Tinha nascido no lado errado da vida. Ela que sempre sonhara andar na crista das ondas, limitava-se a ter de andar ao rés da areia, muitas vezes mesmo, abaixo dela. Para se defender é certo, mas também porque assim lho impunha a sua condição económica. E um azar nunca vem só. Para piorar a situação ainda lhe tinha acontecido em pequena aquele acidente, de que resultava só ver dum lado. A única coisa que ganhou, fraco ganho afinal, foi o sobrenome. Zarolha ia ficar, e duplamente, para o resto da vida. Continuava sempre a sonhar. Não havia revistas cor de rosa que não lê-se, festas a que não ambicionasse ir, sapatinhos de cristal que um dia lhe servissem na medida certa, príncipes encantados que a viriam tirar daquela vida rasteira, médicos que a não quisessem operar e restituir a visão dupla.
Até que um dia…
Correu depressa a noticia. Apreciados Linguados e Distintos Pregados foram dos primeiros a saber. Os Búzios gritaram ao mundo a noticia, ampliando-a. E não houve peixe careta que a não viesse a saber. E foram festas intermináveis, entrevistas sem fim onde o papelinho premiado era sempre exibido, pretendentes em fila. Até lá dos confins do mundo o Esturjão Fidalgo (arruinado certamente) lhe mandou uma caixa de caviar (jóias de família) e se ofereceu para lhe prestar todas as assessorias que o novo estatuto certamente requeria.
Saíra o Euromilhões à Solha Zarolha, que a partir daí começou a ser conhecida pela Solha Simpática… E foram dias e noites loucas, festejos contínuos… V. Exa. para cá, Vossa Senhoria para lá. “V. Exa. dê as suas ordens”, “ficamos ao dispor de V. Exa.”, “o nosso Banco será o que melhor servirá V. Exa.”, “a nossa clínica está ao inteiro dispor de V. Senhoria para resolver o vosso problema de visão”, “será uma honra contar com V. Senhoria entre os nossos clientes”, “estamos inteiramente ao dispor de V. Exa. para tratar de toda a parte jurídica de que irá certamente necessitar nos seus investimentos, somos uma sociedade de advogados especializada e bem relacionada no meio”, e aí por diante foi um nunca mais acabar de pessoas, instituições e afins a porem-se ao dispor de Sua Exa.
Não faltando também os que pediam directamente auxilio sem dar nada em troca. Instituições de benemerência aos centos (incluindo aquelas que lhe bateram com a porta na cara aquando do acidente de que resultou a sua zarolhice) e casos individuais aos milhares, incluindo os que sempre a tinham gozado.
A Solha Simpática, mas ainda zarolha, a todos fez ouvidos de mercador. Frequentava as festas, dançava com príncipes e plebeus, a todos insinuava a grande simpatia que por eles tinha, bebia champanhe e petiscava o caviar, causava ciúmes, dava entrevistas, aparecia em todos os noticiários. Até o Unicórnio entra na dança, ele que afinal nem existe mas que deu jeito meter nesta história só para simbolizar a dor de corno de muito bicho…
Quem conhecesse melhor a Solha, se nesses dias estivesse mais atento, notaria no entanto, que no meio de toda aquela alegria e agitação pairava uma sombra de tristeza no seu olhar. Mas quem é que estava interessado nesses pormenores? Ninguém.
Por isso todos ficaram espantados quando uns dias depois alguém gritou que a Solha Zarolha se havia pendurado no primeiro anzol que apanhou pela frente. Uma vez mais os Búzios voltaram a gritar a notícia ao mundo.
Ninguém entendeu. Só o Safio Psicólogo é que explicou sucintamente que a Solha não aguentou a pressão. Ninguém lhe prestou atenção.
Como todos sabiam que a Solha Zarolha (outra vez Zarolha, desapareceu o Simpática) não tinha herdeiros, logo começaram a vasculhar as areias à procura do já famoso papelinho que daria direito a receber os milhões a quem se apresentasse com ele. Não ficou centímetro quadrado por vasculhar. Amêijoas, Cadelinhas e outra bicharada foram removidas para tudo ser inspeccionado. E o papel sem aparecer. Até que um distraído goraz de olho arregalado o viu encaixilhado num rochedo bem à vista de todos mas onde a ninguém passou pela cabeça procurar. E estava acompanhado por uma carta onde a Solha Zarolha explicava tudo. Que só pretendera brincar, que as coisas fugiram ao seu controle e que tinha aproveitado para viver uns dias como sempre sonhara. O bilhete era falso, porque os números estavam certos mas eram da semana anterior. Ela limitara-se a preencher uma aposta na semana seguinte com os números premiados da semana anterior para se divertir com a vizinhança e a verdade é que ninguém reparara nesse “pormenor”. Assim sendo deixava ali o papelinho para ninguém se esquecer. E terminava com um adeus a todos.
