Quinta-feira, 28 de Janeiro de 2010

Cena de rua

 

Vou poucas vezes à Baixa de Lisboa, entendendo como Baixa a zona do Rossio, Chiado, Terreiro do Paço e ruas das redondezas.

Há dias tive de ir tratar dum assunto e depois fiquei a vaguear um pouco por ali.

A Rua do Amparo é uma rua com meia dúzia de metros de comprimento, pois liga a Praça D. Pedro IV, nome oficial do conhecido Rossio, à Praça de D. João I (a velha Praça da Figueira). Paralela a essa, fica a Rua da Betesga que também une, mais a sul, as duas praças.

Nessa rua do Amparo, só para peões, estavam nesse dia instalados dois ou três engraxadores e um outro tipo com uma banca montada para plastificar documentos. São aliás figuras habituais daquele sítio.

Olhei para os meus sapatos, que já não viam graxa há muito, e resolvi sentar-me num dos bancos. O engraxador teria uns sessenta anos mal conservados, a barba por fazer, um grande bigode e um gorro enfiado a tapar as orelhas. Estava bastante frio e a rua era um verdadeiro canal por onde corria um vento de cortar. Sem conversa de parte a parte, o homem começou o seu trabalho e eu fiquei a observar o que se passava à volta. O tipo das plastificações era um fala-barato que se metia com toda a gente que “estacionava” ali pela rua, sempre a falar muito alto e com piadas a torto e a direito.

Um cauteleiro, cego, andava de um lado para o outro, meia dúzia de passos para a frente, outra meia dúzia para trás, a apregoar o jogo.

- Olha o dezassete quatro sessenta e nove, olha a grande!

O “plastificador” metia-se com ele:

- Ó Chico senta-te aqui no meu colo para aquecermos os dois! Agora até já podemos casar! Se tiveres umas massas…

O Chico cauteleiro esboçava um sorriso, e continuava:

-Olha o sessenta e nove! Comprem, não tenham vergonha! É só um número…

- Ó Chico hoje tás feito. Com esse número não fazes negócio! Tás pior que a águia do Benfica. Parece mais uma coruja de cauda branca…- gritou ele, e eu fiquei sem perceber a piada toda.

O outro resmungou qualquer coisa sobre as garras gastas do leão, e continuou com a sua lengalenga:

- Olha o sessenta e nove! Não tenham vergonha de comprar! Isto é só um número e pode ser a grande!

O engraxador continuava o seu trabalho, ainda não tinha aberto a boca, eu tão pouco, e às tantas aparece, vinda do Rossio, uma senhora de idade, que chega junto dele e lhe pergunta bruscamente:

- Ouça cá! Foi você que mandou vir este vento?

O engraxador abriu a boca pela primeira vez:

- Fui sim senhora.

Então a senhora fez-lhe uma festa na cara, enquanto dizia “Ah seu maroto” e continuou o seu caminho.

Eu observei a cena, o engraxador olhou para mim, fez um trejeito com o bigode naquilo que seria um sorriso, e disse:

- Tem noventa e tal anos e sempre que passa por aqui tem de dizer qualquer coisa.

- Sente necessidade de conversar, certamente - respondi eu a falar também pela primeira vez.

O homem olhou de novo para mim, abriu a boca como quem ia a falar, mas arrependeu-se, acabou por encolher os ombros e dar lustro ao sapato.

Entretanto acabou o primeiro sapato, deu-me um toque nele para eu mudar de pé, e nesta altura o cauteleiro aproximou-se de mim e perguntou-me:

- Não quer a grande?

- Nem a pequena – respondi-lhe a sorrir, esquecido de que ele não me via. Logo de seguida, não fosse ele ofender-se com a minha resposta, perguntei-lhe se conhecia essa história do cauteleiro e da “grande”.

- Disse-me que não e então contei-lhe rapidamente a anedota.

 “Num urinol público estavam lado a lado um cauteleiro, que segurava na mão esquerda a mola com as cautelas, e também desse mesmo lado, um outro utente. Às tantas o vizinho do cauteleiro começou a espreitar para o lado dele, muito curioso. A curiosidade que têm certos tipos que invejam sempre as “coisas” dos outros.

