Domingo, 1 de Fevereiro de 2009

Consultório (6)

 

 

Pergunta – (De Micas, 38, MARL - Lisboa): - Desculpa vir incomodar-te pela segunda vez, mas foste tão eficiente a resolver o meu problema, que nem hesitei em voltar a bater à porta do teu consultório. Eu até diria que foste eficiente demais, pois a verdade é que o Toni nunca mais me largou e, de tal maneira, que agora já nem o consigo aturar. O caso é o seguinte: ele voltou como um cachorrinho, deixou os biscates, mas também deixou de trabalhar e agora sou eu que tenho de o aturar e sustentar. E a verdade é que não aguento mais. Para tentar ganhar mais algum, para ver se chega para tudo (até para o tabaco dele), tenho de começar a trabalhar às 4 da manhã a descarregar e a carregar as caixas de peixe dos camiões frigoríficos, lá no mercado, e às 7 horas já tenho de tratar do meu negócio, na minha banca de peixe. E quando ao fim da tarde chego a casa, o Toni não me dá descanso, o raio do homem não sei se tomou alguma dessas modernices, se foi a receita que me deste que foi forte demais. Sei que já não o aguento.

Portanto já percebeste o que eu quero agora: que o Toni nunca mais me possa ver, me desampare a loja e vá para o diabo que o carregue. Bem…também escusa de ser assim tão forte. Lá que ele apareça por aqui uma vez por semana (e que eu não tenha de o sustentar) já não era mau.

Vejam lá, tu e o santo, o que podem fazer, na certeza porém de que podes contar com a minha amizade eterna (e umas navalheiras, pelo menos nas alturas das festas…) no caso de me resolveres este problema.

Fico a aguardar a tua resposta.

 

Resposta: - Se tenho o consultório aberto é para atender toda a gente que se me dirige, mas deixa-me dizer-te que não é normal ser consultado mais de uma vez por cada pessoa, pois em geral, os conselhos aqui dados são tiro e queda.

O teu caso presente não é fácil de resolver e implica alguns riscos. Isto aprendi eu com o São Cipriano, quando lhe pus o teu problema. Ele explicou-me que não pode desfazer o que fez anteriormente. Não que seja impossível, mas porque lhe é deontologicamente vedado fazê-lo. Disse mais: que devias ter pensado muito bem antes de ter metido nesse problema. E depois de mais umas explicações, foi-se embora e disse que, para ele, era assunto encerrado.

Eu fiquei um bocado aborrecido, insisti, fiz-lhe ver que eras uma boa cliente e que no futuro talvez voltasses com outros problemas, que pagavas bem (claro que também não me esqueço das prometidas navalheiras) e mais patati, patatá, mas o raio do santo (este raio é inofensivo, é claro) não me deu ouvidos.

“Que fazer então?” – deves tu estar a perguntar aos teus botões.

Vou-te dizer um segredo. O São Cipriano tem muitas receitas para juntar pessoas, mas só tem uma para separá-las. Aconteceu que, depois da minha conversa com ele, em que se negou a satisfazer o teu pedido, ele saiu daqui desabridamente e esqueceu-se do canhenho onde tem as receitas. Agora até estou convencido que este esquecimento foi propositado, e foi uma maneira de contornar os tais problemas de ordem deontológica. Até os santos tem destas fraquezas…

Portanto copiei a receita no essencial e aqui ta mando. Mas toma atenção: o Toni desaparece-te para sempre da vista e nem visitas semanais nem encontros casuais se voltarão a dar. “Jamé”, como diria um outro grande vulto da “feitiçaria”, que não acerta uma…

Antes de aplicares a receita pensa duas vezes, porque o que agora te acontece com o Toni pode voltar a acontecer mais tarde com o Zézé e depois com o Quiqui, porque isto é tudo farinha do mesmo saco. Mesmo sem o pedires dou-te outro conselho. No caso de ires para a frente com a receita, faz como a minha prima que também andava desgostosa com os namorados e arranjou agora um que vibra e diz ela que não quer outra coisa. Pelo menos não fuma…

Bom proveito e não te esqueças das navalheiras. Manda também qualquer coisa para o santo (por meu intermédio é claro para ele não desconfiar...), afinal sem ele terias de continuar a pagar o tabaco ao Toni e a levantares-te às 4 da madrugada, como naquela canção do passarinho.

 

Receita para as mulheres se livrarem dos homens quando estiverem aborrecidas de os aturar:

“Em primeiro lugar faz-se desmazelada no seu corpo, não se penteando nem lavando, nem tomando o mínimo interesse carnal quando ele a desafiar para actos vulgares. Logo que faça isto, deita 12 ovos de formigas e 2 malaguetas dentro de uma cebola alvarrã furada e põe-a dentro de uma panela de barro bem calafetada sobre o lume. Deita-se a mulher e logo que o indivíduo esteja a dormir vai destapar a boca da panela, e, voltando à cama, passa o braço direito pelo peito do homem, dizendo estas palavras com o pensamento:

”Em nome do príncipe dos infernos, a quem faço testamento da alma, te esconjuro, com cebola alvarrã, malagueta e ovos de formigas, para que ponhas o vulgo bem longe de mim porque me aborreces tanto como a cruz aborrece ao anjo das trevas”.

 

Explicações finais:

O “indivíduo” e o “vulgo” de que fala a receita são uma e a mesma pessoa: o Toni.

E tens de aprender a “falar com o pensamento”, senão bau bau cotovia, nada feito.

E para fazeres testamento da alma não precisas de ir ao notário.

 

publicado por Carapaucarapau às 14:13
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De Tretoso_Mor a 1 de Fevereiro de 2009 às 20:26
Carapau Carapau,

Não te conhecia esses dotes macumbeiros!

Em todo o caso, o engraçado é as damas parecem verdadeiras enguias!...

Pagam primeiro para se livrarem do pescado, para depois pagarem para o ter de volta!

Quanto à receita da prima, parece-me eficaz, desde que haja um homem por perto. Passo a explicar. É que quando se acabarem as pilhas do aparelho, terá de ser um homem a comprá-las e a subsituí-las, caso contrário continuarão a ser acusados da infelicidade feminina!... looool

Um gandabraço.


De Carapaucarapau a 1 de Fevereiro de 2009 às 22:17
Comprar e trocar as pilhas e dar umas lições de manuseamento para tirar o maior rendimento da "máquina".
Senão estragam-na em 3 tempos... :-)
1 abraço não vibrado!


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