- Palavra de honra!
- Empenhar a palavra.
- Dar a palavra
- Dar uma palavra
- Dar uma palavrinha
- Faltar à palavra
- A palavra certa
- Palavras…leva-as o vento.
- A palavra é de prata (mas o silêncio é de ouro)
- Os actos valem mais que as palavras
- Com palavras e bolos se enganam os tolos
- O dom da palavra
- Sem palavras.
E porque fiquei sem palavras, aqui deixo este palavreado.
Quando deu pela falta do anel e do fio, Baltazar ficou de orelha murcha.
- Compadre, compadre! Nem parece uma coisa sua. Então entregou o ouro ao bandido?
Isto disse-lhe a vizinha Januária, quando o viu abatido e envergonhado por ter caído no conto do vigário.
Baltazar não respondeu, só resmungou um “rai’s partam o aldrabão”.
A comadre deixou-o sozinho a remoer a estupidez de ter sido enganado, e apareceu só mais tarde com uma sopa de beldroegas, que ela sabia que o compadre apreciava.
Não lhe voltou a falar no caso, só lhe sugeriu que aproveitasse o buraco no quintal para plantar outra figueira, que é árvore que dá uma boa sombra para dormir a sesta, desde que se tenha o cuidado de pôr uma folha da árvore debaixo da cabeça, para evitar dores da dita.
- Compadre Baltazar, não pense mais no assunto, o fio e o anel também não eram nenhuma fortuna, levante a cabeça e siga em frente, o compadre sabe fazer coisas e sabe que pode contar com a minha ajuda sempre que precisar.
Baltazar olhou para a vizinha Januária, pensou em tantas atenções que ela tinha para com ele, desta vez viu-a com outros olhos, olhou-a de maneira que ela até corou e acabou por dizer:
- Sabe comadre Januária, toda a vida tenho sido um cego, faço o que não devo e procuro onde não há e afinal tenho-a aqui mesmo ao lado há tantos anos e só agora reparo que a comadre tem um coração de ouro.
- Oh compadre, deixe-se disso. – E sorriu duma maneira que o Baltazar nunca tinha visto…
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Ainda meio combalido do acidente, compadre Baltazar está em casa a descansar, quando lhe batem à porta.
Levantou-se ainda com alguma dificuldade e foi abrir.
- Boa tarde! Estou a falar com o senhor Baltazar?
- Sou eu sim senhor. Que deseja?
- Soubemos que teve um acidente quando procurava ouro…
- …só cavava no quintal, meu senhor, eu só cavava… - respondeu desconfiado de que seria o Gaspar a pedir-lhe o quinhão dele.
- Sim, sim nós sabemos disso: deixe que me apresente: sou Belchior Procura Minas, engenheiro da empresa que anda a explorar ouro aqui na zona, o senhor Baltazar já deve ter ouvido falar.
- Nisso da empresa já, até lá tenho um amigo a trabalhar, agora no senhor Belchior isso não, desculpe.
- Não tem que pedir desculpa, amigo Baltazar. Não é obrigado a conhecer todas as pessoas. Mas, dizia eu, venho aqui em representação da empresa porque soubemos da sua tentativa de procurar ouro e gostamos sempre de ajudar as pessoas empreendedoras, como o amigo Baltazar se mostrou.
- Mas eu só….
- Sim, sim, tenha calma e ouça-me.
- Venho aqui ajudá-lo e dar algumas indicações para ter algum sucesso na sua procura de ouro. Por falar em ouro, o amigo Baltazar tem alguma peça de ouro aqui em casa? Um anel, um fio…
- Pouca coisa senhor. Uma aliança e um cordãozito que um dia comprei para oferecer a uma namorada, mas ela trocou-me por outro e eu…
- Ora ainda bem. É disso mesmo que o senhor precisa para arrancar em boas condições de sucesso com a sua exploração.
- Mas eu…
- Sim, a empresa calcula que ficou um pouco desanimado com o que lhe aconteceu, mas agora com outras condições o senhor vai voltar à luta. Ora vá lá procurar o tal cordão e a tal aliança que eu já lhe ensino como fazer.
O compadre Baltazar lá foi em busca do seu ouro, o engenheiro Belchior ensinou-lhe alguns princípios básicos de como se servir dessas peças para descobrir mais ouro no quintal (agora sem perigo porque já não havia figueira). Passou o fio pelo anel e fez uma espécie de pêndulo e foram ambos para o quintal para uma aula prática. O engenheiro Belchior ia percorrendo o quintal para trás e para a frente sempre como o pêndulo pendurado num dedo, até que chegou à zona do buraco e o pêndulo começou a oscilar “olhe para isto senhor Baltazar, o senhor é mesmo um fenómeno, vou falar lá na empresa para o contratarem, cavou no único sítio possível de encontrar ouro, o senhor vai ganhar um dinheirão com este seu dom para saber onde há ouro”.
E depois de mais umas tantas recomendações, lá se retirou com os agradecimentos do compadre Baltazar pelo aconselhamento prestado.
No dia seguinte, mesmo ainda adoentado, voltou ao buraco, onde foi visitado pela vizinha e comadre Januária, que lhe vinha oferecer os préstimos para fazer uma sopa e que ficou muito espantada por o ver já a cavar.
À comadre, o Baltazar não escondia nada, tinha nela a maior confiança e então contou-lhe a visita que tivera na véspera e que era a razão do seu entusiasmo em recomeçar o trabalho.
- Ai compadre, compadre que não sei o que lhe diga! Olhe que “andem” por aí uns meliantes a enganar as pessoas…o compadre já viu se ainda lá têm o anel e o fio?
- Claro que tenho comadre. Fui eu que os guardei – disse já a sair do buraco e a dirigir-se para casa.
Mas não tinha. O Belchior era o do ouro e nem deu parte ao Gaspar que anda perdido por ele.
Há ouro no Alentejo sim, mas agora já não em casa do compadre Baltazar.
Nem no quintal. E figos, lá para o mês que vem, também não.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
Quando ouviu dizer que havia ouro no Alentejo, algum quase à superfície, compadre Baltazar resolveu agarrar na enxada, escolheu um sítio no quintal (à sombra da figueira), fez o seus cálculos e começou a cavar um buraco.
Sem pressas, fazendo pausas para descansar e fumar o cigarro, foi cavando.
Às tantas encontrou uma moeda, mas em tão já mau estado que, mesmo depois de meia hora a limpá-la, não chegou a conclusão nenhuma sobre se era recente se antiga. No entanto guardou-a e achou que era um bom augúrio. Se calhar haveria mesmo ouro por ali…
Isto deu-lhe novo alento e recomeçou a abrir o buraco.
Quem não esteve pelos ajustes foi a velha figueira, que sentindo-se desamparada de um dos lados – aquele em que Baltazar cavava – resolveu inclinar-se e cair mesmo em cima do explorador, que estava de costas e não se apercebeu do que ia acontecer.
Encontraram-no 3 horas mais tarde, desmaiado, debaixo do tronco da velha figueira. Foi levado para o hospital.
Ainda não se sabe do estado de saúde do compadre Baltazar.
O que se sabe há muito tempo é que o dinheiro não dá felicidade a ninguém, sobretudo quando se viram as costas ao risco.
Para já fica-se sem saber se junto à figueira haverá ouro. Sombra deixou de haver…
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.