Apresento hoje o 2º post da série Gente (que eu conheci): um resumo da história da vida de
Elvira
Há alguns anos encontrava-me a tomar uns refrescos, na esplanada dum pequeno café de aldeia, na companhia dum amigo que é médico, mas que só vejo praticamente de ano a ano, quando ela se aproximou, parou e cumprimentou. A mim com um sorridente “olá, está bom?”, ao médico com um cumprimento mais expansivo, que meteu abraço e beijo.
Depois disse que não nos queria incomodar mais e continuou o seu passeio. Ela era a Elvira.
Eu fiquei admirado porque não sabia daquela familiaridade entre ela e o doutor. Ele não era da aldeia e eu nunca tinha conhecido qualquer laço familiar que os unisse. De modo que, para satisfazer a curiosidade lancei-lhe um “então também conheces a Elvira?”
- Há uns bons quinze anos, já que pareces tão interessado – respondeu-me a sorrir.
- A Elvira é uma pessoa extraordinária que, aqui na aldeia todos respeitam, mas não sabia que a sua fama já tinha chegado mais longe – disse eu também a sorrir.
- Sobre o passado da Elvira eu não saberei tanto como tu que a conheces desde pequeno. Mas talvez saiba coisas que tu não sabes – respondeu-me ele mais a sério do que tinha respondido da primeira vez.
- A história da vida dela é simples, mas heróica – disse eu – como aliás a de muita gente anónima. Aquela mulher que ali vês, agora uma respeitável velhinha, viveu uma vida complicada e sempre lutou e venceu as adversidades. Escuta só alguns passos dessa existência.
Começou por ficar viúva pouco depois do casamento, com uma filha de colo, mas isso não a impediu de pegar a vida pelos cornos. Trabalhando e lutando criou e educou a filha, fazendo com que ela estudasse e pudesse vir a ter uma vida mais desafogada que a sua.
Quando tinha uns quinze anos, a filha começou a ter uns problemas renais, que só foram definitivamente resolvidos com a transplantação de um rim. A mãe – a Elvira – foi a dadora.
Às vezes, quando faziam referência a isso, abraçavam-se as duas e diziam a rir que assim os dois rins voltavam a estar perto um do outro. Nunca mais surgiram complicações para nenhuma delas e faziam a sua vida normal. A filha completou os estudos, empregou-se e passados poucos anos casou-se.
Teve um filho -o André - que era o ai Jesus das duas. Enquanto criança passou a maior parte do tempo aos cuidados da avó. A certa altura o pequeno passou a ter os mesmos problemas que a mãe também tivera: mau funcionamento renal. Foi operado, fizeram um transplante e durante uns tempos tudo parecia normalizado, quando se deu um processo de rejeição. Fizeram muitos tratamentos, muitos exames, mas o problema subsistia. Uns dois anos depois fizeram novo transplante. O resultado foi, passado algum tempo, o mesmo que da operação anterior. Só ao terceiro transplante o problema se resolveu. Hoje é já um homem que vive normalmente. Escusado será dizer que a Elvira foi o “motor” de todas estas aventuras. Ela é que o levava às consultas, é que falava com os médicos, é que tratava dele na recuperação…
- Não digas mais, que disso eu sei mais e melhor que tu – disse o meu amigo. E continuou: Talvez não saibas mas eu fui um dos médicos intervenientes nesse caso do André. As coisas foram de facto complicadas e vem dessa altura o meu conhecimento com a Elvira. Agora vou-te contar uma história que quase ninguém conhece e que te peço para não a divulgares, sobretudo aqui na aldeia. Quando se deu a 2ª rejeição, nós os médicos ficámos bastante apreensivos, pois tinha havido todos os cuidados na procura dum dador compatível. Tive ocasião de dizer isso à avó, dizendo-lhe que tínhamos de esperar até que aparecesse um rim que garantisse a não rejeição. Tive essa conversa no meu gabinete, só eu e ela. Ouviu as minhas explicações e no fim disse: “ Senhor doutor, como já sabe a minha filha teve o mesmo problema quando era miúda, mas não rejeitou o rim porque a dadora fui eu. Agora estes problemas com o meu neto não existiriam se eu também fosse a dadora. Sei que só tenho um rim, mas talvez fazendo hemodiálise eu possa viver mais um tempo. E se morrer também já não faço grande falta. Salvei a vida da filha e agora salvava a do neto. Acho que pouco mais posso vir a fazer por eles. Que lhe parece?”