O cauteleiro julgou que ele estava a olhar para as cautelas e perguntou-lhe: “Oh amigo, quer a grande”?

E o outro, rápido, ansioso e curioso:

- Porquê? Tem outra ainda maior?”

O cauteleiro e o engraxador riram-se muito alto, o que intrigou o homem das plastificações que, por estar afastado não ouviu a anedota. Entretanto o meu prestador de serviços deu-me um toque no sapato a significar que tinha acabado o trabalho, levantei-me, paguei e ainda ouvi o cauteleiro dizer para o “plastificador”: “Querias saber? Qualquer dia conto-te… – e logo de seguida – olha o dezassete quatro sessenta e nove, quem quer a grande?”.

 

Este post fica a dever-se à colaboração do cauteleiro cego, do engraxador calado de farto bigode e do homem das plastificações, todos eles normalmente instalados na rua do Amparo, em Lisboa.

Teve ainda a participação especial de uma Senhora nonagenária, que colaborou com uma pergunta e um gesto carinhoso.

A todos eles o meu obrigado.

 

Para quem tenha interesse em saber coisas sobre a arte de engraxar, recomendo ir aqui e ver o video que aparece e que deve ter sido feito para as "novas oportunidades".

publicado por Carapaucarapau às 13:30
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Quinta-feira, 21 de Janeiro de 2010

Um quadro negro

 

                    

 

País pequeno e pobre, padecendo dos piores problemas para poder parecer progressista ao povo parvo, papalvo, pouco politizado, porém propalando postas de pescada. Políticos prolixos papam as papas na pinha do povo prometendo promessas patuscas, para poderem praticar o picanço. Procuradores protelam polémicos processos para poderem prescrever e passarem por probos. Poucos putos e putas pavoneiam prosperidades e propriedades e proclamam o próprio preço da progressão.

 

Onde os otários ouvem opiniões opostas e oportunamente optam por outorgar a outros óptimas oportunidades para operarem óbvios ofícios, onde o ouro oculta outras ordens.

Realidade ranhosa rasoira razoavelmente a réstia de rigor. A razão rasteja realmente rasgada. Ratos ratam, roem e realizam no rectângulo o retrocesso, refugiando-se nas redomas e nos redutos, receosos. Regrados remoem remédios e remam resignados. Reais recuos regista o regime.

 

Todos tentam topar tentadores tachos, trupes de trapalhões tapam todos

os tipos de trapaças e testam tentaculares tropelias. Tecnocratas tecem teorias, torcendo todas as teses. Todos tramam todos, totalmente tramados por tanta tolice.

 

Unidos unicamente no último ulo, urdimos nas urnas utopismos, untamos as unhas a uns e ultrapassamos ultrajes. Ulteriormente uivamos. Ungimo-nos e urinamos.

 

Gajada gosta de graveto, gagueja graças às galdérias, gajas e gajos gostam dos gargarejos e de galgar (pró) galarim, grandes gozadores, galhofeiros, gandulos gamadores de galináceos e grandes, grandes gabarolas.

 

Amadores na arte de arengar, atávicos artistas de artimanhas, admiradores de artes arcaicas, amigos do alheio, arquitectos de aldrabices, alguns ainda ajudam a adular almas afins.

 

Laureados latinos limpadores de latrinas, lamentamos lapsos, lateralizamos leis, laureamos “latas”, lançamos larachas. Laparotos

loquazes lemos lombadas e lambemos os lábios nas lautas libações. Lavramos lérias e lastimamos o labor.

 

 

Porém Outros, Raros, Testemunham Uma Grandeza  d’Almas Límpidas.

 

(Pois O Rapaz Tava Unicamente Gozando A Lusitanidade).

 

publicado por Carapaucarapau às 14:44
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Quinta-feira, 14 de Janeiro de 2010

Diálogos (IV)

 

                                                                           

                                          (Ora ponha aqui, ponha aqui o seu pezinho…)

 

 

 

- Bom dia!

- Olá, bom dia! Fung, fung, fung….

- Funf, fung, fung? Que vem a ser isso?

- Estou a rir-me. Não é a primeira vez. Sempre que me saltas para cima dá-me vontade de rir.

