(…ou histórias da História)
- Ajudas-me a estudar a minha lição de História?
- História? Julguei que era matemática.
- Hoje é História porque vou faltar à aula e a minha professora marcou-me a lição que vai dar.
- E é sobre?
- Isto aqui. A crise de 1383-1385.
- Eu ainda não tinha nascido!
- Nem eu.
- Diz aqui para escrever o que levou a essa crise.
- É só leres o texto, está lá tudo.
- Sim, mas o que escrevo?
- Tu é que sabes. Lê primeiro.
- Pois, mas…
- Olá lá, queres só escrever a resposta ou queres saber o que aconteceu?
Ela olhou para mim a saber o que gostava de responder, mas a saber também a resposta que me devia dar e como não é parva, respondeu:
- Quero saber.
Mas acrescentou logo, para não perder a oportunidade:
- Depois disto podíamos jogar um crapô…
- A ver vamos. Dá-me aquele livro que está naquela prateleira. É o mais alto de todos.
- Este?
-Sim, olha para esta página. Chama-se a isto um diagrama, também se pode chamar uma infografia. Que vês aqui?
- São os reis da 1ª dinastia.
- Muito bem. E como acaba a página?
- Com D. Fernando e D. Leonor Teles.
- Que só tiveram uma filha…
- D. Beatriz
- …que casou com D. João de Castela. Quando o D. Fernando morreu este Rei de Castela reclamou que devia ser a mulher dele, a D. Beatriz, a herdar o trono pai, isto é o trono de Portugal, pois desta maneira ele ficava também a ser o rei de Portugal e portanto deixávamos de ser um país independente. Percebes?
- Claro, isso é básico.
- Básico?
- Sim, entendi, ele ficava com os dois tronos. Mas então o que devo escrever aqui sobre a crise?
- A crise entra agora em cena.
- ?
- Houve alguns portugueses que achavam isso bem e outros que achavam mal e resistiram. Queriam que fosse rei o Mestre de Avis, que era filho de D. Pedro e duma senhora chamada D. Teresa Lourenço.
- Não, ela chama-se Inês de Castro e até está naquele convento…
- De Alcobaça. Nós já lá fomos…
- Pois fomos e comemos uns doces muito bons naquela pastelaria…
- Calma. Deixa lá os doces e voltemos à história. A Inês de Castro teve dois filhos do D. Pedro mas esses também foram mortos juntamente com ela. Esta Teresa Lourenço era uma aia e amiga da Inês de Castro.
- Ah pois eu vi a série e eles a matarem a D. Inês.
- Portanto é aqui que nasce a crise. Uma parte dos portugueses queriam que Portugal tivesse como rei o rei de Espanha e portanto perdia a independência e outros não queriam isso e queriam como rei o tal Mestre de Avis. É a isto que se chama a crise de 1383-1385.
- Pois. Então o que escrevo aqui?
- Escreves o que percebeste disto que te contei mais o que está no teu livro.
Já agora, sabes como acabou esta crise? Foi assim: o Mestre de Avis foi eleito rei, numas Cortes que se realizaram em Coimbra e o D. João de Castela invadiu Portugal com um grande exército para tomar “isto” à força.
- E tomou?
- Não e tu até sabes o que aconteceu. Foi em 14 de agosto de 1385…já te falei nisto várias vezes.
- Eu?
- Sim. Até já lá ganhaste um relógio…
- Ah! A batalha de Aljubarrota. Pois… nós fomos lá*** nas férias. Foi giro. Vou voltar lá com a escola e como já sei tudo vou responder às perguntas que costumam fazer.
- És muito esperta mas não caças ratos.
- Porque dizes sempre isso?
- Porque os ratos ainda são mais espertos que tu, ora…
- Portanto os espanhóis não ficaram com Portugal.
- Dessa vez não, mas passados uns 200 anos acabaram mesmo por ficar.
- Ah foi?
- Foi. Lá para o 3º período deves estudar isso. Mas olha aqui para esta outra infografia. Que vês nela?
- Diz aí que é a 2ª dinastia.
- Isso mesmo. E como começa?
- Com D.João I.
- E como acaba?
- Olha, acaba com três reis! É verdade?
- É. E depois deles?
- Não está mais nada.
- Pois não. O D. Sebastião morreu sem se casar, portanto sem filhos. O Cardeal D. Henrique, como não podia casar também não tinha filhos e o D. António, prior do Crato, pela mesma razão, também não. Não havendo rei nem roque, os espanhóis entraram por aqui dentro e tomaram isto. Seguiu-se a 3ª dinastia que só teve 3 reis, todos Filipes, que eram também reis de Espanha. Lá mais para o fim estudarás isto.
- Portanto foi por os nossos três últimos reis não terem filhos, que os espanhóis tomaram Portugal.
- Exatamente.
- Houve reis gays?
- Porque perguntas?
- Então se não casaram nem tiveram filhos…
- Olha ali para aquele 3º livro, a contar da esquerda. Como se chama?
- “Príncipes de Portugal” – Suas grandezas e misérias.
- E o autor quem é?
- Aquilino Ribeiro.
- Muito bem. Esse diz que de facto houve príncipes e reis que foram gays, como perguntaste.
- Bem me parecia…
- Uma pergunta: conheces mais algum livro desse escritor?
- Sim. “O romance da Raposa”. Foste tu que mo deste.
- Isso mesmo. E já o leste?
- Todo, ainda não, mas já comecei.
- Tínhamos combinado que o lias nas últimas férias grandes…
- Pois…mas não tive tempo.
- Claro. Acontece isso a muita gente. Olha, eu por exemplo, hoje também não tenho tempo para jogar o crapô…
- Isso não é justo!
- Não sei porquê! Não tenho tempo. Não é uma boa justificação?
- E então o que respondo aqui sobre os motivos que levaram à crise de 1383-1385?
- Depois desta conversa toda ainda não sabes? Olha que “isso é básico”…
*** ”lá” é o “Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota”, situado nos campos onde se desenrolou a respetiva batalha, na aldeia de S. Jorge, junto ao IC2, a uns 3 ou 4 km da vila da Batalha e que pode e deve ser visitado por quem goste destas coisas.
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.