Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2013

Eu e a língua

                                      

 

Este senhor aparece hoje aqui, única e exclusivamente por causa da língua.

          O que no fundo ele nos quer dizer é que na vida tudo é relativo…

 

Para mim, a minha língua é esta, aquela em que estou a escrever. Claro que também tenho a minha língua particular, digamos assim, mas essa não a posso mostrar aqui, porque sempre me ensinaram que era feio tirar a língua de fora às pessoas. Há a exceção para o médico, mas só quando ele me diz “ora mostra lá a tua língua”.

Para o Fernando Pessoa, a pátria dele era a língua portuguesa. Nunca vi a língua portuguesa, nem sabia que se podia ver, mas tenho visto muitas línguas de portuguesas. E não acho feio quando me mostram a língua, mesmo que eu não peça, e não sendo médico.

Há muitas línguas, como é do conhecimento geral. Eu entendo-me bem com a portuguesa (nem sempre, mas a culpa não será só minha…), razoavelmente com a francesa, mal com a inglesa, assim assim com a portunholesa, bem com a de vaca (estufada com puré, ou com ervilhas), também bem com a do bacalhau (com grão, batata cozida ou outro acompanhamento) e já me dei muito bem, quando era miúdo, com as línguas de gato (hoje já não gosto de gatos e nunca mais vi línguas).

Com a língua tenho feito coisas que nem o diabo sonhava (hoje o diabo, por ser velho, já sabe tudo, ou quase…). Vejamos algumas: falar, saborear (ou degustar, para ser mais fino), dar à língua, lamber selos (cada vez menos porque eles já vêm nos envelopes) e lamber coisas múltiplas, mas assim de repente só me estou a lembrar dos gelados.

A lambidela é aliás uma instituição nacional. Lamber as pontas dos dedos para contar papel, virar a página do livro, “aguçar” a ponta da linha para ela entrar no buraco da agulha, para contar notas e para abrir sacos de plástico, daqueles fininhos. (Já assisti ao espetáculo de ver uma padeira a fazer isto tudo de seguida, ou seja cuspir nos dedos para abrir o saco de plástico, agarrar no pão para o meter no saco, agarrar no dinheiro e contá-lo e voltar de novo ao princípio, cuspir nos dedos, etc. etc. Aproveito só para dizer que era o melhor pão da região. A padaria foi fechada, porque este mundo é muito injusto…)

“Dar à língua” é uma coisa que toda a gente faz, uns com mais jeito e frequência, outros com menos.

A “língua afiada” das comadres é uma instituição nacional e o linguarejar também. Das comadres e dos compadres e muito especialmente daqueles que só sabem dar à língua, que falam muito e fazem pouco.

Depois há a linguagem, o linguagista, o linguajar, o lingual, o linguaraz, o linguareiro, a linguariça (que é como os alentejanos chamam à linguiça), o linguarudo, o lingueirão (na vertente de língua grande). A lingueta (que é a irmã mais pequena do lingueirão, além de outras coisas), o linguete (que ainda é primo), o liguífero (que tem língua ou órgão em forma de língua, ah, ah, ah, esta faz-me rir), o linguiforme, o (ou a) linguista, que trata da linguística, há a linguística que é sujeito e o linguístico que é adjetivo (prazer em conhecer-vos), há o liguístico-literário (que quase podia ser eu agora), há (já poucas, direi eu) a lìngula (espada romana, estreita e comprida) e, quase para finalizar, há a linguodental e a línguopalatal.

Acabo em grande com o língurteiro que é um linguareiro que quis ficar no fim da lista, talvez por ser um falador maldizente, um bisbilhoteiro, um tagarela. Aqui está uma coisa que eu não sou…

Claro que não falei no linguado, pois não o podia meter no mesmo saco. Para o fim deixam-se sempre os amigos e já por diversas vezes ao longo deste blog me tenho referido ao “meu amigo linguado” com que sempre me dei muito bem.

E para além do peixinho pleuronecto de corpo achatado que ele é, e tem orgulho em ser, também há outro linguado de que eu gosto especialmente.

