Há dias fui testemunha de uma conversa sobre o edredão. Falavam sobre a qualidade, os de penas e os outros, uns melhores outros piores, etc. etc. Isso fez-me lembrar o meu primeiro contacto com um edredão, já lá vão uns bons anos (mais corretamente uns anos bons e outros menos bons, mas não é isso que interessa para o caso).
Já agora e para que este blog preste mais um serviço público, convém dizer que edredão é um galicismo e até é bem mais chic aplicar o francês “edredon”. A palavra parece ter origem no sueco, onde se diz “eiderdun”, ou seja “penugem de êider”, sendo êider uma espécie de ganso.
Dada esta explicação, sem qual este post não acrescentava nada, vamos lá à minha história.
Como eu disse ali acima, “naquele tempo” tive de fazer uma viagem ao centro da Europa, aproveitando a boleia de um amigo e ao mesmo tempo fazendo-lhe companhia. Ele namorava uma alemã, que viveu alguns anos em Portugal e que naquela altura estava a trabalhar na Alemanha e ele ia lá para se casarem. O casório seria dali a uma ou duas semanas e ele ia uns dias antes para tratar dos pormenores. A família e os convidados iriam mais tarde. Ele convidou-me, eu não podia assistir à boda mas aproveitei a boleia para ir até à Suiça tratar dum assunto. Viagem feita num velho Wolkswagen já velhinho (membro da velha família dos “Carochas”). Peripécias durante a viagem não faltaram, mas não por culpa do carro, que se portou na linha.
Quando chegamos à Suiça, onde ficamos uma noite, cheguei à conclusão que teria de ficar 2 ou 3 dias sem programa, porque a pessoa a quem eu ia “dirigido” estava de urgência no hospital onde trabalhava. Então o meu amigo a quem dava jeito a minha companhia, desafiou-me a ir com ele até Munique, ficava lá esses 2 dias e voltava de comboio para Lausana. Dito e feito, no dia seguinte metemos o “Carocha” ao caminho. Correu tudo bem, lá chegados a noiva esperávamo-nos ansiosamente (entenda-se: o “ansiosamente” era só para o noivo…) e até já nos tinha arranjado alojamento numa casa particular (nos arredores da cidade).
E estamos chegados ao momento “M” da minha história, pois o momento “M” do meu amigo foi outro.
Eu e o noivo íamos ficar no mesmo quarto, ainda que em camas separadas. Quando me meti na cama e senti “em cima de mim” o peso pluma do edredão de plumas (e é altura de confessar a minha “qualidade” de friorento, que exigia uns 20 kg de cobertores na cama para me sentir quentinho) fiquei aterrorizado. Como me iria aguentar e passar a noite com aquele “não-peso” em cima?
Foi então que resolvi transmitir ao meu companheiro as dúvidas que me atormentavam sobre se iria aguentar a noite assim (o tempo ainda estava fresco). E acrescentei… para não se admirar se às tantas eu lhe saltasse para a cama e me agarrasse bem a ele, para aquecer.
Ele deve ter dito qualquer coisa como “tem juízo vê lá no que te metes…” e acrescentou “vais ver que daqui a pouco estás bem quente. O edredão de penas é um forno”. (Claro que ele já sabia coisas sobre o edredão. Sabia coisas sobre e sob, sendo que neste caso o “sob” era o mais importante).
Lá me encolhi a ruminar as minhas dúvidas, adormeci e acordei a meio da noite a transpirar.
Foi a partir daí que começou o meu idílio com qualquer edredão com quem já me tenha deitado.
Com este, na Alemanha, foram só duas noites. Mas lá diz o velho ditado popular “não há amor como o primeiro”.
Em conclusão: o meu amigo casou dali a dias e eu “ajuntei-me” a um edredão.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
E tu caro Lince por onde andas? Deram-te algum edredão para passares as noites, aí pelo meio do descampado? Ou já regressaste à base?