Duas palavras, as mesmas letras.
Não sou de feiras, mas nas férias frequento, quase semanalmente, uma feira lá nos meus sítios. Nunca comprei nada (a não ser às vezes uns bonés, que perco ainda mais depressa que a cabeça) mas gosto de apreciar o ambiente. Os vendedores/as que gesticulam e gritam para supostamente atraírem a freguesia e aqueles que, calados (dizem que são os melhores) aguardam calmamente que a freguesia venha ter com eles. Nesta feira/mercado há de tudo: desde passarinhos engaiolados, a ferramentas, passando pelas flores e acabando na ruidosa zona do pronto a vestir/despir, é só escolher. Num dos dias despertou-me a atenção um vendedor que berrava como um desalmado “é duas a 5 aérius, é aproveitar esta pechincha, oh freguesa veja esta maravilha”.
A “maravilha” era uma toalha de mesa tendo por motivo decorativo os desenhos e as quadras dos chamados lenços dos namorados ou lenços de Viana. Só que…
Só que esses motivos não eram bordados (com vários tipos de pontos, como manda a tradição) mas estampados numa qualquer fabriqueta, quiçá chinesa.
Havia toalhas espalhadas por toda a barraca e enquanto ele berrava eu mais ou menos disfarçadamente pus-me a copiar algumas quadras.
Às tantas ele viu-me a escrever e dirigiu-se a mim dizendo: “Oh freguês não será melhor comprar-me uma toalha que estar aí com esse trabalho? A si vendo-lhe uma por 3 aérius”.
Eu sorri e como já tinha o que queria dei meia volta e fui aos bonés.
Agora aproveitei este episódio “vacancial” para reabrir o blog, que também esteve de férias.
E, sem mais, as quadras recolhidas:
Coração por coração
Amor não troques o meu
Olha que o meu coração
Sempre foi lial ao teu
Bai carta feliz buando
Nas asas duma pombinha
Cando bires o meu amor
Dale um abraço e um veijinho
Aqui tens meu coração
E a chabe pró abrir
Num tenho mais que te dar
Nem tu mais que pedir.
Meu Manel vai pró Brasil
Eu também vou no vapor.
Guardado no coração
Daquele que é o meu amor.
Só para dar um pouco de cor deixo aqui um lenço dos verdadeiros.
Neste post, claro que o Lince não meteu o dente não fosse ele esfrangalhar-me as quadras.