Uma pequena pausa, para criar o suspense que a cena requer… e lá vem ele, o linguado de papel, que como toda a gente sabe é uma tira de papel onde se escreve o texto destinado à impressão (escrevia, direi eu hoje, porque toda a gente, da imprensa pelo menos, escreve nos computadores). Até eu, não sendo jornalista, ainda hoje, se tenho de tirar um apontamento ou escrevinhar qualquer coisa à mão, escrevo em tiras de papel (em geral divido uma folha A4 em 3 tiras horizontais).

E foi este um pequeno tratado sobre a língua, que não esgotei, onde não disse tudo o que sei, porque temos sempre de reservar qualquer coisa, para não nos acusarem de sermos uns línguas de trapos.

Ora um língua de trapos, para além de desbocado e intriguista é também um trapalhão que faz mal o serviço com a língua.

E eu, não sou um língua de trapos.

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

 

publicado por Carapaucarapau às 12:54
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Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2013

Pardilhão

               

         É uma pardilheira. Será a “senhora” do pardilhão?

 

Deparei há dias com esta palavra, pardilhão, percebi que é uma ave, mas resolvi ir ver ao dicionário, onde não a encontrei. Estava lá “pardilheira” (ave palmípede) e suponho que se trata do mesmo animal, até porque…

Até porque descobri também (mas já fora do dicionário) que há umas trinta espécies de pardilhões (portanto de pardilheiras) e que pertencem ao género Pufinnus que, diz quem sabe, tem origem na palavra anglo-normanda para designar “animal novo para engordar”. Portanto estes passarocos têm um aspeto rechonchudo e tudo o que é rechonchudo aguça o apetite. Porém os católicos não podiam comer carne às sextas feiras durante a Quaresma e como o fruto proibido é o mais apetecido (na variante ave gordinha abre o apetite para caramba) que faziam os nossos amigos, lá para as bandas onde abundavam os jovens e rechonchudos “pardilhinhos”?

Fizeram aquilo que o ser humano sabe fazer desde que andava de quatro, fizeram aquilo em que os advogados são especialistas e afinal todos nós tentamos fazer para justificar os nossos “pecados”: torcemos, retorcemos, inventamos e moldamos as coisas aos nossos interesses e, uma vez conseguido isso…

O pardilhão é um ás a nadar e aguenta muito tempo debaixo de água (pelo que percebi, aguenta mesmo mais tempo que um certo Carapau que de vez em quando tem de vir à tona da água para ver o que se passa na praia). Então se aguenta muito tempo debaixo de água, não se pode dizer que seja carne, mas sim peixe. E se é peixe pode-se comer sempre, sextas feiras incluídas. Assunto resolvido.

 E para que não subsistissem dúvidas, ele tanto pode ser comido fresco como de salmoura, o que o faz “parecer” ainda mais um peixe. Voava é certo e vivia em terra, mas os mergulhos tramaram-no.

Aqui chegado reparo que a partir duma palavra que eu não conhecia, fiquei um “expert” em pardilhões e, à semelhança dos católicos lá da velha Albion e arredores, aproveitei os “Pufinnus”, e mesmo não sendo sexta feira, dei-lhes a volta e arranjei material para este post.

Amen.

 

Texto escrito conforme Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince

publicado por Carapaucarapau às 17:37
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Quinta-feira, 17 de Janeiro de 2013

Eu e as canadianas

                          

Já por diversas vezes, ao longo da vida, tive contactos muito próximos, ia a escrever “quase íntimos”, com canadianas.

 

Das vezes em que isso aconteceu, acabei por me dar bem com elas, que por sua vez me ajudaram bastante. Era bom senti-las nas axilas, perceber que podia confiar nelas e agarrá-las com força para ir onde pretendia. Quando eu descansava elas também descansavam, ainda que, em certas ocasiões, eu enroscasse uma perna minha nas delas. No mínimo era confortável.