Os insultos, os gritos, as pragas, também as risadas de alguns e o torcer de orelhas de outros, já não fazem parte desta história, mas pela intensidade e duração, ficarão para a História.
Os meios de comunicação social (que, convém explicar, são os meios de que se serve a minha vizinha para me pedir um raminho de salsa e também os meios de que se servem os Carapaus para saber a cotação das navalheiras e das amêijoas), os meios de comunicação social, dizia eu, noticiaram há pouco tempo que o Bill Gates, que é o dono da Microsoft, tinha descido do 1º lugar para o 3º na lista dos tipos mais ricos do mundo e dos arredores, que é como quem diz, incluindo tudo até os cardumes dos carapaus. Ora o Bill (Bill Gatos como é conhecido por aqui) e o CarapauCarapau são unha com carne há muito tempo, sendo o Carapau a unha e o Bill a carne ainda que a atirar pró seco. Tão amigos são, que o Bill Gatos até ofereceu ao Carapau um teclado em 2ª mão e a autorização para ele usar o Windows. “Oferecer”, quer dizer na língua de Gatos, “dar” em troca de “uns trocos”. Aconteceu ele passar por aqui perto e bater à porta da caverna do Carapau para saber novidades, dado que não se viam há uns tempos. Do encontro resultou uma troca de impressões que certamente impressionará muito boa gente e não só…
Aí vai a conversa informal entre o Bill Gatos e o Carapau que já foi de corrida. Quando o Bill apareceu o Carapau preparava-se para um petisco, de modo que o Bill sentou-se logo e entraram a atacar umas navalheiras e a beber umas loiras. Em boa verdade o Carapau bebeu morenas que se obtém, como sabem, traçando uma imperial loira com um fino preto. No fim do encontro o Bill ofereceu ao Carapau uma ardósia e um pau de giz (tudo último modelo) e, por sua vez, o Carapau ofereceu-lhe a receita duma caldeirada de bacalhau, que já vinha do tempo em que os Carapaus iam à pesca do cujo.
Vamos então à conversa.
Bill Gatos: - Pode-se entrar?
CarapauCarapau: - Claro. Entra Bill, tás porreiro?
BG: - Eu tou fixe e tu?
CC: - Como vês, em forma.
BG: - Tás mais magro, pá.
CC: - Estamos, estamos ó caixa de óculos. Ouvi dizer que andas com falta de guita? Cuidado não cortes na alimentação…
BG: - Ainda te lembras?
CC: - Não foi assim há tanto tempo…
BG: - A última vez que estivemos os dois foi há seis meses nas Berlengas.
CC: - Pois foi cá uma farra daquelas…
BG: - É verdade! Comemos um coelho à caçador… à maneira.
CC: - São boas estas navalheiras…
BG: - Eh pá já não petiscava uma coisa destas desde que lancei o Windows.
CC: - Ena pá, tanto tempo! Então aproveita e rega isso bem com essa loira.
BG: - Qual loira?
CC: - Essa que está aí à tua frente.
BG: - À minha frente estás tu.
CC: - Continuas o mesmo brincalhão do caraças.
BG: - É pá se a gente não levar isto a brincar é uma chatice.
CC: - Esse teu negócio com as Janelas tem sido uma mina.
BG: - Não tem sido mau de todo. Sabes que o facto de todas as casas terem janelas foi cá uma jogada de mestre.
CC: - E não te vais meter também no negócio das portas?
BG: - Não sei. O futuro a Deus pertence.
CC: - Não queres comer esta? Olha que é pesadinha…
BG: - Tou a comer de mais..
CC: - Ah! Ah! Isso já não é de agora…
BG: - Continuas o mesmo brincalhão. Agora reparo: tens aqui um casinhoto porreiro.
CC: - Gostavas de ter um assim, não?
