Para que não se diga que a tradição já não é o que era, tenho de publicar um post hoje e só agora me lembrei. Costumo ter um ou outro de reserva, mas desta vez…nikles.
De maneira que (são 17,30 horas) tenho de escrever qualquer coisa para manter a tradição.
Se eu não fosse do tipo de encher chouriços com fraca carne, ficava-me pelo período anterior e estava salva a honra do convento (e quando se salva a honra de um convento é porque alguém lá entrou pela porta do cavalo, para rezar qualquer ladainha com uma freira, partindo do princípio que o convento é de freiras).
Mas como gosto de me esticar, já o estou a fazer e nem se nota.
“Para descansar, mergulhou os pés em álcool e acendeu um cigarro. Os médicos dizem que pode sobreviver às queimaduras”.
Estas 19 palavras constituem o exemplo dum dos mais curtos contos jamais escritos. Não sou o autor é claro, que eu, com menos dumas 500 não me dou por satisfeito. Feitios…
Já agora fica aqui a informação: foram escritas por um americano, de que não sei o nome. (Informação importantíssima, digo eu agora ao lê-la … e deixo escapar um sorriso).
Duzentas e quatro palavras já escrevi eu até agora e ainda não disse nada. Não está mal de todo.
Já nem quero saber das quinhentas, vou ficar pela metade, que são duzentas e cinquenta palavras, o que vou conseguir se me esticar um pouquinho mais e acabar aqui.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Perdi hoje uma oportunidade de ter uma história para publicar. Há dias assim, em que não sabemos aproveitar o que nos vem ter à mão sem esforço e tirar o melhor partido disso.
Seguia eu em passo apressado a fazer a minha caminhada matinal, quando um carro parou junto ao passeio em que eu seguia e o condutor me fez um sinal com a mão para me aproximar. Pensei que seria para me pedir qualquer informação e aproximei-me. Ainda não tinha chegado junto ao carro e o fulano disparou:
- Tás bom pá? Não me conheces? Sou o Flávio pá!
Isto tudo ao ritmo duma metralhadora.
Claro que não reconheci de imediato o mânfio, mas reconheci logo a conversa. E sorri para ele.
- Que se passa? – Perguntei.
- Não me estás a reconhecer? Sou o Flávio, pá. Não és o Rui?
Foi nesse momento que não soube aproveitar a ocasião, como já uma vez a aproveitei no Porto. A história já a contei aqui, o ano passado.
Trata-se dum “velho conhecido”, pois é a 3ª vez que no prazo de um ano me aborda sempre da mesma maneira. Pelos vistos vai mudando de nome, de carro e de companhia. Da 1ª vez estava acompanhado por uma mulher aparentemente vistosa (só a vi dentro do carro), da 2ª vez - a tal no Porto que relatei – por “um pedaço de carne da perna”, como na altura me referi a ela, e agora sozinho. Bem lhe podia ter perguntado pela “secretária”, se tinha ficado em casa a coser as meias ou se a deixara a em qualquer sitio, a “render”, mas eu não estava nos meus dias e perdi a oportunidade.
Da primeira vez que me abordou não cheguei a saber o que me queria impingir, da 2ª vez eram uns casacos de pele “made in Marrocos, coisa fina” e agora voltei a não saber.
E assim escrevo aqui este relato duma história falhada, quando podia estar a contar mais uma aventura minha com “ o meu amigo Flávio”.
Haverá quarta oportunidade?
Termino como no post a que fiz referência.
Devo ter cara de Zé Artolas.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
(Alguns dos componentes da "salada")
No meu prato que mistura de Natureza!
Os meus irmãos os insetos,
Os companheiros das fontes, os santos
A quem ninguém reza…
E matam-se e vêm à mesa
E nos hotéis os hóspedes ruidosos
Que chegam com correias tendo mantas
Pedem “salada” de insetos, descuidosos…
(…)
(Adaptação de parte de um poema de F. Pessoa/Alberto Caeiro)
Finalmente!
Parece que as Nações Unidas estão a lançar uma campanha para a introdução dos insetos na dieta alimentar mundial.