 

Depois de por duas vezes ter andado com elas para tudo o que era sítio, de inclusivamente elas terem assistido a cenas um tanto ou quanto hilariantes, mas comportando-se sempre com dignidade e discrição, um belo dia, estava eu separado delas, e já pela segunda vez, uns amigos convidaram-me para ir a uma tourada. Era um domingo à tarde, em pleno verão e eu não estava nada virado para esse lado, antes me apetecia uma bela sesta domingueira, que a semana tinha sido trabalhosa. Recusei portanto o convite e eles lá foram sem a minha companhia. Voltei a encontrá-los no dia seguinte e contaram-me toda a “tourada” que tinha havido (nos arredores de Lisboa, em terra de touros e toureiros).

 

Claro que não falaram da tourada propriamente dita, mas sim de duas canadianas que tinham “conhecido” durante a tourada e a quem prodigalizaram os seus muitos conhecimentos sobre a festa brava. E de tal modo se houveram que, no fim, as canadianas voltaram com eles para Lisboa e foram jantar principescamente os cinco (eles eram três e elas eram duas, havia um “problema” a resolver mais tarde…).

 

No fim, depois de várias peripécias e propostas para verem Lisboa à noite, elas alegaram cansaço, combinaram isso para a noite seguinte e pediram para as deixarem no parque de campismo de Monsanto, onde estavam acampadas.

 

Isto contaram-me os meus amigos, ao jantar de segunda feira. Havia porém um problema. Um deles tinha de ir esperar uns familiares que chegavam a Lisboa e outro tinha de ir trabalhar à noite. Sobrava um, mas faltava outro. Claro que fui mobilizado e de bom grado avancei com o “sobrante” para Monsanto. O encontro estava aprazado para as 21 horas.

 

Chegados lá, esperamos do lado de fora do Parque (não podíamos entrar) e pouco depois o meu amigo viu-as, através da rede, no restaurante do Parque, estariam a acabar de jantar.

 

O tempo passou, elas não davam mostras de se prepararem para sair e entretanto havia mais quatro carros junto ao nosso, todos com dois “cavalheiros” também em pose de espera. Uns esperariam umas francesas, outros umas inglesas, outros talvez umas japonesas... Enfim, davam ares que estavam como nós, à espera de alguém.

 

Como o tempo passava e nada de elas aparecerem, decidi dar uma volta a pé ali pelas redondezas e ouvi uma conversa de um dos pares de “cavalheiros” e fiquei com a impressão que também esperavam as mesmas canadianas. Disse isto ao meu amigo e resolvemos fazer uma “conferência de imprensa” com todos eles. Estava certíssimo: todos (éramos 10) esperavam as mesmas “gajas”, que lá dentro se divertiam à grande e à canadiana com a cena. Tinham-nos pregado uma partida.

 

Para não perdermos a noite e depois de umas valentes gargalhadas combinamos os 10 ir a qualquer sítio beber um copo para “comemorar” a cena.

 

Foram estas as únicas que me traíram nos meus contactos com canadianas. Talvez por isso, alguns anos depois, voltei a andar agarrado a mais duas, “agarranço” que desta vez durou uns meses, culpa dum tendão de Aquiles, que infelizmente era meu e estoirou.

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

 

 

 

publicado por Carapaucarapau às 18:13
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Quinta-feira, 10 de Janeiro de 2013

Tribunal

 Conversa com o Zé da Burra…

 

- Para onde vais com tanta pressa?

- Vou ao Tribunal pedir a fiscalização sucessiva das atitudes da Burra.

- Eh pá, deixa lá a Burra em paz.

- Não deixo não. Então não queres saber a última dela?

- Querer, quero. A última e já agora a penúltima também…

- Diz que eu não a posso sobrecarregar com mais tachos.

- Terá as suas razões…

- E depois como levo a tralha para a feira para ganhar algum para lhe comprar palha?

