Quinta-feira, 23 de Fevereiro de 2012

Cavalos & burros

       

(A notícia a que se faz referência foi publicada em 21-1-2009 na página de notícias do Sapo. Guardei-a e sirvo-me hoje dela neste post)

 

 “A Rainha Helena é a líder dos burros bibliotecários de Awassa, na Etiópia. Foi ela quem, já no final de 2005, encabeçou o cortejo inaugural desta iniciativa da Ethiopia Reads saudado efusivamente pela população local. A Ethiopia Reads foi criada por Yohannes Gebregeorgis, um etíope residente nos EUA, com o objetivo de promover o desenvolvimento da Etiópia através da leitura.

Acreditando, pela sua própria experiência pessoal, que os livros e o conhecimento podem dar esperança e mudar vidas, Yohannes e os seus colaboradores criaram a primeira biblioteca pública infantil da Etiópia em 2003, na capital, Adis Abeba. A Biblioteca Móvel de Burro surgiu mais tarde, para servir as crianças das zonas rurais perto de Awassa, a capital agrícola do país.

Os burros são um dos animais mais importantes na vida da população etíope, como meio de transporte, embora nem sempre sejam tratados cuidadosamente. Associados a um projeto destes, querido pelas populações, são também dignificados e acarinhados. Com os seus enfeites vistosos, a Rainha Helena e os ajudantes puxam pequenas carroças onde estão expostos os livros - muitos deles editados também por iniciativa da Ethiopia Reads, quer em inglês, quer nas línguas faladas no país e com ambientes e histórias locais.

Estas bibliotecas são, para muitas das crianças, a única forma que têm de praticar a leitura fora dos livros de escola. Outros países africanos têm sistemas de bibliotecas itinerantes similares”.


Quando li esta notícia não consegui deixar de comparar com o que se passa por cá. Escolas instaladas em edifícios bons ou regulares, bibliotecas muitas, transportes e refeições para os alunos, professores suficientes, condições bastante aceitáveis (atendendo ao nível geral do país). Mas vendo como na maior parte dos casos essa condições são “aproveitadas” e analisando depois o resultado final…

Foi por isso que gostei de ler aquela notícia, mesmo descontando o lado folclórico da mesma.

Será que ainda vamos a tempo de mudar… de cavalo para burro?

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 18:16
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Quinta-feira, 16 de Fevereiro de 2012

Reportagens

                        

As televisões portuguesas, a nível de noticiários, são exemplos de “como não dar notícias” e “como não fazer reportagens”.

(As dos outros países, no geral não são melhores, mas com o mal dos outros posso eu bem).

Como em tudo na vida há exceções, mas a mim interessa-me a regra geral.

Exemplos:

- Repórter: “Estamos aqui ao pé da casa do Sr. Joaquim, perto do local onde se deu o desabamento de terras que, soterrou totalmente a capoeira do vizinho, como podemos observar. Diga-me Sr. Joaquim como tudo isto aconteceu”.

Sr. Joaquim: “Olhe menina, eu vinha ali debaixo onde tenho uma hortita e, a bem dizer, não vi nada. Já tinha passado a casa do vizinho quando ouvi um Bummmm! E até julguei que me tivesse caído qualquer coisa”.

Repórter: “Então o Sr. Joaquim ouviu um Bum!?”

Sr. Joaquim: “Não menina, não ouvi um Bum! Mas sim um Bummmm!”

Repórter: “E acha que houve muito prejuízo”

Sr. Joaquim: “Isso menina, não posso dizer, porque o galinheiro não era meu. Mas a criação deve ter morrido toda”.

Repórter: “E era muita a criação”?

Sr. Joaquim: “Isso não sei menina, que eu cá não ando a meter o nariz no quintal do meu vizinho”.

Repórter: “Obrigada Sr. Joaquim. Como acabamos de ouvir o Sr. Joaquim assistiu a tudo e segundo ele, deve ter morrido toda a criação do vizinho que se encontrava na capoeira”.