Há muitos milhares de espécies de insetos, para todos os gostos e paladares, para se poderem comer como aperitivo, como prato principal e como sobremesa. Alguns deles certamente até como sob-mesa. Quem nunca sentiu uma pulguinha a subir-lhe pela perna,num restaurante? E no cinema? Lá se vão as barulhentas pipocas e lá teremos umas silenciosas lesmas com pimenta ou umas larvas virgens com molho de tomate. Lesmas então há aos montes, é só virarmo-nos para um lado ou para o outro, são às toneladas… (As lesmas não são insetos? Que importa? Deu-me jeito metê-las nesta “salada”). Mas também as há vivinhas da costa, aos saltinhos prontas a serem comidas. Assim haja apetite e quem aprecie, sim, porque me parece que cada vez há menos apreciadores “gourmet" capazes de degustar uma abelhinha zumbidora ou uma vespa viperina. Pois se até há quem não seja capaz de comer uma lesma ou um caracol. Dizem que fogem…
Cá por mim, já estou a pensar na melhor receita para poder petiscar, umas Joaninhas Com Pintas ou umas Mosquinhas Mortas, que andam por aí com ar vivaço, a esvoaçar.
Diz a ONU que é preciso começar a “atacar” os insetos, sem ser com dundum ou pozinhos de perlimpimpim (dantes havia pós de Keating…)
Já hoje uma parte da população mundial come insetos, como nós comemos tremoços, mas em geral só o que a natureza dá e portanto é também preciso começar a cultivar insetos.
Fiquei muito contente com estas notícias por várias razões: primeiro porque a pressão sobre os carapaus meus irmãos irá descer, depois porque vai haver a possibilidade de podermos comer uns chatos que abundam por este mundo de Cristo (estes nem será necessário criá-los nas chatarias).
Estou já a organizar, numa varanda aqui da caverna, uns espaços para instalar uma piolharia, uma pulgaria e uma percevejaria. Atendendo ao pouco espaço, tenho de me dedicar só a insetos domésticos. Pelo menos numa primeira fase. Depois, conforme a procura, talvez pense em voos mais altos. Estou também a pensar em implementar um sistema de trocas, tipo trocar de pulgas com a envergonhada Solha, de piolhos com a emproada Garoupa e de percevejos com a delambida Corvina. Os chatos ficarão para trocar com a Chaputa “et pour cause”. (Esta entrada pelo francês está aqui para abrir portas à “haute cuisine” aplicada aos insetos).
O mundo dos insetos é de facto imenso e este post nunca mais acabava se mencionasse uma pequena parte que fosse. Daí que só me refira e mostre meia dúzia. Para abrir o petite…
Para terminar e para fazer crescer água na boca de quem ler este post, deixo aqui umas sugestões para elaborar umas ementas para uns jantarinhos à luz das velas, que assim não permite analisar as especiarias nem vê-las.
- Tapas de formiguinhas com molho das mesmas e trufas
- Tostas de borboleta “avec du beurre” de percevejo
- Lesmas “al ajillo”
- Consomé de sangue de barata e pulga “avec poivre” de escorpião manso
- Puré de “pommes de terre avec du sauce” de vespas bravas, com asas de libelinhas
- “Rôti” de gafanhotos e cigarras, “avec du sucre” de abelhas.
- Ragú de pernas de centopeia com puré de maçã.
- Pezinhos de centopeia de coentrada
- Empadinhas de ovas de piolho “aux fines herbes”
- Crocante de escaravelho
- Gafanhotos ao natural
- Cupim à Bolhão Pato
- Baratinhas tontas com “pimientos de Padron”
- Perninhas de grilo “au champagne”.
- Pudim de mosquito do dengue perfumado com molho de percevejo.
-Aguardente de larvas do milho, envelhecida em casco de carvalho mastigado pelo respetivo bicho da madeira
- Licor de centopeia coxa.
- Chocolate preto adoçado com sangue de piolho (uma iguaria em qualquer parte do mundo)
E para terminar qualquer refeição, talvez um Louva-a-Deus, por tanta fartura.
Bon appétit!
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Há conversas que não passam de muito palavreado, mas nada dizem.
Outras que em meia dúzia de palavras dizem tudo e nem precisam de um desenho para as entendermos.
Por essa altura eu vivia no Porto com mais os dois Carapaus que constituíam o cardume. E continuam a constituir, louvado seja o Senhor, ainda que navegando em oceanos diferentes.
Estava-se em princípios de setembro e só eu ocupava a caverna que nos servia de abrigo, os outros estavam de férias, mais para sul. Era um sábado, ainda se trabalhava aos sábados por essa altura (uns só de manhã, outros o dia inteiro). Eu tinha começado a trabalhar há meia dúzia de meses, daí o manter-me na “Mui Nobre, Leal e Invicta Cidade do Porto” e só não escrevo carago, porque essa palavra não faz parte de divisa.
Estamos portanto num sábado à noite e eu sozinho por ali…
Deve ter sido por medo da solidão que não dormi na caverna. Procurei outra onde, menos solitário, pudesse passar a noite. Se fui pescado por arrastão ou por um anzol isolado já não me recordo bem, talvez até tenha eu passado a pescador…
Não sei se por estranhar a cama, habituado que estava à velha cama de algas, se por outro motivo qualquer (mas vou por esta segunda hipótese) a verdade é que devo ter dormido pouco “e depressa”. Daí o ter-me levantado mais tarde e lá para o fim da manhã regressei a penates, isto é, ao 3º andar e último, do prédio onde tinha a caverna.
