Como resultado de mais uma pesquisa do Carapau pelo mundo subaquático, apresenta-se uma nova lista de palavras, que além de representarem peixes e outros animais que vivem na água, tem outros significados.
Baleia – constelação austral.
Barbo – tumor que nasce debaixo da língua dos cavalos.
Camarão – gancho com que se suspendem do tecto candeeiros, lustres, etc; antigo vaso de loiça; certa qualidade de pregos.
Cadelinha – cadela pequena; cachorra.
Caranguejo – placa giratória para deslocar vagões nos caminhos-de-ferro; espécie de grampo com vários ganchos para levantar fardos; variedade de ameixa; abrunho grande; signo de Câncer, constelação.
Caranguejola – armação de madeira que está pouco firme; amontoado de coisas sobrepostas e pouco seguras; carruagem velha; carripana.
Carpa – árvore armentácea; acção de carpir a cana sacarina; (Bras.) limpa, monda.
Chicharro – (alma de…) pessoa de carácter frouxo; indolente.
Choco – diz-se do ovo em que se está desenvolvendo o germe ou que apodreceu; estado febril das aves quando estão no período de incubação; (fig.) goro, estragado; o acto de chocar; o período da incubação.
Craca – nome de uma planta leguminosa; parte concava das colunas estriadas.
Enguia – pessoa muito magra, delgada, escanzelada; pessoa muito ágil que não se deixa agarrar.
Espada – arma; a vida militar; matador de toiros; individuo exímio em qualquer coisa; automóvel de linha aerodinâmica; um dos naipes doa baralhos de cartas.
Faneca – castanha chocha; pedaço de pão, naco; magricela.
Golfinho – cada uma das asas das antigas peças de artilharia, que facilitavam o seu desmonte.
Lagosta – estalo, bofetada (gir.).
Ostra – assento preso à parede dos anfiteatros nas casas de espectáculo (Bras.).
Pregado – que tem pregas; pregueado.
Safio – diz-se dos chibos e cabras de pêlo curto.
Tamboril – pequeno tambor; planta leguminosa (Bras.).
Xarroco – dedeira com que os ceifeiros resguardam da foice o dedo polegar da mão esquerda (Alent.).
E agora, para mostrar como é, um pequeno texto onde o Carapau emprega todas estas palavras.
A ti’Maria ainda gritou para as filhas não se esquecerem dos xarrocos, quando elas saíram para a ceifa, a correr, logo que ouviram o rufar do tamboril que o Ruivo tocava empoleirado na caranguejola onde levava as raparigas. Sempre bem disposto,ou não fosse ele do signo caranguejo, como estava sempre a dizer. Teve de sair ela também a correr para lhos levar, e depois na volta, com os bofes a saírem pela boca por causa da corrida, ainda teve de ouvir o bêbado do Zé Preguiça que parecia uma ostra, agarrado com uma mão às cracas da coluna que havia à entrada da taberna, e com a outra agarrado à garrafa. Apeteceu-lhe dar duas lagostas no bebedolas, mas olhando para o rosto pregado do velho, passou sem ligar importância.
Ao chegar a casa comeu uma faneca com um nico de toucinho e ainda veio à porta para ouvir uma vez mais o vizinho, o Zé Espinha, que era uma verdadeira enguia. Lá teve de ouvir a história dele, que gostaria de ter sido espada, mas a verdade é que tinha medo dos toiros. O coitado do Zé era um chicharro sem préstimo. Não valia mais que um ovo choco. Foi até ao quintal onde a cadelinha a recebeu aos saltos e latidos, agarrou na alfaia que sempre pendurava num camarão na porta da barraca, e pôs-se a sachar os feijões e a fazer a carpa aos tomateiros. Depois tratou da cabra safio e do cavalo, que não comia por causa dum barbo que tinha na boca e pensou que era melhor chamar o veterinário. Que era bom sujeito e brincalhão, mas que também tinha a sua pancada pela artilharia e pelos astros, a falar sempre em golfinhos e baleias. Mas tinha que o aturar.
O Carapau resolveu estudar tudo sobre dinheiro e tornar-se um especialista no assunto. Para isso matriculou-se num curso intensivo de Economia e Finanças (tirado na praia e aos domingos, como o daquele de que certamente tiveram noticia. Pelo menos, aqui pelo rochedo, foi muito badalado). Só que teve de começar pela Introdução à Economia, depois Economia e finalmente Finanças.