BG: - Aquilo ali é comandado automaticamente?
CC: - Sim, é um pc que comanda aquela zona.
BG: - Que tipo de pc?
CC: - Tipo Peixe Cachucho.
BG: - Esse tipo trabalha para ti?
CC: - Se chamas àquilo trabalho…coça-se por aí.
BG: - O gajo já está um bocado desactualizado, não?
CC: - Parece-te. Fez uns cursos, reciclou-se, e agora diz que quer chegar a goraz.
BG: - E tu? Quando é que me vais visitar?
CC: - Lá mais para a primavera. Ando aí de volta dum software que quero aperfeiçoar…
BG: - Ai sim? Sobre que?
CC: - Não me vais roubar a ideia?
BG: - Eh pá! Somos amigos ou quê?
CC: - Olha é um método para apanhar navalheiras no momento próprio e fazer logo a triagem na altura da apanha.
BG: - Grande golpada pá. Tu tás sempre à frente da malta. Como é que consegues isso?
CC: - Muito exercício pá. Corro que nem um maluco à frente dos arrastões como já te disse.
BG: - Olha! Acabaram-se as navalheiras. Foi cá uma barrigada…
CC: - Queres umas amêijoas prá sossega?
BG: - Tás maluco?
CC: - Tou. E tu?
BG: - Para lá caminho…
O Carapau dá exemplos de mais algumas inquietações que sempre o preocuparam…
*Se pela boca morre o peixe por onde morrerá a sereia?
*O peixe-galo canta de poleiro?
*O peixe-martelo dá as suas marteladas?
*A pescada do alto mora em arranha-céus?
*Boga a boga enche a perca o pargo?
*Se a chaputa vai à luta, a marmota vai à lota?
*Uma chaputa fina pode comer o Carapau?
*O bacalhau com todos é uma orgia porque já perdeu a cabeça?
*É por já não ter cara nem língua que o bacalhau é o fiel amigo?
*Um choco com tinta pode pintar a manta?
*Uma manta pode aquecer um Carapau com frio?
*Pode dar raia se um xarroco se enrolar numa manta?
*Debaixo de uma manta pode uma faneca dormir uma soneca?
*De um linguado maluco pode ficar-se san…tola?
*Se um tamboril ficar pregado numa solha isso pode dar linguado?
*Se um malacueco der uma solha a um besugo, este pode responder com uma lagosta?
*Um carapau está à bica de ser chicharro?
*O polvo cozido jamais será comido?
*O peixe-espada pode dar morte macaca a um goraz?
*Um mexilhão pode estar quieto?
*Um tu…barão pode chegar a visconde?
*Quem der uma solha pode levar com o cavalo-marinho?
E agora para sair um pouco dos peixes e afins, mas não completamente, mais umas dúvidas:
*A fêmea do homem-rã é a mulher-sapo?
*Por que razão um homem põe de lado certas pernas e se agarra às da sapateira e da santola? Será porque a galinha da vizinha é melhor que a minha?
*Pode dizer-se que uma mulher é consorte quando o marido tem azar?
Ficam aqui estas interrogações e um desafio a quem quiser responder-lhes, a todas ou só a algumas. O Carapau agradece e oferece um bilhete para o Oceanário às melhores respostas… E, bem conversado, pode ter direito a navalheiras.
Consultório
(sentimental, astrológico e não só)
Nota de abertura: - Carapau de Corrida abre hoje este consultório, que pretende ser uma porta aberta para todos os que tem problemas e dificuldades em os resolver. Uma vasta equipa de assessores vai permitir ao Carapau responder a qualquer tipo de questões. Entre os assessores estão a minha Prima, uma ou duas Navalheiras, a Santola e a Pescadinha Marmota, já com o rabo na boca e tudo. Também o Xarroco vai mandar umas bocas…
Fica desde já entendido que aqui só não resolvemos problemas financeiros, mas mesmo nesse campo podemos dar palpites (para a lotaria, totoloto e euromilhões).
Pergunta (de Iva 17, Lamego) : Tomo a pílula todos os dias e não me acontece nada. A minha vida é um completo deserto… Que fazer para poder sair desta situação?