Ao chegar ao patamar desse último andar dei de caras com um outro Carapau, sentado no chão e encostado à porta. Desenvolveu-se então um dos diálogos mais prolixos que já tivemos até hoje (e quando nos encontramos falamos pelas barbatanas).
Convém dizer que fui apanhado de surpresa, não era suposto o Carapau em questão voltar tão cedo de férias. Foi então que:
- Tás aqui? – perguntei com ar espantado.
- Tou. – Respondeu com ar ensonado.
- Há muito tempo?
- Desde ontem.
- E não entraste?
- Não tenho chave.
Abri a porta e entramos sem mais palavras.
Há dias, no último encontro que tivemos, onde relembramos certas cenas passadas, perguntei-lhe se se lembrava desta. Disse que não.
O que prova que há coisas e situações que para uns ficam gravadas e para outros não.
Lembro-me também do diálogo, que ouvi a certa altura dessa noite, que se passava no quarto ao lado e tão distintamente que deveria haver uma comunicação qualquer entre eles, de que aliás não me apercebi.
Foi também um diálogo eloquente, que só não transcrevo aqui porque isto é um blog sério (quantas vezes o hei de gritar ao mundo?) e também porque diálogos ouvidos em “albergues espanhóis” não devem ser divulgados.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Não sei. É esta a minha resposta ao título do post de hoje.
Creio que já uma vez falei disto, mas por outro lado, depois duma vista de olhos rápida pelo blog, não encontrei nada que me garanta que foi “aqui” que falei do assunto.
Serve-me o tema também para falar dos políticos e do repetido discurso que todos eles usam, quando não têm necessidade de dizer hoje o contrário do que disseram ontem, porque a vida custa a todos e nunca ninguém disse que não se pode viver sem vergonha. Acho até que se vive melhor, porque a vergonha, tal como os sapatos de salto alto em certas pessoas, só atrapalha. (Repare-se na originalidade da comparação. Há dias em que tudo sai perfeito e não tentem descortinar nem um pequeno esgar de troça nos meus lábios. Já agora, “vox populi”, não são nada de botar fora…).
Assim entendidos (e quem ainda não entendeu nada é porque não está atento) vamos lá ao assunto que é um não assunto, o que talvez mereça uma explicação prévia. Assim, um não assunto é um assunto que faz cá tanta falta como um não assunto. Há assuntos que são não assuntos e não assuntos que são assuntos.
Vamos a ele, sem mais delongas. (Ao assunto ou ao não assunto? A eterna dúvida…)
(Pigarro para aclarar o teclado).
No post anterior uma das comentadoras empregou o termo “amodosque” que me fez sorrir. Foi assim amodosque uma lembrança da minha juventude.
Um dia, domingo certamente, por motivos que só eu sei, encontava-me eu, ainda jaquinzinho, sentado num banco que havia em frente à casa do meu avô, com o referido avô a meu lado (ou eu ao lado do meu avô, já não me recordo bem…) quando passa um sujeito na rua e o cumprimenta respeitosamente.
“Boa tarde Sr. Pedro. Então a gozar a sombra e a descansar?”
“Boa tarde. É verdade, a descansar e a gozar esta brisa que corre, já que o dia vai quente. Desculpa, quem és tu?”
“Atão, eu sou o Jaquim, o filho mais velho do António da Horta que vocemecê conhece muito bem. Já não se alembra de mim?”
“Oh rapaz, já não te reconhecia não. Estás um homem feito, da última vez que te vi ainda eras um rapazote”.
“O tempo passa Sr. Pedro… já casei há uns anos e até já tenho cinco filhos”.
“O quê? Cinco filhos? E como fizeste tu isso?” – perguntou espantado o meu avô. E eu atento à conversa.
“Ora Sr. Pedro. Aquilo é só apuntar…”
“Devias ter mais cuidado, talvez…”
“Olhe Sr. Pedro, há três palavras que não deviam existir na língua portuguesa”.
“Ah sim? E quais são?”
“O talvez, o creioque e o amosdoque”.
O meu avô engoliu em seco e desviou a conversa para o estado do tempo…
E eu aprendi desde então estas três palavras mágicas, que a brincar uso ainda hoje, já para não falar no “apuntar” que também pratico, “à mi manera”.
O que uma simples palavra num comentário bloguístico, pode trazer à memória…
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.