- Desse ponto de vista também tens razão. Olha o tribunal é ali naquela rua,  mas pelos vistos não consegues lá chegar. Olha só a maltósia que está ali na fila! E tudo engravatado já viste? E tu assim, nesse estado…

- Mas… que teria dado a esta malta toda? Também virão pedir a fiscalização sucessiva…

- Uns a sucessiva, outros a preventiva e outros certamente a prestativa…

- Olha ali o chinês das gravatas. Vou já comprar uma…

 

Conversa com a Burra do Zé

 

- Por estas bandas? Não devias estar na feira?

- Vou ali ao Tribunal, tratar dum assunto.

- E posso saber que assunto?

- Pedir a fiscalização preventiva das atitudes do Zé.

- Trata-te mal?

- Nem só de palha vive uma Burra.

- Isso quer dizer?

- Quer dizer que uma Burra tem dignidade e o Zé não me pode sobrecarregar para burro.

- E ele sobrecarrega-te?

- Sim. Tachos e mais tachos, panelas e frigideiras…

- Para vender e te poder alimentar, não?

- Isso não me interessa. A palha é que não pode faltar.

- Lá terás as tuas razões, mas olha só para aquela fila ali.

- É para o futebol?

- É para o Tribunal, minha Burra…

- Espero o tempo que for preciso…

- Já há quem esteja a acampar ali no jardim.

- Se for preciso também acampo.

- E está tudo de gravata…

- Não é problema, já devem andar por aí chineses a vendê-las ou a alugá-las.

- Boa sorte!

 

Conversa com um Dr.

 

- Olá Dr.

- Olá Carapau! Que fazes por aqui?

- Vim dar uma vista de olhos. O Dr. já viu aquela fila?

- Devem estar a distribuir qualquer coisa…

- Estão na fila para o Tribunal.

- Não me digas? E então eu como entro? Sou um dos Juízes.

- Não sei. Não haverá uma porta nas traseiras?

- Isto é uma pressão admissível sobre os juízes!
- Os juízes são pressionáveis?

- Como? O que queres dizer?

- Perguntei se os juízes são suscetíveis de serem pressionáveis, influenciáveis, de cederem a interesses?

- Estás mesmo a pedir que eu também peça uma fiscalização à posteriori das tuas declarações, Carapau.

- Eu não fiz nenhuma declaração mas só uma pergunta!

- Ah foi pergunta? Então vai ser uma fiscalização preventiva…

- Não me faça rir Dr.

- Sr. Dr. se faz favor…

- Sr. Dr. sem favor.

- Vou ver se entro.

- Fico com uma dúvida. O que é que o Sr. Dr. e os outros Srs. Drs. irão fazer?

- Olha, respondo-te já. Com esta dificuldade em entrar e atendendo às horas que já são, vamos almoçar.

- E se a malta resolver pedir fiscalizações sucessivas à vossa atitude?

- Qual atitude? Ainda não tomamos nenhuma…

- Então terá de ser uma fiscalização preventiva.

- Sabes que mais? Vai dar banho ao cão!

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 14:11
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Quinta-feira, 3 de Janeiro de 2013

Conversa matinal

                         

                   O importante é que reflita corretamente

 

 

- Tu já viste isto?

 

- O quê? Cortaste-te outra vez?

 

- Raramente me corto, mas agora estão na moda os cortes…

 

- Não sei do que estás a falar.

 

- Não admira, não sais daí…

 

- Não saio porque me amarraste. Daqui só para o chão…

 

- E ias à vida feito em mil pedaços, não?

 

- É o meu destino, mais dia, menos dia. E o teu?

 

- O meu quê?

 

- Destino.

 

- Ah! Em mil pedaços acho que não vai ser, mas em milhões e milhões…

 

- Tu e a mania das grandezas. Sempre em grande…

 

- Eu diria sempre em pequeno e cada vez mais pequeno. Vamos lá ver se percebes: quantos mais milhões, mais pequenos os pedaços.

 

- Não estudei essas coisas. Nem contar sei…

 

- Mas tens-me “contado” cada uma…

 

- Isso são contas doutro rosário…agora de números não sei nada.

 

- E achas que perdes alguma coisa?

 

- Eu nem perco nem ganho. Como sabes só reproduzo fielmente o que vejo.