Sr. Joaquim: “A menina desculpe eu dizer isto, mas o meu vizinho não estava na capoeira, porque eu viu-o lá em baixo no café. Só devia estar mesmo a criação”.

A notícia, com a reportagem, é repetida em todos os noticiários do dia e no 1º do dia seguinte em todos os canais dessa cadeia.

 

2º caso:

Repórter: “Estamos aqui em Alguidares de Cima onde um violento incêndio consumiu esta manhã uma quantidade apreciável de restolho, pondo em perigo a povoação. Temos connosco a Sra. Alzira que nos vai contar como foi. Sra. Alzira, a sra. viu como tudo isto começou”?

Sra. Alzira: “olhe menina foi assim: eu ouvi o sino a fazer dlim, dlim, dlim e achei estranho àquela hora e disse assim para a minha nora: oh Júlia o sino está a tocar, o que será? Ela até me respondeu deve ser brincadeira, mas como o sino continuava dlim, dlim, dlim, eu disse que diacho e fui ali à rua olhar para a torre e foi então que vi fumo”.

Repórter: “Então a Sra. Alzira ouviu dlim, dlim e foi ver e viu tudo a arder. Foi assim que começou este incêndio, que ia pondo em risco a segurança da povoação”.

Sra. Alzira: “Isso não menina, que os bombeiros apareceram logo passados cinco minutos mas ficaram aqui a ver porque o fogo já estava quase apagado”.

Repórter: “Como acabou de dizer a Sra. Alzira, que assistiu a tudo, os bombeiros limitaram-se a proteger as habitações, uma vez que o fogo, lavrava intensamente. Vamos agora falar aqui com o Sr. Comandante dos Bombeiros de Carregal de Cima que prontamente acorreram à chamada. Sr. Comandante: quantos efetivos estão envolvidos no combate a este incêndio”?

Sr. Comandante: “Fizemos deslocar dois jipes com pessoal e dois autotanques, um com água e outro sem água, mas não foi preciso atuar, porque o fogo extinguiu-se por si próprio”.

Repórter: “Sr. Comandante: acha que foi posto fogo”?.

Sr. Comandante: “temos mesmo a certeza e sabemos quem o acendeu”.

Repórter: “E já comunicaram o caso à GNR para prenderem o criminoso”?

Sr. Comandante: “Não. O Sr. Manuel é que fez a queimada, mas pediu-nos autorização para a fazer e por isso estávamos aqui de prevenção, mas correu tudo bem”.

Repórter: “Não houve então perigo para a povoação”?

Sr. Comandante: “absolutamente nenhum”.

Repórter: Como ouvimos das declarações da Sra. Alzira e do Sr. Comandante dos bombeiros, o incêndio lavrou com violência e só a presença dos soldados da paz evitou o que esteve a um passo de pôr a povoação em perigo”.

“Notícia” e “reportagem” passaram meia dúzia de vezes durante dois dias.

 

Foram dois exemplos caricaturais, mas que pecam por defeito. Algumas vezes os casos serão graves e até gravíssimos, mas o nível das reportagens é baixo, até baixíssimo.

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

 

publicado por Carapaucarapau às 22:06
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Quinta-feira, 9 de Fevereiro de 2012

O pequeno Herodoto

           

              Afonso I - o 1º duma longa lista

 

Ele era um miúdo vivaço que aprendia com facilidade tudo o que o professor dizia na escola, mas que, para além disso, tinha também de estudar fora da escola, por um motivo que ia para além da curiosidade pelo saber. Nem tinha muito a ver com isso. Tinha sim a ver com o facto do professor ser seu “vizinho do lado” e por isso todas as falhas na escola eram transmitidas, dia a dia, aos pais e isso podia trazer-lhe problemas.

