                     -o-

 

Um outro encontro imediato com um réptil da mesma espécie (mas não víbora) aconteceu, ainda há pouco tempo, lá para as minhas bandas natais. Estava a dar uma volta pelo campo para apanhar ar, quando vi ao longe um amigo meu e resolvi ir, a corta mato, cumprimentá-lo. A meio do caminho devo ter pisado, ou pelo menos assustado, uma cobra que devia estar a dormir a sesta, quando esta deu um salto e chegou com a cabeça quase ao meu peito e eu dei outro salto igual. De seguida ela fugiu e eu fiquei a vê-la afastar-se.

Foi o típico caso em que os dois foram apanhados de surpresa e não sei qual deles teve mais medo. Esta cobra, sendo já de um razoável comprimento não era venenosa, como aliás a maior parte das que vivem em Portugal. A víbora é exceção, mas o acaso fez que não nos conhecêssemos mais intimamente…

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 13:51
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Quinta-feira, 21 de Novembro de 2013

Quadras

Quando olho e não vejo,

Quando ando e não corro,

Sinto logo o desejo

De chamar por socorro!

 

Sendo hoje já quinta feira,

Dia de “São Post Publicar”,

Bem tento arranjar maneira

De um bom assunto encontrar,

 

Para, pelo menos mais uma vez,

A página não ficar em branco.

E não voltar a falar, talvez,

Na cadeira, mas sim no banco.

 

Não um banco qualquer.

Um que mereça confiança!

Assim como uma mulher

Que nos convide prá dança!

 

Que raio de comparação

Fui eu para aqui arranjar!

É de quem não tem noção

De como se deve versejar!

 

Que isto de fazer quadras,

Mesmo das de pé quebrado,

Obriga a ter as palavras

Certas, num momento dado.

 

E, sentado, “praqui” eu ficaria

A escrever coisas sem jeito,

Se este não fosse mais um dia

Em que o post já está feito.

 

E assim acaba esta festa

De quadras soltas no ar!

Já me vi livre de mais esta.

Boa tarde. Vou-me retirar…

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 10:15
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Quinta-feira, 14 de Novembro de 2013

O vizinho do 12º

 

O meu vizinho do 12º andar chama-se Eduardo. Por que motivo tem esse nome? Não sei. Certamente porque na família já haveria um ou mais Eduardos. O pai, uns avós, uns tios. Isto já sou eu a conjeturar, coisa que todos nós gostamos de fazer, sobre o que não sabemos.

Quando falo a alguém de algumas coisas sobre o meu vizinho Eduardo, não há ninguém que não faça conjeturas, que não dê palpites ou que mais diretamente não diga que ele é maluco ou pelo menos maníaco.

Assim, quando eu digo que, quando chega ao prédio e toma o elevador para ir para casa, ele, que mora no 12º andar, vai só até ao 9º andar e depois sobe a pé os três andares, já sei a reação. “ O teu vizinho gosta de fazer exercícios físicos, certamente tem um emprego muito parado e aproveita para subir aqueles três andares para se exercitar um pouco”. “Subir escadas faz bem” – é em geral o remate para os palpites.

Se, depois de ouvir estas considerações eu digo que nem sempre ele desce no 9º andar e vai diretamente para o 12º, também é vulgar dizerem que deve ser nos dias em que vem cansado, ou tem mais pressa para chegar a casa, já virá atrasado, ou tem urgência em ir à casa de banho. Palpites não faltam, mais uma vez.

E então se eu disser que quando eu também vou no elevador, ou qualquer outra pessoa, ele vai, de elevador, até ao 12ª andar, então as conjeturas mudam de rumo e ele, o Eduardo, é um complexado que não quer que as pessoas saibam das suas manias, ou então simplesmente “o gajo é maluco”.

A verdade, tanto quanto o meu relacionamento com ele me deixa concluir, é que de maluco ele não tem nada. É um indivíduo bem disposto, sempre pronto a ajudar, sempre pronto para pertencer à administração do condomínio, sempre muito simpático e bem educado, numa palavra, um bom vizinho. Assim fossem todos.

Mas quando, ao contar as coisas que se passam com ele, eu acrescento, que no inverno ele vai quase sempre de elevador até ao 12º andar, então, definitivamente, ele é tarado, doido varrido, maníaco, “gajo com uma grande pancada”. Uns, menos definitivos, ainda dizem que no inverno vai com muito frio e quer chegar a casa mais depressa para ir para o quentinho, enquanto outros dizem que o mais lógico seria ele subir sempre os três andares a pé no inverno, para aquecer.

Como se vê todos gostamos de dizer coisas sobre o que não sabemos, ou pior, sobre o que julgamos saber.

E a conversa podia ficar por aqui, pois o recado está dado.

