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Poucas coisas são tão inesperadas como o inesperado. Esta frase duma filosofia tão profunda, saltou-me logo à ideia quando me preparava para escrever este post.
A coisa começou assim.
Estava em casa com frio e com sono, quando achei que o melhor era passar pelas brasas com uma manta por cima. Para já veja-se o perigo: um Carapau a “passar pelas brasas” e ainda por cima embrulhado numa manta. Um perigo que obrigaria a pôr os bombeiros de prevenção, não fora o caso de, na altura, nem me ter apercebido disso.
Portanto, inclinei o espaldar da cadeira até ficar quase na horizontal (já duas vezes aqui fiz referências às minhas cadeiras, a ex e a atual), puxei a manta até às guelras e assim fiquei a olhar para o teto. O teto é branco, liso e sem nenhum motivo atrativo e desviei os olhos para o lado. E “para o lado” ficam umas tantas estantes a abarrotar de livros. Não, não se trata duma “biblioteca”, mas tão sómente duns tantos livros que fui adquirindo ao logo da vida. Perto de mim, ficam os livros técnico-profissionais, que já não desfolho há muito. Li-lhes as lombadas, recordei alguns episódios ligados a eles e “varrio-os” com o olhar. Na prateleira logo acima alguns livros de e sobre pintura e desenho. Entenda-se: sobre a técnica da pintura e do desenho, ou melhor sobre as várias técnicas. Dum tempo em que ainda me agarrei aos pincéis, mas a vontade nunca superou a falta de jeito e de técnica, mas sobretudo de imaginação.
Foi então que numa lombada “magrinha” apertada entre outras mais opulentas li um nome: Miró.
Miró? Um livro sobre o Miró aqui? Como terá vindo aqui parar? Lá se foi o descanso. Endireitei o espaldar da cadeira, arranquei o livro da estante e era mesmo sobre o Miró. Nada menos de umas 65 reproduções de obras do artista. “Querem ver que é a famosa coleção do BPN aqui escondida, para eu a vender à socapa?”. O livro deve ter sido comprado num saldo qualquer da FNAC, considerando o preço que ainda tem marcado. Não me lembrava minimamente dele.
Nesta altura lembrei-me que tinha de escrever o post semanal (tradição oblige…).
Estava feito. Contava esta aventura do Miró que me tirou o sono, apresentava 2 ou 3 reproduções do livro e estava feito o negócio. O meu “negócio” do post, é claro, que o “outro” não se sabe ainda como vai acabar, como acontece com todos os “negócios” que metem portugueses. Nem ao Miró dão descanso. Por mim, vou já entalá-lo entre os outros dois calhamaços para não se poder mexer e dar nas vistas…
Quanto aos quadros apresentados, dizem os entendidos, que são da série “Constelações”. O 1º chama-se “Mulher com Sovaco Louro Penteia o Cabelo à Luz das Estrelas” (e aqui para nós, que o Joan Miró não nos ouve, nem precisava dum título tão explicativo, pois está-se mesmo a ver o pente…). O 2º tem por título “Acordar ao Amanhecer” e, aqui sim, já era conveniente mais informação pois ficamos sem saber se é o acordar da mesma mulher ou de outra. Pelo sovaco, parece ser a mesma, mas nunca fiando…
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.