Era bom em contas, escrevia sem grandes erros, fazia redações que acabavam sempre com “bendito sejam…” (quer o tema fosse sobre melões, vacas, flores, burros, reis, etc.).

Mas a partir de certa altura passou a ser também muito bom a história. História de Portugal, desde os suevos, celtas e visigodos até D. Manuel II, depois do assassinato de D. Carlos. Para ele não havia problemas nenhuns. A partir de D. Afonso Henriques, os reis iam sendo sucessivamente filhos dos anteriores. Pois se D. Sancho I era filho de D. Afonso Henriques, se D. Afonso II era filho de D. Sancho I e se D. Sancho II era filho de D. Afonso II, a história deixou de ter segredos para ele. Estabeleceu laços de parentesco entre todos eles e assim, por exemplo, D. João I era filho de D. Fernando I. O Infante D. Henrique, o das descobertas, era bisneto de D. Pedro I, o da Inês de Castro, trineto de D. Afonso IV e assim por diante (ou por atrás).

O professor nunca se apercebeu desta maneira original de encarar a história, simplesmente porque nunca lhe perguntou de quem era filho este ou aquele, senão teria uma grande desilusão.

O miúdo ia com alguma frequência a uma aldeia próxima, onde tinha família, e a partir de certa altura passou a ter os miúdos da idade dele, lá dessa terra, como admiradores incondicionais. Quando sabiam que ele estava por lá, apareciam aos bandos para se admirarem com os seus conhecimentos de história. Fulano, filho de sicrano, avó de beltrano, tio avô deste e daquele, não havia laços de parentesco que o fizessem hesitar.

A 3ª dinastia, com os três reis espanhóis, complicavam-lhe um bocado a teoria, mas ele resolveu isso, afastando definitivamente esses três da história. Sabia deles, mas não contavam para a genealogia.

Ele não fazia isto para enganar os outros. Estava convencido que era assim mesmo que funcionavam as monarquias: o poder a passar de pais para filhos.

Só mais tarde veio a aperceber-se que estava enganado e que andou toda uma temporada a enganar os outros miúdos, seus “fãs” e admiradores, que o consideravam um grande historiador, uma espécie de segundo Herodoto (reconhecido como o pai da História, aqui fica o lamiré) ainda que nem o próprio miúdo soubesse quem tinha sido este personagem, que não fazia parte da sua “lista”.

E é assim que muitas vezes as histórias acabam por fazer a História. 

 

Texto escrito de acordo com o Acordo Ortográfico – convertido pelo Lince                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        

 

 

publicado por Carapaucarapau às 17:49
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Quinta-feira, 2 de Fevereiro de 2012

Chat

 

Ela, “Mulher-só”; Ele, “Viúvo-Lx”

 

A apresentação:

Ele – Olá!

Ela – Olá!

- Onde está? Eu estou em Lisboa.

- No Alentejo.

- Alto ou Baixo?

- Baixo.

- Eu também sou daí, de Serpa.

- Vive cá?

- Não. Em Lisboa, sou viúvo.

- Eu já vivi em Azeitão.

- Vive só porquê?

- Sou viúva e os meus filhos já são casados.

- Também sou viúvo, tenho 62 anos e não tive filhos.

- Temos mais ou menos a mesma idade.

A curiosidade a esboçar-se…

- Que faz? Eu era comerciante.

- Eu tenho aqui uma pequena loja… E agora já não é?

- Não, a minha loja deixou de ter interesse.

A intimidade no tratamento:

- E estás mesmo só?

- Sim, estou.

- Além da loja também sou costureira.

- Estás como eu, além da loja também era funcionário.

- O que vendias?

- Livros técnicos. Há uns anos era um bom negócio. Agora já não.

- Então estás mesmo só?

- Sim estou. E com muita vontade para ir morar mais para sul, para Serpa, a minha terra…

- Sabes… eu faço de tudo um pouco. Na altura da Queima das fitas, até faço pinturas na seda…

- … Mas primeiro tenho de resolver aqui o problema da casa.

