(Não eram estes mas eram parecidos)
Os “outros” são alguns animais que eu conheci.
Quando ando por aqui uns dias, o que tem vindo a acontecer nesta época de férias, nos últimos anos, vejo-me frequentemente confrontado com situações e lugares que me relembram coisas passadas. Fisicamente há muitas alterações, mas como “vejo em tudo o que lá não está” não me é difícil fazer esse exercício de memória.
No post anterior relembrei um cão com quem falava (e ele “respondia-me”) e com o qual tive várias aventuras (éramos conhecidos como o terror dos coelhos bravos). Morreu de velho, já cego de um olho, quando um dia se ausentou para uma das suas aventuras amorosas. Ao atravessar a estrada foi apanhado pelo primeiro camião que passou.
Vizinha do cão, morava uma cadela com um pelo castanho brilhante, de longas orelhas, descendente de uma linhagem de famosos perdigueiros da Beira Alta. Quis o destino que viesse morar para bem longe do seu lugar de nascimento e por aqui viveu a sua vida sem nunca mostrar as qualidades que a davam como grande perdigueira. Perdizes, deve ter visto uma em toda a vida, já morta, não podendo portanto mostrar as potenciais qualidades herdadas dos pais. Com ela brinquei muitas vezes, obrigando-a a correr e a saltar. Com ela “brincaram”, de outro modo, quase todos os rafeiros da aldeia e as ninhadas de cachorros sucediam-se à velocidade da luz, uma vez que ela não fazia “planeamento familiar”. Morreu certamente esgotada por tantas maternidades.
Perto daquele cão e desta cadela morava uma velha mula preta a quem muito fiquei a dever.
Durante o meu 1º ano do liceu foi ela que, todas as manhãs, me levou na sua carroça, para as aulas. Quando ela já estava quase na idade da reforma, saiu-lhe esta “obrigação” na rifa. Deixavam-me na cidade e voltavam para casa a mula, a carroça e o condutor. À tarde já eu tinha transporte de volta numa “camioneta da carreira”.
Fora desse “período de trabalho” ainda a montei em pelo várias vezes, nas férias. Agarrava-me às suas crinas e ela lá me suportava e começava a andar, mas em geral eu ia escorregando e acabava no chão.
Um dia, já eu andava por outras paragens, vim a saber que a velha mula tinha morrido.
Como “homenagem póstuma”, mais tarde fi-la entrar como personagem dum presépio especial, a substituir o burro.
Tendo contactado com muitos animais ao longo da vida, estes três foram os únicos de quem guardo recordações.
Daqui, do lugar onde vivemos os quatro, os relembro neste post.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
(Podia ser este, mas é bem maior)
“Eles” são os cães. Em geral tenho um bom relacionamento com eles e eles comigo. Entendemo-nos.Mas há sempre exceções.
Por estes dias tenho por vizinho um Serra da Estrela que não nutre por mim nenhuma simpatia. Conheci-o era ele pequeno de 2 ou 3 meses e aí o nosso relacionamento foi fácil. Depois estive largos meses sem o ver e quando nos voltamos a encontrar tudo tinha mudado. Ele era já um cão de avantajado tamanho e com uma força brutal e à minha tentativa de aproximação reagiu da pior maneira, avançando para mim ameaçador, a ladrar e de dentuça afiada. Durante dias fui tentando a aproximação sem resultado. Até que um dia me saturei das suas “ladradelas” e das suas ameaças e avancei para ele empunhando um pau e gritando-lhe alto e bom som.
Ele recuou, calou-se e ficou a mirar-me ao longe. A verdade é que a partir daí a situação só piorou. Eu senti isso imediatamente. Eu tinha-o humilhado e ele não ia esquecer. Um ano depois tentei “fazer as pazes”, ele pareceu-me mais pacato e um dia arrisquei oferecer-lhe uma bolacha. Atirei-lha um pouco de longe e ele deixou-a cair, farejou-a e depois acabou por comê-la. Tentei dar-lhe uma segunda à mão, aproximei-me até ao limite que a trela dele permitia e estiquei o braço com a bolacha na mão. Ele aproximou-se, abriu a boca e quando estava mesmo a chegar à bolacha deu um esticão e só não me mordeu a mão porque eu a retirei a tempo. Ainda me “lambeu” a ponta dos dedos.
