Andava eu à procura, em “velhos” papeis, de um assunto que sabia que tinha guardado, quando entre muitas curiosidades dei com umas folhas com palíndromos.
Diz o dicionário que palíndromo é uma palavra grega, que significa, em grego, “que corre para trás”. (Aqui entre parêntesis apetece-me dizer que é por isso que a vida dos gregos corre para trás e nós, ao adoptarmos a palavra levamos também pela mesma medida).
Voltando ao palíndromo: em português este termo significa a palavra ou o número cuja leitura é a mesma quer se faça da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda. (Para estes números usamos habitualmente a palavra capicua).
Exemplos de palíndromos: de números: 1991 – 5775 – 838. Convém dizer que há um número infinito de palíndromos com números. Já com palavras há um número muito limitado. Três exemplos: anilina – arara – Ana.
Nada de muito complicado nem difícil de descobrir ou inventar.
O interessante são, a meu ver as frases, também elas palíndromos, de que vou deixar aqui alguns exemplos, com o desafio, para quem gosta de desafios, para inventar mais umas tantas frases, mesmo que curtinhas.
Assim, aqui ficam meia dúzia delas:
- A moral, claro, má.
- Obeso, só sebo.
- O Pedro morde pó.
- O galo nada no lago.
- A mala nada na lama.
- Anotaram a data da maratona.
(Nota: não ligar aos acentos nem à pontuação).
E mais não digo.
Na net encontram-se muitas mais, aqui só chamei a atenção para a existência dos palíndromos.
Termino a vestir “o casaco”.
Nota final: eu já vi uma mala a nadar na lama, a quando de fortes enxurradas que tudo levam. Agora um galo a nadar no lago é que só mesmo num palíndromo…
Este texto não foi convertido, como aqui é habitual, para a nova ortografia, não fosse o conversor estragar-me algum palíndromo.
- Tá de chuva.
- Tá.
- Tá vento.
- Tá.
- Tá desagradável.
- Tá.
- Tátarátátá.
- Tá tá.
- Tá muito interessante.
- Tá.
Preparo-me para sair.
Antes, porém, dei uma vista de olhos pelo mundo, Angola pois, o Brasil claro, a China com chineses, o grande filósofo Sócrates tá, Lula para calamares, todo às rodelas, o Benfica tá sim não, tudo o resto na mesma como a lesma, tá.
Depois de sair, a chuva, o vento, o desagradável (“olá por aqui com este tempo?”), os guarda chuvas virados, os “virados” de guarda chuva, os sapatos molhados e o kakuro com pingos, as botas, os agasalhos, tudo muito tapado, a Tapada de Mafra, os pombos à chuva.
Fui e voltei.
A chuva na janela tátarátátá, tá tudo na mesma, ainda que para pior não tá, porque já não pode.
Como diz um amigo meu “tá tudo…”.
- Oh se tá!
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince (Deve ser o lince da Malcata, isto não tinha nada para converter. Como se converte um tá, ó meu? Nem o Papa, quanto mais um lince…)
Andava eu a meter o nariz por aqui e por ali (e manda a boa educação que há sítios onde não se deve meter o dito) quando deparei com algumas frases ditas por pessoas que sabem ter piada.
Ficam aqui meia dúzia delas, com o nome dos respetivos autores e algumas considerações que resolvi fazer para que não se diga que não meti nem prego nem estopa neste post.
"As mulheres estão descobrindo que mulher é bom, coisa que os homens já sabem há séculos." (Chico Anísio)
A verdade é que esse facto aumentou consideravelmente a concorrência. Já não bastava “ter de lutar” contra os galifões açambarcadores, agora até as galinhas “cacarejadoras” também já têm catarro.
"Cuidado com as imitações: sexo, só existem dois". (Millor Fernandes)
Apesar de os autores destas duas primeiras frases serem brasileiros, parece que não falaram um com o outro. Ou então podemos fazer uma leitura que compatibilize os dois. Assim tipo receita culinária: com os mesmos ingredientes podem-se fazer vários pratos. Depois há quem goste mais deste ou daquele e gostos não se discutem…
"Quando eu era criança, meu pai descobriu que eu era masoquista. Aí ele passou a bater-me todos os dias para ver se eu parava com aquilo."
(Woody Allen)
A avaliar pelo que se ouve e vê às vezes, parece que putos masoquistas é o que não falta por aí. Fica-se sem saber é se lhes passa o masoquismo ou se o trocam por uns charros...