- Eu também tenho esse problema. Os filhos têm as suas vidas e…

- Eles vivem aí?

- Não. E tu tens casa aí em Lisboa?

- Tenho, mas quero vendê-la.

- Queres trocar por uma aqui?

- Já te disse que tenho uma um pouco mais abaixo.

- Estás a ver? Eu queria ter uma casa em Lisboa…

- Mas se quiseres vender, eu sei quem quer comprar casa aí. Vens muitas vezes a Lisboa?

- Então tens uma casa, não é apartamento?

- Aqui em Lisboa é apartamento. Tem 4 assoalhadas, mas só utilizo 2.

- A outra tua é em Serpa?

- É.

- Eu tenho também uma em Azeitão.

- Eu sei quem quer comprar aí. São emigrantes.

- Eu preciso vender esta aqui, ao pé de Beja.

- Eu arranjo comprador. Tem terreno?

- Dá-me o teu mail para depois me dizeres se estás interessado na casa daqui e tratarmos disso.

- Dou sim, de muito boa vontade. Mas terá que ser noutro local.

O acidente:

Silêncio na conversa durante 2 minutos. Desapareceram os dois. Pouco depois:

- Cai e a senhora com quem estava a falar saiu.

- Estou aqui. Também caí, mas já voltei.

- Ah! E a casa tem terreno e fica ao pé de alguma povoação?

- Tem e fica a 20 km de Beja.

- Então é Ferreira ou Ervidel?

Não obtém resposta. A senhora desapareceu de novo.

Ele, interrogativo:

- Está aí a “Mulher – só”? Estava a falar com uma senhora do Alentejo e ela desapareceu…

“O intrometido”:

- Tenha calma. Ela caiu outra vez e já volta.

- Avisa-a que eu estou aqui.

- Eu não posso avisá-la, mas ela volta com certeza.

- Ela é de perto da minha terra e já sabe quem sou. Alguma alentejana por aí?

- Tenha calma. Ela volta. Espere um bocado.

- Ora bolas! Estou a ver que já não faço o negócio da casa.

- Ah! Ah! Ah!

Dois dias depois, novamente no chat:

“O intrometido” para o “Viúvo-Lx”:

- Desculpe a pergunta: sempre fez o negócio da casa com a senhora alentejana?

- Quem é você?

- Sou a pessoa que lhe disse para ter calma que ela havia de voltar.

- Então foi você que fez o negócio com ela?

- Eu? Não. Sai logo e não sei de mais nada.

- Então foi outro.

- Que outro?

- Olhe, eu cai logo depois de você ter falado consigo, quando voltei ela estava já cá, mas a falar com outro e pela conversa já tinham marcado um encontro para ela lhe mostrar a casa.

- Oh diabo! Quer dizer que você perdeu pau e bola…

- A bola pelo menos perdi, sim...

- Também quem o mandou vir fazer negócios para uma sala de chat?

-Ah! Ah! Ah! Também é verdade…

As hipóteses:

1 – O “Outro” foi ver a casa, mas gostou tanto da dona que acabou por ficar por lá, sem necessidade de a comprar.

2 – Os filhos da “Mulher – só” não a deixaram vender a casa. Ela chateou-se, agarrou nas malas e rumou a Lisboa. Bateu à porta da casa do “Viúvo-Lx”, mas quem abriu a porta foi a mulher do “viúvo”…

3 – Ela vendeu a casa em Beja, ele vendeu a de Lisboa e foram ambos viver para Serpa.

4 – Ela continua com a loja perto de Beja e ele em Lisboa.

5 – Continuam a ir ao chat para “vender as casas”, mas nunca mais se encontraram.

6 - Tudo não passou da imaginação dum tal bloguista…

 

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

publicado por Carapaucarapau às 17:50
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