Estamos nisto: respeitamo-nos (tememo-nos, para ser mais exato) e ele já deixa de me ladrar quando eu lhe falo. Mas não passamos disto até porque a nossa convivência é por curtos períodos e o afastamento por longo tempo.
Sinto pena por isso e ele nunca saberá o que perde por não ser meu amigo. Eu poderia contar-lhe histórias doutros que já estiveram no lugar que agora ocupa e sobretudo dum deles, o que inaugurou a dinastia dos cães sempre com o mesmo nome. Eu contar-lhe-ia como um rafeiro vira latas se fez meu amigo, das aventuras que fizemos durante uns anos, de como ele era o melhor caçador das redondezas, como tinha a sua personalidade, como era respeitado e querido pelas pessoas e pelas cadelas, como era respeitada a sua competência. Tudo isto sem linhagem nem pedigree como ele, mas que se impunha pela inteligência. Contar-lhe-ia como caçávamos coelhos no período de caça, os dois desarmados, mas atentos e sabendo tudo sobre como caçar. E de como para além dessa atividade de ócio ele se dava ao respeito e cumpria o seu papel de cão de guarda.
Mas o Serra da Estrela não quer ser meu amigo, não quer saber das minhas histórias e das dos seus antepassado e eu nem perco tempo a tentar contar-lhas.
Enfim, cada um de nós perde um amigo, e ele nunca irá saber as histórias de vida dos que o antecederam. Vai ser um ignorante bruto e violento e nada mais que isso.
Acontece a muito boa gente…
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
- Então esta semana não há post?
- A vontade não é muita, a inspiração é ainda menor e o tempo esse é em excesso.
-Tens tempo a mais e isso é motivo para não alinhavares nada?
- É isso mesmo. O muito tempo é inimigo da produtividade, mesmo a que diz respeito a blogs.
- Essa teoria, eu não conhecia.
- E julgas que conheces muita coisa?
- Umas coisitas…
- Tens muito que aprender.
- Isso sei eu.
- Já é um princípio.
- Mas vai haver post ou não?
- Se alguém me der um empurrãozinho, talvez.
- O que tu tens é preguiça. Quanto menos fazes, menos queres fazer.
- E achas que não tenho feito nada?
- Que se veja…
- Quem pintou esse muro e aquele portão, foste tu?
- Claro que não, mas aquilo foram meia dúzia de pinceladas, não me digas que…
- Que se fosses tu, pintavas tudo num abrir e fechar de olhos, não? Já alguma vez agarraste num pincel?
- Tenho apanhado com cada pincel na vida…
- Isso também eu e mesmo assim pinto as minhas paredes e escrevo os meus posts…
- Ultimamente muito pouco inspirados, convenhamos…
- Resolveste lixar-me o juízo hoje?
- Gosto de te ver assim, meio irritado.
- Ah! Gostas? Obrigadinho pela ajuda…
- Ajuda não digo, mas…
- Mas nada. Quando leres o post entenderás; e acabou a conversa.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
A Mulher, recém chegada à praia, repara que a sua cama está ocupada por um sujeito que lê o jornal.
- Desculpe. Essa cama não será minha?
O Homem levanta os olhos do jornal, olha para ela meio espantado, olha para o lado e verifica que de facto está numa cama que não é a sua. Levanta-se dum salto, pede desculpa “perdão, foi distracção, a minha é esta aqui do lado”.
Ela sorri, diz que não tem importância e tudo voltou ao normal.
Ele pegou novamente no jornal, recostou-se, mas antes de recomeçar a leitura, pensou: “é bem verdade. A cama da vizinha é sempre melhor que a minha”.