- Salto para cima?

- Tens razão, não é bem assim, até és delicado…mas que queres?

- Que quero? O costume, ou pensas nalguma coisa diferente?

- Eu simplesmente não penso. Mostro-te o resultado e fico calada.

- Para isso aqui estás. Mas explica, já agora, essas fung…adelas iniciais.

- É fácil e não resisto. É a minha maneira de rir. Quando te vejo assim de baixo para cima, todo nu com esse penduricalho, dá-me vontade de rir e não resisto. É só isso.

- Deixa-te dessas fitas. Ou gostavas mais que o penduricalho, como lhe chamas, não estivesse caído, a “olhar” também para ti?

- Interessa-me pouco isso e não quero entrar nesses teus trocadilhos. Ficas ridículo e é disso que me rio.

- Deixa lá o ridículo e diz-me lá como estou hoje.

- Na mesma. De há uns tempos para cá, estás na mesma.

- E passo eu uma vida de cão, para estar sempre assim?

- Não sei disso, nem sei mesmo o que é vida de cão. Já me basta esta vida de Balança, sempre aqui no canto, arrumada junto à parede. Nem a janela vejo.

-Querias estar no salão nobre não? Tem juízo e dá-te por satisfeita. Ao menos não apanhas humidade, nem frio nem calor.

- Também se apanhasse, já sabias o que acontecia à minha mola…

- E trata de manter a mola em forma, senão…

- Senão o que? Vens com as ameaças do costume?

- Do costume? Nunca te ameacei. Foi agora a primeira vez que…

- Já ameaçaste a Cadeira, a Porta, o Espelho e sei lá que mais. Passas a vida nisso.

- Sabes muito para uma simples Balança e ainda por cima das antigas.

- Sou antiga mas nunca te falhei. Ou já?

- Não.

- Então arranja uma dessas modernaças que trabalham a pilhas ou lá o que é e vais ver como elas te cantam. Volta e meia ficam caladinhas ou dizem que pesas uma arroba…

- Por falar nisso, sabes que há colegas tuas que falam?

- E eu que estou a fazer agora contigo?

- Mas elas falam mesmo. Outras conversas. Até sabem línguas e tudo…

- Interessa-me pouco. Também só te peso a ti e a … pouco mais. E só tu usas esse penduricalho.

- Outra vez?

- Que queres? Faz-me impressão.

- Pois a mim faz um jeitão. Percebes a diferença?

- Não, nem estou interessada. E se te faz assim tanto jeito, por que é que as outras pessoas que também me usam, mas não abusam como tu, não têm isso?

- Pergunta-lhes.

- Não são como tu. Nunca falam comigo.

- E tu gostas de falar comigo não?

- Ora! Dá para desenferrujar a mola…

- Isso. Tem cuidadinho com a mola, senão já sabes…

- Lá volta a conversa outra vez ao mesmo. Põe-me na sucata e arranja logo uma dessas que usam pilhas e falam, se calhar até cantam. Uma chinesa que até tem os olhos em bico e fica baratinha…

- Que sabes tu disso?

- O que ouço nas notícias. Aqui onde estou nem vejo nada, só ouço. E é só à noite…

- Sabes que além dessas há outras baseadas no efeito piezoeléctrico?

- Ena! O que tu sabes. E essas piezoqualquercoisa também dão o peso?

- Claro.

- A minha prima da cozinha já é dessas?

- Não. É como tu, uma antiquada. Além disso não tem uso. Já nem sei dela.

- Não tem uso? Então a pobre está assim tão mal?

- O problema não é estar mal ou bem. Não é utilizada. Aquilo na cozinha é outro reino.

- Ai não é a mesma república?

- Não. Sabes que hoje as coisas já vêm pesadas, medidas, em doses. Nada já é a granel.

- Granel?

- Depois ali predomina a alta tecnologia do “a olho”, “por palpite”, “mais coisa menos coisa”. É uma pitada disto, uma colher daquilo um gole de assim, uma mão cheia de assado. Para que é precisa uma balança?

- Oh coitada da minha prima, assim fica muito desvalorizada.

- Que queres? Agora só os adeptos da cozinha molecular ainda usam disso.