Resposta: Há um desfasamento qualquer na tua vida e tens de verificar isso. Em primeiro lugar já não há Iva à taxa de 17% e portanto isso pode vir a causar-te dissabores. Depois se deixares de tomar a pílula vais ver como te começa a acontecer tudo. Até mais do que esperas. Dou-te o meu próprio exemplo. Todos os dias tomo a minha pastilha e acontece-me tudo…
Agora até me acontece isto do blog…
Quando não tomava a pastilha também não me acontecia nada. Contigo dá-se o contrário porque estás com a taxa errada.
Quanto à tua vida ser um deserto, aconselho-te a contactar a organização do ex- Paris-Dakar, (actualmente ex- Lisboa-Dakar). Talvez eles te aproveitem para umas provas classificativas. Parece que andam à procura de desertos…
Pergunta (de Pipi das Meias Altas, 35 de O. Azeméis): Olá Carapau! Gosto muito de ti e até sonho contigo. Mas uma noite destas tive um pesadelo. Vi-te de escabeche, valha-me S. Judas Tadeu…
Mas estou aqui para ver se me resolves um problema grave: as meias já não me servem. Que posso eu fazer? Ando muito angustiada, etc, etc…
Resposta: Olá Pipi! Há muito tempo que não tinha notícias tuas. Deves estar uma linda mulher. Um dia destes…
Respondendo à tua questão e esperando que a mesma te satisfaça inteiramente: faz das tuas meias uns soquetes e usa-os na primavera-verão. Deste modo na primavera todos verão as tuas belas pernas. Se também forem pequenas nos pés, corta--lhes as pontas (das meias ou dos pés fica à tua escolha).
Aviso: - Qualquer questão que pretenda ver aqui respondida pode ser deixada nos comentários. Na 1ª oportunidade o Carapau debruçar-se-á sobre ela e responderá no Consultório seguinte.
Entrevista concedida pelo Carapau ao jornal “A Trombeta”
Jornalista: - Desde já os meus agradecimentos por se dispor a conceder mais uma entrevista ao nosso jornal.
Carapau: - O vosso jornal merece. Não me poderei esquecer a ajuda que deram à minha Prima, e que lhe permite ser o que é hoje.
J: - Só lhe demos umas trombetadas para ajudar que ela merece. Merece mesmo muito mais…
C: - Lá isso é verdade mas ela também não se esqueceu e escuta-vos muito.
J: - Pois é exactamente a propósito das escutas que gostávamos de saber a opinião do Carapau, nesta entrevista.
C: - Pois não. Hoje escuta-se muita coisa. Desde logo em casa. Deve-se isso sobretudo ao deficiente isolamento acústico das construções.
J: - Sim, sem dúvida; mas eu referia-me a outro tipo de escutas.
C: - Já lá vou. Tenha calma homem. Deixe-me explanar o meu ponto de vista e não interrompa a linha do meu pensamento. Tem graça, esta da linha, porque ela entronca exactamente onde o senhor quer que eu chegue. Nas escutas há muitas vezes a interrupção da linha…
J: - Ora aí está. Era exactamente a essas escutas…
C: - Continuando o meu raciocínio. As construções têm mau isolamento. Ainda esta noite, aqui na minha caverna, ouvi e portanto tomei conhecimento, que a minha vizinha esteve doente, tantos os gemidos que lhe ouvi. Só muito de madrugada acalmou depois de o companheiro lhe ter dado certamente muitos remédios, porque eu percebia entre os gemidos, ela a pedir mais e mais. Enfim, suponho que hoje já está melhor porque a vi sair com um sorriso de barbatana a barbatana.
J: - Mas esse caso…
C: - Este caso é como muitos outros, diz muito bem. Mas há outros casos mais graves. Aqueles em que não remédio em casa… É um assunto que os governos deviam tomar em consideração. Que em cada casa não faltasse remédio para quem dele precisa.
J: - Desculpe, mas está a afastar-se…
C: - Eu a afastar-me? Ainda não sai daqui. Outro ponto importante está no facto de as pessoas falarem muito alto. Veja por exemplo este caso: aqui nesta humilde caverna, quando o vento está de feição e há jogo de futebol lá para os lados do Estádio Luminoso ou lá como se chama, ou consigo saber de quem é filho o homem do apito, só porque a assistência o grita alto e bom som. Portanto eu escuto, e a vizinhança também. Aqui está mais um caso em que se não podem evitar as escutas.