Na Introdução à Economia o Carapau estudou tudo sobre introdução: como fazer uma introdução simples até chegar à introdução com dificuldade. Com muitos exercícios práticos, esta parte correu bem e o Carapau tornou-se um ás na introdução, de tal maneira que até já fazia tudo de olhos fechados ou então às escuras. O que acontece algumas vezes aqui no fundo da caverna. Mas uma boa introdução deve ser feita com claridade, pois é importante saber da reacção à introdução. Mas isto já é estudado num estádio mais avançado do curso e não é aqui o local para divagar sobre o assunto.
Voltando ao curso: quando se considerou apto na introdução foi ao fundo da questão que é como já perceberam a Economia.(Aliás quem estuda Introdução é para ir ao fundo das coisas. É como mergulhar em apneia, se assim me posso exprimir). E aí aprendeu coisas que não lembrariam a um careca quanto mais a um Carapau escamudo. Entre outras coisas que não vem ao caso, estudou a Economia na Introdução. Quer dizer, também na Introdução se pode fazer economia. Há de facto muitos processos que permitem facilitar a introdução. E tudo que se torna fácil, torna-se económico. Armado destes conhecimentos meti-me a fundo nas Finanças (quer dizer, introduzi-me…) e tão brilhante fui, que passado pouco tempo apresentei um trabalho sobre Dinheiro, que no fundo (sempre o fundo ligado à introdução, isto anda tudo ligado…) é o que me interessava desde o princípio (e diz-me um passarinho, quero dizer, um cavalo marinho aqui ao ouvido, é o que interessa às pessoas).
Daí que sem mais conversas apresente esse estudo, que é nem mais nem menos que uma relação de palavras, que deste lado do Atlântico e nalguns casos também do outro, significam DINHEIRO. Deste modo fica toda a gente munida de armas que lhe permitem tratar o dinheiro sem ser por dinheiro, que, segundo temos aprendido ultimamente com a chamada “crise”, parece muito acertado, uma vez que mesmo os bancos sempre deram nomes diferentes àquilo que se julgava ser dinheiro mas que não passavam de “palavras”.
Este é também um motivo – que está na ordem do dia – que levou o Carapau a esta publicação. Que vai fazer muito jeito a muita gente e a muita instituição bancária e afins, que deste modo, empregando a palavra certa em cada momento, não enganarão ninguém…
Aí fica a lista, e fica também um pedido a quem isto ler. Que nos “Comentários” deixe outras palavras que aqui não figuram. O Carapau depois fará a respectiva Introdução na lista, pois só ele sabe e pode introduzir. E, claro está, fará referência à autoria das palavras ou seja, à pessoa introduzida…
Vamos então à lista.
Ao DINHEIRO também poderá chamar-se:
-Algum
-Arame
-Arjã (do fr. argent) *
-Brasas
-Cacau
-Carcanhol
-Caroço
-Cheta
-Cobres
-Conques
-Grana
-Granel
-Graveto
-Guita
-Guito *
-Lecas
-Massa
-Maçaroca
-Merda (#)
-Milho
-Miudos **
-Mocas
-Moeda **
-Monim (do ing. money)
-Niquel **
-Nota
-Nota preta (muito)
-Ouro
-Oirios (de euros)
-Painço
-Papel
-Pasta
-Pastel
-Pastora
-Pilim
-Prata
-Taco
-Tintol (##)
-Tosta
-Trocados
-Tusto
Obs.:
(#) Merda, pode valer uma coisa e o seu contrário. Assim “ele ganha massa como merda” não é precisamente o mesmo que “ele ganha uma merda de ordenado”.
(##) Também dizer “ele tem uma pipa de tintol”, não quer dizer que ele tenha uma pipa de vinho tinto. Pode até nem ter vinha o que só lhe será vantajoso…ou não, sei eu lá bem…
Cá fico a aguardar contribuições.