Eu olhei-a bem nos olhos, levantei-me da cadeira, fui junto dela, ajudei-a a levantar-se e acompanhei-a até à porta. Dei-lhe um beijo de despedida e disse-lhe para ir descansada para casa que nós íamos resolver o problema do neto. Que havia eu de dizer mais? De facto passados alguns dias tivemos a sorte de encontrar uns rins que resolveram definitivamente o problema do André.
O meu amigo olhou para mim e acrescentou:
- Como vês ainda não sabias a história toda da Elvira. Por isso tive direito ao abraço e beijo que há pouco tanto espanto te causaram.
Olhei o meu amigo bem nos olhos, mas ele desviou o olhar. Pareceu-me ver um princípio de lágrima no canto do olho, mas ele bem a disfarçou…
Naquela tarde fiquei a saber um pouco mais da Elvira.
Juan Carlos (JC), rei de Espanha esteve em visita particular à ilha da Madeira.
Não tenho conhecimento de nenhuma notícia interessante sobre o caso, nem sei se teve algum contacto com as autoridades da região, mormente com presidente lá da ilha, o Alberto João (AJ). É natural que pelo menos tenha havido um encontro para cumprimentos mais ou menos formais e que, eventualmente tenha havido um qualquer almoço mais ou menos informal.
A ter havido tal almoço, bem se poderia ter-se produzido o seguinte diálogo:
AJ: - Vai más una copa Maguestá?
JC: - Um pouco mais, obrigado.
AJ: - Entonces lá por Espãnia como vai la crisis?
JC: - Como por todo o mundo: vamos andando à espera que passe.
AJ: - Pois…pués aqui no hay crisis ni nunca la houve…hay havido…
JC: - Não me diga Presidente. Isso é um milagre…
AJ: - Não…no digo tanto, pero que aquí es como uno paraíso, uno eden, entiende Vuestra Maguestá?
JC: - Sim. Só não entendo como o senhor Presidente consegue isso?
AJ: - Ora Maguestá! Eu… ió soi uno grande admnistrador e después los
JC: - Ah! Então o Fidel manda dinheiro para cá? Agora nem é o Fidel, já é o Raul.
AJ: - Qual Fidel, qual Raul?
JC: - Os cubanos. Não são esses?
AJ: - (Fazendo um sinal ao Ambrósio para pôr mais vinho no copo). Ah! Ah! Ah! Os meus cubanos, pardon, los mios cubanos son los trougas del contnente.
JC: - Trougas? Não entendo.
AJ: - Si, si, trougas…trouxas.
JC: - Ah ! Trouxas.
AJ: - Esso mismo. Los del contnente solo sirven mismo para pagar las cuentas. Sono todos una cambada…
JC: - Mas olhe que lá em Espanha todos consideramos o Belmiro um grande empresário.
AJ: - (Fazendo outra vez sinal ao Ambrósio). Esso Belmiro non lo conosco. No sei quien és ele.
JC: - Belmiro de Azevedo o dono dos supermercados Continente.
AJ: - Ah! Ah! Ó pá, non é desse contnente qui istou falando, hic, hablando. Ah! Ah!
JC. – Agora entendi. Tenho lá bons amigos, em Portugal. Vivi alguns anos em Cascais…
AJ: - Pués nem mi aliembrava. También és un de los deles. És amigo de lo señor Silva, luego vi.
JC. – É verdade sim. Era o jardineiro da moradia de Cascais. Aprendi a cortar a relva com ele.
AJ: - (Voltando a fazer outro gesto para o Ambrósio). No es a esse Silva qui io me quiero referir. Es ao senhor Silva de la presidência…
JC: - Ah! Ao vosso Presidente!
AJ: - Ao presidente de los cubano quieres tu dicir… No me lo digas que también conosques ao señor Pinto de Sousa?
JC: - Ao vosso 1º Ministro? Sim conheço-o, mas só dos contactos oficiais, quando vai reunir-se com Zapatero…
AJ: - Olha! Oitro que tal. También daba um bom cubano.
JC: - Isso, eu não sei. Só sei que é o nosso 1º ministro…
AJ: - Pués, pués sono todos harina de lo mismo saco.
JC: - Não entendo este vosso dialecto aqui da ilha. É bem difícil de entender.
AJ: - Dialecto? Que dialecto?
JC: - Esse que o senhor Presidente tem estado a falar comigo.
AJ: - (Chamando uma vez mais o Ambrósio). Pero, conho, tiengo estado a hablar español, castellano contigo, hic, pá.
JC: - Ah! Desculpe, não tinha percebido. Mas então "por qué no te callas?
………
A verdade é que se calou, porque inesperadamente AJ caiu da cadeira.