J: - Mas em relação…
C: - É isso mesmo que eu ia a dizer. Em relação à Corvina. Ela fala alto e bom som para quem quer ouvir. Ainda ontem, para não irmos mais longe, gritou para um Safio que por aí passou que, ainda um dia, se o apanhasse a jeito, até lhe chupava as guelras. Ora toda a gente ficou a saber…
J: - E o segredo de justiça…
C: - Claro que até o segredo de justiça… Desculpe quem é esse agora? Não o conheço por aqui. É algum vizinho novo? Não me diga que também anda atrás da Corvina…essa fulana não deixa passar nada que não abocanhe.
J: - É mesmo isso. Tem sido muito abocanhado o …
C: - Quem eu? Abocanhado? O senhor está maluco. Ela já quis já, mas sou eu quem marca o território…
J: - Não era disso que eu falava. Queria referir-me à maneira como o segredo de justiça tem sido maltratado.
C: - Ah sim! Essa fulana trata todos mal. Então agora foi o segredo de justiça a vítima? A Corvina é levada da breca. Olhe que eu sei de fonte segura (umas coisas que andei a escutar…) que ela nunca teve nada com a Pescada que é muito pacata, mas mesmo assim arrota para aí postas da dita. Ora como se pode arrotar a uma coisa que nunca se comeu?
J: - Portanto quer dizer que…
C: - Pois quero. Quero e digo. Não muito alto para não ser escutado, mas aqui baixinho entre nós, eu às vezes também tenho os meus arrotos. Eu sei que não é bonito, mas acontece. Arroto a navalheiras, mas isso compreende-se…
J: - Claro. O Carapau continua sempre…
C: - Sempre não digo, mas quando posso e tenho um tempinho livre…
J. – Fico-lhe muito grato pelo tempo que nos dispensou e pelos pontos de vista que nos explanou a propósito do tão candente problema das escutas…
C: - Mas olhe que eu não explanei nada. Não sou desses… Limitei-me a escutá-lo e olhe que não escutei grande coisa…
J: - Sempre a brincar o Carapau...
C: - Acha que eu brincava consigo? Está enganado. Só brinco com Navalheiras e não é com todas…
J: - Isso escuta a gente em qualquer canto…
C: - Nos cantos em geral cochicha-se o que não dá muito para escutar.
J: - Até nós lá no jornal já escutamos os êxitos da sua Prima.
C: - Ai sim? Ela também é das que fala alto?
J: - A fama dela ouve-se por todo o lado…
C: - Então chegue-se aqui a este canto e diga-me baixinho o que se diz dela. Para não sermos escutados…
Carapaus de escabeche
(Aviso importante: esta receita só pode ser executada por quem tenha frito carapaus ontem e os tenha guardado para hoje).
Corte umas cebolas ás rodelas e deixe-as estalar numa frigideira com um pouco de azeite e uns dentes de alho a gosto. Junte uma folha de louro de preferência retirada duma coroa de louros com que tenha sido homenageado um atleta olímpico. Se não conseguir um tal louro, pode não o usar.
Junte vinagre abundantemente e despeje esta mistela sobre os carapaus fritos que estão desde ontem muito alinhadinhos numa travessa funda, de modo que os carapaus fiquem afogados. (informa-se quem ainda não saiba que esta mexerufada é a única que consegue afogar carapaus).
Sirva como quiser, passado um certo tempo, ou atire fora.
Peixinhos da horta
Compre uma quantidade considerável de carapaus, de preferência pequenos, aproveitando a altura em que estejam mais baratos. Se não souber qual é a melhor altura, isso prova que não tem competência para fazer este prato.
Espalhe esses carapaus no quintal na zona onde vai mais tarde semear feijões.
Lá para Abril ou Maio semeie os feijões e espere que nasçam e cresçam e estejam em condições de serem cozinhados. Convém apanhá-los tenros para eles não fugirem.
Depois é cozinhá-los da maneira tradicional para fazer peixinhos da horta.
Como vê é um prato demorado, mas também não estamos aqui com pressas não é verdade?
Claro que os peixinhos da horta obtidos com esta receita não têm nada a ver, em termos de paladar, com o que se está habituado a comer. Aqui o feijão verde apanha o espírito do carapau e os peixinhos da horta passam a incorporar o verdadeiro espírito do peixe.
Nota: se não tiver quintal não pode usar esta receita.