"Foi meu pai quem me ensinou o valor da honestidade. Tudo o que eu não tenho devo a ele." (Ciro Pellicano)
Pelo que se vê por aí tudo leva a crer que os pais de hoje já não são como os de antigamente. Ou então os filhos foram cábulas e não aprenderam o que os pais lhes ensinaram. Haverá ainda os que dirão para os seus botões (de ouro): “olha se eu tivesse seguido os conselhos do meu pai…nem botões tinha com quem falar”.
E por hoje não ponho mais na carta.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Só conheço uma coisa pior que ter de aturar um bêbado: é aturar dois ao mesmo tempo. Coube-me em sorte, algumas vezes, ter de desempenhar esse papel. Era uma grande chatice, porque não há maneira de fazer desistir um bêbado de levar os seus propósitos avante. A partir de certa altura fui arranjando “calo” e deixei de me importar com ele (ou eles, conforme a ocasião). Quando o apanhava distraído, pirava-me.
Perguntar-se-á porque motivo os tinha de aturar? Simplesmente porque faziam chantagem: “é pá vem connosco que só demoramos meia hora; se não vieres acabamos por ir beber mais uns copos e acabamos por nos perder”. Eu lá tinha de ir fazer a minha boa ação de “escuteiro”. Só que não me lembro de alguma vez ter sido só “aquela meia hora”… e que não tenham continuado nos copos.
Acontece ainda mais um pormenor. Eles, que no dia a dia eram tão pacatos e respeitadores, transformavam-se nas noites de copos. De pacatos passavam a turbulentos, de respeitadores a carroceiros, de calmos a briguentos. Qualquer pequena coisa os punha logo a querer esfolar uns e outros.
Até que um dia…
Aquela noite estava a ser ainda mais complicada que outras. Por essa altura eu já não tinha paciência e fui-me embora, deixando-o (nessa noite era só um) entregue à via sacra de correr as capelinhas habituais.
No dia seguinte vim a saber o que acabou por acontecer. Deu-lhe nessa noite, para desafiar qualquer pessoa para jogar à porrada. Entrava num tasco bebia “mais um” e de seguida perguntava em voz alta: “há por aí algum filho da puta que queira jogar a porrada comigo?”. As pessoas olhavam-no, viam o estado de embriaguês em que estava, riam-se e não lhe davam mais troco. Ele saia e passava ao tasco seguinte. A cena repetia-se. E repetiu-se por mais 3 ou 4 vezes. Até que, ao desafio, houve “um filho da puta” que se levantou, esperou-o à saída e enfiou-lhe uma tal carga de porrada, que ele nem reagiu, tal ela foi. Remédio santo. Bebedeiras, continuou a apanhar muitas, mas sempre de “bola baixa” não se metendo com ninguém.
Passaram uns anos, cada um de nós foi para seu lado e um dia vim encontrá-lo em Lisboa. Tinha enveredado pela carreira militar e continuava a beber.
Do resto, triste, já não tem piada nenhuma falar.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Em tempos abri um outro blog, em parceria com outra pessoa, chamado “As palavras dos outros”, exactamente porque nele eram publicados extractos de obras de autores conhecidos. Acabaram por ser só publicados meia dúzia de posts e o blog acabou por ser encerrado.
Hoje, talvez por falta de assunto, resolvi publicar aqui este.
De Fernando Assis Pacheco
Trabalhos e Paixões de Bento Prada (Cap. 1 completo)
Quando o Padeiro Velho de Casdemundo teve a certeza de que Manolo Cabra lhe desfeiteara a irmã, em dois segundos decidiu tudo. Nessa mesma noite matou-o de emboscada, arrastou o cadáver para o palheiro e foi acender o forno com umas vides que comprara para as empanadas da festa de San Bartolomé.
O irmão do meio encarregou-se de cortar a cabeça ao morto. O Padeiro Velho amanhou-o e depois chamuscou-o bem chamuscado. Às duas da manhã untou o Cabra de alto a baixo com o tempero, enfiando-lhe um espeto pelas nalgas. Às cinco estava assado.
“Caramba”, disse o irmão do meio, que admirava todas as invenções do mais velho, “é à segoviana!”.
“Mas não lhe pões o dente”, cortou o outro.
Entretanto o mais novo, regressado já do Pereiro, aonde fora avisar o Padre Mestre, manifestou desejos de capar Manolo Cabra. O do meio olhou muito sério para o Padeiro Velho. Este cuspiu enojado e decretou:
“É tudo para os cães. E agora tragam-me lá a roupa do fiel defunto, que já não tem préstimo senão no inferno.”
Se perguntassem ao Padeiro Velho o que mais queria naquele momento, teria respondido:
“Assar-lhe até a memória.”
(Este post não respeita o novo acordo ortográfico)