Mas…(o eterno “mas” das nossas vidas) eu não ficava descansado e roía-me a consciência se com o que escrevi levasse outras pessoas (pouquíssimas embora) a também fazerem ainda mais conjeturas. Assim sendo apresento aqui e agora o Eduardo, que é tudo quanto eu dele já disse e mais uma coisa, que não tira nem acrescenta nada ao seu caráter, mas explica algumas coisas. O Eduardo é anão.

E, como ele próprio diz, “falta-lhe um bocadinho assim” para chegar, no elevador, ao botão do 12º andar, pois só chega no máximo quando todo esticado e nos bicos dos pés, ao botão do 9º andar. Claro que quando vai com mais alguém no elevador, pede para lhe marcarem o 12º andar.

Afinal, as conjeturas saem todas erradas quando não temos todos os dados.

E aquela história do inverno? – perguntarão algumas almas menos atentas.

No inverno, quando chove ou é provável que chova, o Eduardo anda munido do seu chapéu de chuva e serve-se dele para carregar no botão do 12º andar, quando entra no elevador.

 

Já agora, isto já é só para matar a curiosidade, ele desce sempre de elevador desde o seu 12º andar, quer seja inverno ou verão, quer venha sozinho ou acompanhado. É mais que evidente, não é?

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 01:18
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Quinta-feira, 7 de Novembro de 2013

Reencontro inesperado

                                          

                    

         

 Já uma vez contei num post (Out/2009) a história da nossa vida em comum. Dois posts mais tarde foi ela que deu a sua versão dos acontecimentos.

 

- Tu por aqui? Que fazes? – perguntei espantado.

- Faço o que sempre fiz na vida. Ofereço os meus serviços a quem deles precisa. Qual o teu espanto?

- Julgava-te reformada! Por invalidez, ainda que já tenhas um par de anos…

- Tu é que me reformaste. Tu é que me despediste sem justa causa.

- Não, isso não é verdade. Tu não tinhas já condições para o desempenho das tuas funções. Tu sabes bem disso.

- E que fizeste tu para a minha recuperação? A que doutor me levaste para ver se era possível…?

- Quem te analisou e avaliou fui eu, lembras-te? Até cheguei a pôr-te numa posição ridícula…ainda bem que ninguém nos viu.

- Lembro-me bem disso tudo. No entanto tu não tinhas qualificação técnica para teres decidido, se sim ou não, eu tinha possibilidade de ser recuperada.

- Isso dizes tu.

- Digo e posso provar. Olha para mim, para o meu estado e como desempenho cabalmente as funções que me foram confiadas. Queres fazer a prova?

- Não. Fico contente por ter ver assim, nunca mais tive notícias tuas, julguei-te definitivamente arrumada.

- Foi o mais simples para ti. Decisão muito técnica, fria, sem ponta de sentimentalismo. Nem uma palavra me disseste na despedida. Aliás nem lá estavas.

- Ando sempre ocupado…

- Pois, eu entendo essas tuas ocupações. Não te esqueças que vivi contigo uns 10 anos e sabia da tua vida…

- Prova do meu respeito e amizade por ti.

- Ah! Ah! Viu-se…

- Mas… conta: como vieste aqui parar e como estás assim tão bem? Pelo menos pelo aspeto…

- Sabes porque estou aqui? Porque alguém me viu abandonada, me olhou, analisou, confiou em mim e tratou de mim com carinho e competência.

- Ainda bem. Apesar de tudo fico contente. Não esperava vir a encontrar-te…

- E repara para mim. Experimenta-me! Não tenhas vergonha. Afinal conhecemo-nos durante um longo tempo. Vais ficar admirado. Anda, experimenta…

- Não preciso. Se tu mo dizes. Sabes que sempre confiei em ti…

- Viu-se…

- Não digas isso. Olha! Vem ali o Senhor Mário com quem vim falar.

- Bom homem. Foi ele que tratou de mim…

                                            

                                           ***

- Olá boa tarde. Veio tratar do tal assunto?

- Exatamente Sr. Mário.

- Já estava há muito tempo à espera?
- Não, não, cheguei há 2 minutos, disseram-me que o Sr. vinha já.

- Desculpe pela demora, tive de ir ali ao correio.

- Não tem que pedir desculpa. Estive a dar uma vista de olhos pelo seu cantinho. Tem ali uma bela cadeira!

- Ah! Esta aqui? É a minha cadeira. Encontrei-a abandonada, tinha uma pequena mazela, arranjei-a e bom jeito me tem feito.

- Ainda bem! Ela tem um bom ar. Deve ter sido muito estimada durante a vida. Tem um ar feliz.

- Mas foi abandonada. Se eu não a tivesse apanhado, tinha ido para o lixo; mas como disse, é uma boa cadeira.

 

                                                 ***

Resolvi o assunto que tinha a tratar com o Sr. Mário. À saída virei-me e sorri para ela. Pareceu-me ver nela um sorriso trocista.

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 12:29
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