E as contribuições chegaram (e ficam aqui registadas com os agradecimentos do Carapau)
* de MF
** de Tretoso Mor
PERGUNTA: - (Marijedé, Lisboa Marl,30): - Eu sou aquela de quem a Micas disse a semana passada que lhe andava a desviar o Toni. É uma parvoíce de quem não tem competência para o agarrar. Eu não estou interessada num homem que no fundo não consegue manter a ordem lá em casa.
Mas não é isto que me traz aqui. O meu caso é o seguinte: eu ando meia maluca por um tipo que negoceia em peixe e marisco, em grande, aqui no mercado, chamado Manel do Cachucho porque ele usa um cachucho de todo o tamanho num dedo da mão direita. Eu bem vejo ele a olhar para mim com olhos de cherne mal morto quando passa aqui pela bancada. Eu aguento o olhar e sorrio, ele até já chegou a piscar-me o olho; mas a verdade é que não passa disto. Que devo fazer? Devo-o atacar assim meio à bruta ou esperar que ele tome a iniciativa? Estou a ver que ele nem ata nem desata. Fico à espera dum conselho e quero dizer-lhe que, quando passar por aqui, me venha visitar que eu arranjo-lhe umas navalheiras fresquinhas, à maneira, porque já percebi que gosta deste petisco. Talvez tanto como eu gosto do Manel só que o Carapau ainda vai arranjando umas navalheiras e eu só vejo o cachucho ao longe.
RESPOSTA: - Obrigado por essa oferta das navalheiras e não duvide que quando um dia passar por aí não me vou esquecer de a procurar. Talvez então possamos falar um pouco mais sobre o seu problema se, até lá, ele não estiver já resolvido.
Vamos ao assunto. É preciso saber se não há nenhuma corvina na vida do Manel do Cachucho. Se ele faz olhinhos e não ata nem desata convém saber isso.
E depois, caso haja a tal corvina do alto ou mesmo uma pescadita, falta saber se ele está interessado na troca ou se a Marijedé está interessada em entrar numa guerra. Depois será que o cachucho é verdadeiro (ourinho legitimo e pedrinhas) ou uma imitação comprada na loja dos trezentos? Há por aí muita gente “encachuchada” e vai-se a ver é só conversa. Só a vista não nos garante nada. É preciso ter o cachucho na mão para o analisar e pelos vistos ainda não chegaram a esse ponto. Eu aconselhava--a a chamá-lo um dia aí à sua bancada e mostrar-lhe como o seu peixe é fresco. Diga-lhe que lhe pode cheirar a guelra à vontade que tudo o que se vê é de boa qualidade. Talvez assim, mais perto, consiga aperceber-se de mais alguma coisa sobre o cachucho.
Porque minha amiga, se ele não for verdadeiro, não vale a pena perder tempo com esse freguês. Digo mesmo que qualquer Jaquinzinho modesto mas com tudo em “su sitio”, vale bem um cachucho falso. E não devem faltar Jaquinzinhos…
Vá dando notícias até que eu passe por aí…
Pergunta – (de Tó Tarado – Tortozendo) : Continuamos sem saber nada da tua prima. Muita conversa, muitas promessas de apresentações, muito blá blá, mas a priminha ao vivo e a cores, nada. Vê se ganhas juízo nesse focinho (ou nas escamas, ou nas barbatanas ou seja lá onde for) e, ou deixas de falar nela ou então apresenta-a cá à malta. Tenho a impressão que andas a gozar com a malta, mas olha que talvez te saia o tiro pela culatra. Quem te avisa teu amigo é…
Resposta – Amigo Tarado (“amigo” é uma maneira de dizer) vá lá ameaçar a sua prima, se a tiver, que isto aqui é um lugar sério. Só lhe respondo para não julgar que lhe tenho medo. Espero que nunca lhe tenha passado pela mona (será lisa?) que eu algum dia ia apresentar a minha querida prima a um energúmeno como você. Coma uns tremoços que essas manias passam. E, se não gostar de tremoços, vá à fava.
Nota: - Não está nos hábitos do Carapau responder deste modo a alguém. Mas há tipos que só entendem este tipo de linguagem, e esta resposta serve também para umas centenas de tarados que se me tem dirigido mais ou menos nos mesmos termos. Futuramente, consultas do mesmo género, deixarão de ser respondidas. Isto é um consultório sério e a minha prima também. Bem… pelo consultório, respondo eu…