- Vais despedi-la?

- Não sei. Em princípio vai ficar por aí…

- Fico mais satisfeita. Um dia quando me mandares embora já não vou sozinha…

- Porta-te mal e vais ver… Já ando a desconfiar de ti. Marcas sempre a mesma coisa, não sei se não terás já a mola plasmada…

- P(l)asmada estou eu com essa tua conversa. Nunca enganei ninguém. Sou Balança séria…

- Qualquer dia faço um teste com o vizinho do lado. Ele pesa uns 150 kg quero ver se te aguentas com ele…

- Bem diz a Porta que não regulas bem! E a Cadeira também insinua…e o Espelho…

- O quê? Vocês falam uns com os outros sobre mim? Temos um sistema de escutas aqui instalado? Não me digas que também o Gravador está metido…

- Não, não é nada disso, só trocamos umas impressões, nós…

- Quero a verdade toda! Já!

- Mas eu…

- Já!

- Mas…ai…não me apertes … olha que eu gri…

- Já! Tudo! Vomita tudo o que sabes!

- Ai…eu…ai…tá bem… não apertes tanto, eu digotens quase 4 quilos a mais…

 

 

(Já nem em balanças podemos confiar...)

 

 

 

 

publicado por Carapaucarapau às 14:20
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Sábado, 9 de Janeiro de 2010

"Centenário"

                                

 

 

 

 

Pois é verdade. Este é o 100º post deste blog.

Nada do outro mundo, há blogs com centenas e milhares de posts, mas para quem não sabia no que isto ia dar, é um bom motivo para uma comemoração.

O boneco comemorativo fi-lo eu, ainda que inspirado num semelhante que vi há tempos numa revista. Acho que vai bem com a cara estanhada do Carapau. Cem posts a uma média de 700 palavras por post são 70.000 palavras a que corresponderão perto de meio milhão de batidas de teclas. Ufa!!! Para um Carapau não deve ter sido tarefa fácil. Não foi mesmo, mas em geral foi feito com gozo do próprio…

Nestes 100 posts houve de tudo. Maus, muito maus, assim-assim (a maioria) e um ou outro que me agradou. Agradam-me aqueles em que, ao escrevê-los, solto umas sonoras gargalhadas. Sinal que a coisa me está a sair bem e com algumas hipóteses de agradar a outros peixes que resolvam navegar por estas águas. Em geral límpidas, ainda que aqui e ali possa ter havido uma ligeira turvação.

Gosto de rir e mais ainda de brincar. Tendo já uma certa experiência em fugir aos arrastões, é natural que não me preocupe muito com certas coisas  da vida. Mas, curiosamente ou não, acabo por levar a vida muito mais a sério do que ela merece. Quando me apercebo disso, tento mudar de agulha, algumas vezes sem o conseguir.

Por isso, ao longo destes 100 posts, foi um ziguezaguear constante, sem rumo, nadando ao sabor das marés e deixando-me ir ao sabor das correntes, mas tentando controlar-me. Depois, de repente saio da corrente e nado contra ela. Exercita-me a barbatana, ou melhor, as barbatanas, que nesta manobra tem de entrar tudo: cabeça, tronco e barbatanas.

Este é portanto um post diferente e para esquecer. Isto de centenários nunca fizeram bem a ninguém, quando lá se chega, raramente, se está com pachorra para os aturar.

(Para quem não estiver a perceber nada do que estou a dizer, faço aqui esta pausa, para poderem escapulir-se sem ninguém topar. Façam o favor…)

Continuando…

Falava eu de centenários. Este ano comemora-se o da implantação da república, vai haver discursos, foguetório e bandas de música, digo eu, a revelar já parte do programa. “Cem anos de progresso, de avanços, de grandes passos em frente”. Aqui chegados já estamos a um passinho do abismo. Agora é só dar mais esse passo. Mais um esforço e lá vamos nós (ou vós que eu já estou cá em baixo à vossa espera há muito. A nadar, a palrar com as navalheiras, a ouvir as queixas destes e daquelas).

Se tivéssemos continuado na monarquia, estaríamos (é curioso!) exactamente no mesmo sítio. Isto quer dizer muito, digo eu, que nem sou monárquico.

