Na sequência do post anterior, aqui fica outro passeio “cá dentro”.
Há um alargado par de anos, andava eu por terras de Bragança a meter o nariz aqui e ali, resolvi ir a Rio de Onor. Foi a minha primeira ida a esta aldeia comunitária. Entrei pela rua principal da aldeia, que era em calçada à portuguesa, revestida com bosta de vaca, tantos eram os vestígios do “revestimento”. Nessa altura o r/chão das casas era “habitado” pelo gado vacum, como era usual, por aquela altura, na maior parte das aldeias transmontanas. Chegado ao fim da rua, parei o carro junto à ponte sobre o rio Onor e fiquei ali uns minutos a pensar se haveria de passar ou não para o outro lado. Até aquele momento não tinha visto ninguém na aldeia. Foi então que sucedeu o impensável. Na ponte, vindo “de lá” apareceu um carro (Jaguar verde com aspeto de novo) de matrícula inglesa e com um casal já de certa idade. Traziam ambos um ar espantado, que se distendeu ao avistarem-me. De mapa Michelin em punho, disseram-me que queriam ir para Bragança e perguntaram-me se “por ali” iam bem. Disse-lhes que sim, que só na travessia da aldeia o piso era mau, depois apanhavam uma boa estrada, agradeceram-me e seguiram viagem. Fiquei a congeminar o que lhes teria acontecido. De certeza vinham do lado espanhol, teriam apanhado uma estrada muito má e devem ter desesperado sem saber onde estavam metidos.
Fiquei mais uns minutos na aldeia e acabei por voltar para trás. Uns 5 km depois de sair de Rio de Onor, em pela serra de Montesinho, encontrei o meu já conhecido “Jaguar” estacionado na berma da estrada e uns metros mais afastado, o casal, ambos sentados a uma mesa “de campismo” a almoçarem. Abrandei, acenei-lhes, perguntaram-me se era servido, disse que não e segui viagem.
Fiquei com a impressão que a descompressão que devem ter sofrido quando se apanharam “sãos e salvos”, lhes deve ter provocado uma fome dos diabos.
Anos mais tarde, andava eu pela mesma zona e fui à aldeia de Guadramil, que, em linha reta, dista uns 5 ou 6 km de Rio de Onor, mas não havia nenhuma estrada a ligá-las. Foi então que à entrada da aldeia, vi uma tabuleta a apontar para um caminho de terra batida com a indicação “Rio de Onor”. Mais à frente encontrei um habitante e perguntei-lhe se “por ali” se podia ir até à outra aldeia. Disse-me que sim, mas a estrada era de terra batida e pelo meio da floresta, que nem sempre estava transitável, mas se eu fosse por ela me deveria guiar sempre por uns postes de alta tensão que dali se avistavam no cimo da serra, pois teria de passar perto deles. Como estava com um amigo (sozinho não me teria arriscado) lá meti rodas ao caminho, mas passado pouco tempo deixei de ver os tais postes que seriam a nossa referência. Entretanto havia caminhos para a esquerda e para a direita e não fazíamos a mínima ideia por onde seguir. A partir de certa altura, em todas as encruzilhadas passamos a deixar marcas nas árvores para o caso de termos de voltar para trás. Depois de várias tentativas lá conseguimos então entrar em Rio de Onor, atravessando a ponte que há na aldeia e donde, uns anos antes, vi surgir o famoso “Jaguar” verde com um casal inglês.
Nessa altura fiquei na dúvida se eles terão vindo de Espanha ou simplesmente terão feito o mesmo percurso que nesse dia fiz.
Enfim…aventuras de quem gosta de meter o nariz onde, às vezes, não é chamado…
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.