 

- Fielmente…talvez seja exagero teu. Aqui e ali já não é bem assim…

 

- Engano teu, meu caro. Onde há falhas, eu não reproduzo nada, portanto não falho.

 

- A fazer trocadilhos baratos?

 

- Nem sei o que isso é.

 

- A conversar a conversar, cheguei ao fim da barba.

 

- Olha que ali no pescoço ainda deves fazer mais uma passagem…

 

- Para a outra margem?

 

- Para ficares mais apresentável.

 

- Se não fosses tu…

 

- Não ironizes…se não fosse eu, era outro.

 

- Olha que nem sou muito disso.

 

- Não sei dessas coisas. Só sei do que se passa aqui.

 

- E sorte tens tu, com janela para a rua…

 

- Já tenho refletido um ou outro raio de sol mais atrevido.

 

- Estás a ver? Nem todo se podem gabar disso.

 

- Não sou gabarola.

 

- E eu sou?

 

- Só emito opiniões que me tenham sido dirigidas. Aliás. Emito-as, refletindo-as…

 

- Muito preciso…

 

- Quando é preciso.

 

- Há quantos anos já estás aqui?

 

- Não sei, não tenho calendário nem relógio, tu é que deves saber.

 

- Pensando bem, não é assim há muitos anos. Não foste o primeiro…

 

- E serei o último?

 

- Isso, meu caro, não sei. No entanto arrisco dizer que se não entrar um golpe de vento pela janela que te atire ao chão, há muitas probabilidades de isso acontecer.

 

- Não percebi o que disseste, só entendi essa do golpe de vento, já tenho abanado.

 

- Também eu não percebo certas coisas tuas…

 

- Como, por exemplo?

 

- Algumas, mas uma especialmente me traz intrigado há muitos anos.

 

- Posso saber qual é? Talvez te possa explicar.

 

- Como sabes, em geral quando te enfrento fico a um meio metro de ti.

 

- Sim. E qual é a dúvida?

 

- Reparo que a imagem que me devolves, está também esse meio metro atrás de ti.

 

- E?

 

- E…por detrás de ti está uma parede com uns 25 ou 30 centímetros de espessura.

 

- Se tu o dizes…

 

- E por detrás dessa parede está o quarto de banho da minha vizinha…

 

- Onde queres tu chegar?

 

- Melhor dirias onde eu não posso chegar…

 

- Porquê?

 

- Porque eu devia estar no quarto de banho da minha vizinha e sei que ela toma banho todos os dias e eu devia vê-la e nunca a vi.

 

- Grande trapalhada tu estás a fazer. Sabes que te digo?

 

- Estou à espera.

 

- Estuda para saberes por que não vês a tua vizinha a tomar banho e não me faças perguntas parvas.

 

- Já percebi que também não me sabes explicar e então refugias-te no insulto…

 

- Então para que falaste para mim?

 

- Não falei para ti, falei para os meus botões.

 

- Também…falas com todo o mundo…

 

- Julgavas que era só contigo?

 

- Não, isso não. Já te tenho ouvido falar com pessoas e coisas.

 

- Sou um poliglota, amigo!

 

- Tu lá sabes, sobre isso não reflito nada.

 

- Ah! Ah! Aprendeste essas piadas comigo! Mas enfim…prova que não caiem em cesto roto as minhas conversas.

 

- Ainda bem que falas em cesto roto, porque ali o …

 

- Calma, já sei. De qualquer maneira obrigado pela atenção que prestas ao que se passa à tua volta.

 

- É que ouvi um queixume já faz tempo…

 

- Ah! Ele então queixa-se?

 

- Pergunta-lhe!

 

- Não desço tão baixo.

 

- Põe-o em cima do banco, sempre fica mais a jeito de veres…

 

- Não te metas onde não és chamado.

 

- Já cá não está quem falou. Já não me ouves nem mais uma palavra.

 

- Ai sim? Zangado? Então bom dia! Começou um novo ano.

 

 Vou-me à vida.

 

 

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

 

 

 

 

publicado por Carapaucarapau às 18:04
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