(Aqui, assim à beira do abismo, apetecia-me meter umas palavras em latim, para me dar ares a modos de Padre António Vieira a pregar aos peixes, mas não tenho por aqui nada nem ninguém à mão que me ajude. Além disso os outros peixes fugiam logo, que agora fogem do latim como o diabo da cruz, isto porque o burro do diabo não conhece uma Cruz que eu conheço. Ainda bem. Atenção! Não tirar conclusões erradas. Este “ainda bem” refere-se à Cruz que eu conheço e a nada mais. Nada de extrapolar).

Daqui a pouco chego ao fim do post sem ter dito nada de jeito, o que é bom sinal e mostra que estou ainda em plena forma. É só picar alguns dos 99 anteriores e tirar a prova dos noves. 99, noves fora, nada. Nunca a matemática enganou ninguém. Nem eu, a não ser daquelas vezes em que…

(se estavam à espera duma confissão, desiludam-se. Aqui na caverna, como no inferno de Dante, está pendurado à entrada o aviso: “Oh vós que entrais, deixai lá fora toda a esperança”).

 Até já eu perdi a esperança de terminar isto duma maneira airosa e não me salta nenhuma faísca de talento (de quê? Ah! Ah! Ah!) para o conseguir. Mas em dia de centenário, quem não desculpa estas coisas ao “aniversariante”? Há sempre aquela: “o tipo já está com os copos. Hoje ainda pior que nos outros dias”.

O que não deixa de ser uma boa maneira de me despedir.

Agradecido e até ao próximo! Voltem… porque só se arrependerão depois.

 

(Olho em volta e já não vejo ninguém. É sempre assim: desde que não haja navalheiras, búzios, pasteis de bacalhau, rissóis de camarão e outros petiscos, debandam todos. Mas fica aqui um aviso. O 101º vai valer a pena. Promessa de…)

 

Nota:

Não contando com estas, o post tem 757 palavras, o que prova: 1º- que não está longe da média; e 2º- que o Carapau é lixado para fazer contas.

publicado por Carapaucarapau às 19:02
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Terça-feira, 5 de Janeiro de 2010

Encher pneus

 

Comecei o ano a meter essência no tanque. Agora, aqui, para continuar vou bufar ar nos pneumáticos, por manifesta falta de inspiração. Este é o post nº 99 e o centenário está aí à porta e eu assim de mãos a abanar, sem ter conseguido até agora arranjar alguma coisinha saborosa para oferecer. Estou a ver a coisa negra…

Vamos lá então encher este pneu.

 

OOe oP

(ou a técnica de encher pneus, sem ser a bufar ar)

 

Ocupam, respectivamente, as 15ª e 16ª posições no alfabeto, considerado sem o “K”. Um dia destes, com a entrada daquele, descem um lugar na classificação. São actualmente duas entre vinte e três, passarão a ser duas entre vinte e seis, quando com o “K” entrarem também o “W” e o “Y”.

Andam muitas vezes juntas, guardando a ordem por que aparecem no alfabeto, mas na maior parte dos casos aparecem com a ordem invertida, isto é, com o P a empurrar o O. As duas sozinhas aparecem em poucas ocasiões e em geral o O usa um sinal na cabeça parecendo, neste caso, um boné de pala. O PÓ que então fazem, causa alergia a muita gente. Eu, espirro quando me aparecem assim. Outros fazem “linhas” com ele e aspiram-no.

Na aspiração também há dois processos: por meio dum aspirador, para o PÓ que se acumula lá em casa, e por um canudinho para o PÓ que é importado, sem pagar direitos alfandegários. Deste, também há quem o leve em injecções. Parece que então lhe chamam cavalo, vá-se lá saber a razão…

Por vezes, deve ser quando chove, o O usa um chapelinho e aparece o PÔ, mais no Brasil do que cá, mas só quando não se quer dizer PÔrra mesmo.

No verão o chapéu é de outro feitio, para melhor resguardar do sol, mas nessas ocasiÕes andam sempre acompanhadas. Quem PÕem e disPÕe  sabe do que eu falo.

Já na posição OP, e sozinhas, são raramente vistas. Normalmente em meios mais eruditos, seja a falar das obras de um grande escritor, seja, e aqui mais frequentemente, a falar das obras dos grandes compositores. Veja-se o exemplo “Concerto para piano e orquestra em lá menor, OP. 54 de Shumann”.

Mas não passa de uma redução duma palavra latina (op. de opus=obra).

Quando uma coisa é ÓPtima lá estão os dois pela ordem, mas com acompanhamento. E brevemente, no caso deste exemplo, o “O” vai ficar só, porque o “P” vai à vida. E em mais palavras vai acontecer o mesmo. Um tal acOrdO, em que o P não entra, a isso vai obrigar.

São duas letras que entram em muitas palavras com as mais diversas companhias, sobretudo o O que andam sempre em grandes fOlias, já que o não deixam entrar em “grandes festanças, pequenas festinhas, nem em bailes, nem em serenatas, e em tantas danças”. Mas quando entra, arrasta a perna no tangO, já que não dança a valsa, nem mesmo o samba.

No OvO (que mais parece uma cara que uma palavra) está em maioria e são precisas aquelas duas traves inclinadas para os dois juntos não fazerem um infinito \,\!\infty. Quando um O salta para cima de outro O já a coisa é mais fácil pois não fazem mais que um 8. Já no 80 são precisos três e, quando entram mais, nunca se sabe o que pode acontecer…Uma suruba não fazem, porque o O não entra nesses ajuntamentos.

Já o P é Pau para muita obra, mas nunca foi encontrado agarrado a outro P. Nem salta para cima de outro P, ainda que também dê os seus Pulos. É letra que não entra nesse tipo de coisas, coisas essas que, curiosamente, até começam por P. Ironias…

Muito Prático é mais do tiPo Pão Pão e nenhum queijo, mas emparelha com muitas letras, não indo, no entanto, com qualquer uma. Já o O é pau para tOda a Obra, querendo eu dizer que tanto vai à frente como atrás, tanto se agarra ao F como ao G ou ao H.

Ao H andou agarrado o P, em tempos, como acontecia nas “Parmácias” antigas e mesmo quando duas pessoas “POdiam”, bem ou mal, uma com a outra. Mas não era de seu feitio essa companhia e desligaram-se. Depois deixou essas coisas para o F sozinho e por isso nunca mais se juntaram. O P é “Porreiro Pá”, já o F está Feito para outras Funções (bem agradáveis muitas vezes, mas isso já sou eu a falar).

Mas a conversa é sobre o O e o P, as outras letras também darão PanO para mangas, mas noutra OcasiãO. No PratO, no PatO, no PitO e quando se empoleiram no PináculO, uma abre e a outra fecha. Já numas boas aPOstas deixam esse trabalho para outros. No meio da corruPçãO, está o P, e o O aparece no fim para fechar o negócio.

Por falar nisto, nenhuma das duas (O e P, recorde-se) é suspeita de estar metida na sucata, mas têm ParceirOs POlíticos que estão metidos até ao PescoçO. Uns OPinam sobre a OPacidade  das OPerações, outros OPõem-se, OPortunistas, na esperança de também virem a ser convidados para OPíParOs  almoços.

O e P dão valiosa colaboração aos PhilhOs da Puta, mas enquanto o P só ajuda os que fazem Panelas, já o O entra em quase todas, desde o Ócaraças até outros PalavrÕes de importância superior.

 

Isto só não foi um POst para encher chOuriçOs, ou mesmo Pneus, porque as duas letras não se entenderam sobre o assunto, mas depois acabaram por chegar a acordo e fizeram um PactO. Encheram um PneumáticO e um PaiO. Sendo com carne do lombo, nem é PiOr…

“PiOr que o PaiO do PriOr só mesmo o PaiO do ProcuradOr” (mas isso deve ser da qualidade da carne). Isto dizem as beatas, que é coisa onde P e O não metem o bedelho.

E ProntO, cheguei ao Phin(O)!

 

(Também era  _ _ssível escrever sem _s  e _ês , mas nã_ era a mesma c_isa)

 

 

 

 

publicado por Carapaucarapau às 12:52
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